sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

INTERMEZZO

"O campo é onde não estamos. Ali, só ali, há sombras verdadeiras e verdadeiro arvoredo."






sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

O PRÍNCIPE PERFEITO


Um profundo, um imenso desânimo, uma incompreensão e desgosto da humanidade foi sempre uma característica da sua personalidade.

Rómulo de Carvalho/António Gedeão com sua filha Cristina Carvalho, a autora desta biografia 

(...) A vida nunca me seduziu. Entre o viver e o morrer sempre preferi o morrer. Se não tivesse nascido, ninguém daria pela minha falta. É preciso ter vocação para viver e é por isso que alguns se suicidam, o que é digno de todo o respeito. Nunca pensei nisso e só em consequência e um sofrimento excessivo o faria.

Desde o dia em que Manuel Freire cantou a Pedra Filosofal (no Zip-Zip, cujo primeiro programa foi transmitido a 24 de Maio de 1969) foi talvez das músicas mais cantadas até ao dia de hoje.

Foi este poema que deu a conhecer António Gedeão (pseudónimo de Rómulo de Carvalho) aos portugueses. As pessoas sabiam de cor a letra deste poema e os seus últimos versos:

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha 
o mundo pula e avança 
como bola colorida
entre as mãos de uma criança

Li este livro com muito agrado, pois a sua leveza de escrita e a facilidade e clareza com que a autora nos dá a conhecer o poeta e o homem torna a leitura tão agradável que nem se dá por chegar ao fim deste belíssimo livro de apenas 160 páginas.


RÓMULO DE CARVALHO/ANTÓNIO GEDEÃO - Príncipe Perfeito - Eis uma pequeníssima biografia de um grande poeta, cientista e ilustre Português que se lê num ápice, escrita por quem certamente melhor o conhecia -sua filha, CRISTINA CARVALHO-. 



sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

A CIDADE DE ULISSES


Continuo, não continuo, paro aqui, desisto agora...foi esta a minha hesitação durante a leitura das primeiras trinta páginas, só que, de repente, o livro começa a transformar-se e eis que estou completamente apanhado pela descrição das personagens que foram os pais do principal protagonista da história (Paulo Vaz). O pai, major do exército, autoritário de tal modo que envenena as relações com os que com ele vivem, e que, antes de morrer, perdeu no Casino todas as suas economias. A sua mãe que se refugia na pintura e acaba num lar com Alzheimer: no verão ao fim da tarde eu levava-a até à varanda, na cadeira de rodas em que se encontrava, pois entretanto tinha sofrido um AVC. Mas ela não via a relva, as flores, os guarda-sóis abertos, as estátuas, na esplanada do Museu do Chiado, o pedaço de rio ao fundo. Por vezes sorria vagamente, apontando um pardal ou um pombo. Ou uma gaivota, mas as gaivotas voavam menos por ali. Quase nunca falava, não me reconhecia. Se lhe mostrava fotografias, revistas ou postais, olhava-os com um olhar cego, com se não visse. Quando me ia embora dizia-me adeus com a mão, uma vez ou outra, Mas quase sempre ignorava-me, como se eu fosse um pedaço de tecto ou de parede.




Gostei deste livro e aprendi!


-Portugal foi o primeiro país europeu a fazer o comércio de escravos e o último a deixar de ter colónias, no século XX. Embora fosse o primeiro a abolir a escravatura, e também foi pioneiro na abolição da pena de morte, em 1867.

-Já em 1557 Garcia de Resende apontava a falta de bons governos.

-E muito mais...

"A CIDADE DE ULISSES" foi o segundo livro de TEOLINDA GERSÃO que li, depois do excelente "PASSAGENS", e gostei deveras deste livro que, repito, nas primeiras páginas, não me prendeu mas que, daí para a frente, não mais me largou e me agarrou até à última página.




sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

CANADÁ




Dizia-me há dias o tradutor deste livro que ando a ler:
Francisco Agarez-"CANADÁ" foi um dos maiores desafios que enfrentei nos últimos anos. 
Seve-Um dos maiores desafio em que sentido? perguntei eu
FA-No sentido em que se trata de um livro com uma complexidade na caracterização das personagens e dos ambientes (também eles, aqui, personagens) e com uma quase ferocidade estilística que obrigam o tradutor a trabalhar no fio da navalha, correndo o risco de desagradar aos dois amos de que é servidor: o autor e o leitor.

Realmente a complexidade destas personagens e dos ambientes é absolutamente fascinante, entranhando-se-nos até aos ossos. 

Quando eu leio um livro e consigo ver as personagens, e eu vi a mãe dos gémeos Parsons - que mulher, que vida mais infeliz, e eu vi o pai dos gémeos, que homem mais "distraído da vida", tão diferente da mulher com quem casou e em quem parece nunca ter reparado, nem nos filhos, - então, dizia eu, quando eu vejo, ouço e cheiro, o livro entranhou-se-me, invadiu-me e ficou-me para sempre.  
E aquele diabólico "homem" Arthur Remlinger - que facínora, desta gente há cada vez mais...enfim, personagens e ambientes fascinantes, que estou a adorar.


Richard Ford - EU - Jackson - Mississippi - 1944
Li um livro que, de algum modo, tem também personagens e ambientes muito parecidos, "Domínios da noite" de William Gay.  

"CANADÁ" de Richard Ford - Grande Livro! Estou mesmo mesmo à beirinha do fim. São 431 páginas intensas.

Dell Parsons e sua irmã gémea Berner (de catorze anos) estavam longe de imaginar o quanto a sua vida se alteraria no dia em que os seus pais, desesperados, decidem assaltar um banco.

Foi talvez o melhor livro que li até agora neste ano de 2014, um pouco acima dos outros três que mais tinha gostado (O Herói Discreto de Mário Vargas Llosa, "Para onde vão os guarda chuvas" do Afonso Cruz e de "Clarabóia" de José Saramago.


                       



"CANADÁ" de Richard Ford - Brilhante        

 


sexta-feira, 28 de novembro de 2014

COLECÇÃO DE 120 TONELADAS DE LIXO



Homer e Langley Colleyr - dois irmãos que se tornaram uma lenda de Nova Iorque quando foram encontrados (em Março de 1947) soterrados debaixo de toneladas de lixo (foram recolhidas 120 toneladas) acumulado na sua mansão da Quinta Avenida (uma das ruas mais caras de Nova Iorque e do mundo). 

Langley Collier, com o advogado, 1946.jpg
Langley Collyer (de chapéu na mão) em 1946 - um ano antes de ser encontrado morto
Homer cegou por volta dos 14 anos, intuitivo e que via pelos sons e pelos cheiros (como ele dizia) e Langley (o irmão mais velho) que durante anos comprou e juntou todos os jornais, matutinos e vespertinos que diariamente eram publicados em Nova Iorque, para além de outras revistas e publicações. 

A sua intenção era publicar um jornal para sempre; o projecto de Langley consistia em cortar e arquivar notícias por categorias: invasões, guerras, homicídios em massa, acidentes de automóvel, comboio e avião, enfim, agrupar por temas tudo o que os jornais publicavam diariamente. 

Queria portanto fixar a vida americana de maneira definitiva numa só edição, aquilo a que chamava o jornal Colleyr sem data, eternamente actual, o único jornal de que qualquer pessoa necessitaria para o resto da vida. 


Para além de jornais e revistas Langley coleccionava tudo - foram encontradas máquinas de escrever, bicicletas enferrujadas, carrinhos de bebé, armas, lustres de vidro, mais de 25 mil livros, órgãos humanos conservados em frascos, banjos, violinos, dois órgãos, acordeões, relógios, catorze pianos, enfim tudo coleccionava (e sempre mais do que um exemplar), até um automóvel Ford Modelo T foi encontrado numa das salas desta mansão com quatro pisos (desmanchou-o no quintal e, peça a peça, através de cordas, transportou-o e montou-o numa das salas da mansão). 



"Homer & Langley" do escritor nova iorquino, E.L.DOCTOROW -  é o livro que ando a ler e que me está a surpreender pela intuição de Homer (cego) e pela loucura ou genialidade de Langley, que serviu na 1ª. guerra mundial, e que me estão a proporcionar uma excelente visita guiada à América do século XX e aos becos sombrios da mente humana. 

Estranhamente, o livro tem algumas lacunas, nomeadamente relatando factos que se teriam passado na época destes dois irmãos salientando, inclusive, que tais factos os teriam abalado -a morte de Martin Luther King e a  morte de Kennedy- ora estas tragédias aconteceram nos anos 60 enquanto que a morte dos dois irmãos aconteceu em 1947; efectivamente muito estranhas estas gafes num escritor credível. 

 


sexta-feira, 21 de novembro de 2014

TERENCE STAMP VS MARLON BRANDO




Terence Stamp
Já aqui referi que o melhor actor de cinema que vi até hoje foi Marlon Brando. 

Terence Stamp foi outros dos actores que me levaram  a gostar de cinema. A sua magistral interpretação no filme "O OBCECADO", de 1965, é inesquecível, antes já tinha feito outro grande filme numa adaptação de uma história de um grande livro de Herman Melville (BILLY BUDD), cuja interpretação o levou a ser indicado para Óscar. Com este filme (Billy Budd), foi consagrado nos Prémios Globos de Ouro, tendo sido considerado o melhor actor de 1962 e a revelação do ano. Namorou com estrelas famosas, dentre elas Julie Christie (a difícil) e Brigitte Bardot (nem tanto).


Terence Stamp no filme Billy Budd
Pois este grande actor, nascido em Londres, que tem actualmente 76 anos e continua em actividade, disse de Marlon Brando (que com ele filmou o Super-Homem):

Marlon Brando era um diamante raro. Tinha tudo e por isso não se levava muito a sério, nem levava a vida muito a sério. Era o tipo mais divertido que já conheci. Era um prazer estar com ele.  

Marlon Brando  1924-2004


sexta-feira, 14 de novembro de 2014

ADULTÉRIO DIGITAL

Mundo dos Vivos (O) - Ampliar Imagem

Gosto deste tipo de livro de pequenas (curtas e leves) crónicas, com quem aprendo muito e onde descubro sempre histórias interessantíssimas. Depois de ter lido "AS VIDAS DOS OUTROS" de PEDRO MEXIA, que reúne crónicas sobre mortos, estou agora a ler, do mesmo autor, "O MUNDO DOS VIVOS" que reúne crónicas sobre vivos.

Dele recolhi esta interessante e curiosa história (verídica).
Em Zenica (Bósnia) um casal em desavenças conjugais (Sana Klaric de 27 anos e Adnan Klaric, 32 anos) começam a frequentar um chat na Internet, ela com o nickname Sweetie, ele com um mais imponente "Prince of Joy"; assim se conhecem, e como acontece com frequência nestes casos, as conversas íntimas vão criando uma ligação que os leva a pensar que encontraram a sua alma gémea, e assim vão contando um ao outro os seus problemas matrimoniais. Descobrem afinidades e das palavras passam aos actos e marcam um encontro. Quando se vêem à entrada de um centro comercial, ambos com uma rosa na mão, ficam em estado de choque. Em vez de caírem nos braços um do outro, pediram ambos o divórcio, por traição do cônjuge.
Estou a gostar destas e outras histórias que este excelente jornalista (e escritor) me tem proporcionado com este e os vários livros que dele já li.
  

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

LICENCIADOS VS MERKEL


Não sei com que intenções a Srª. Merkel,  falando para empresários alemães, disse que Portugal e Espanha têm licenciados a mais. Contudo, não sei se será bem o caso já que, em 2013, 25,3% das pessoas na União Europeia têm cursos superiores (25,1% na Alemanha), enquanto a percentagem portuguesa era de 17,6%.

Penso que fomentar a ignorância sempre serviu aos poderosos para cimentarem o seu domínio sobre os mais fracos pelo que será talvez de desconfiar de determinadas estratégias, principalmente no tempo que passa em que cada vez mais as pessoas estão a perder os seus direitos e as suas vantagens no que respeita ao justo direito de querer ser recompensado pelo seu trabalho e de poder ter uma vida digna.

Quando referi que não sabia as intenções da Srª. Merkel ao fazer esta declaração é que não podemos deixar de lado que em 4.11.2012, o Ministro da Educação, Nuno Crato, assinou em Berlim um acordo para reforçar o ensino profissional (sendo a Alemanha a vender-nos a formação profissional). E eu, que trabalhei em mais do que uma empresa alemã, bem sei como actuam os alemães neste aspecto. Portanto... 

De qualquer modo, e podendo até parecer uma contradição, não posso deixar de referir que ter o canudo não é sinónimo de sapiência pois a ignorância continua (cada vez mais) a grassar por estas hostes e atrevo-me até a salientar que muitíssimos mal sabem ler e escrever (não estou a exagerar). Obviamente que nem todos  podem ser doutores e de facto é uma verdade que se estão a perder os bons técnicos (um bom mecânico, um bom carpinteiro, um bom canalizador, um bom electricista, etc etc...). 


sexta-feira, 31 de outubro de 2014

MARLON BRANDO E O CIÚME

Marlon Brando 1924-2004

O melhor actor de cinema que vi (na tela) até hoje foi MARLON BRANDO. 

Já passaram, entretanto, dez anos sobre a sua morte. 

Leio no seu livro de memórias:

-Durante quase toda a minha vida fui uma pessoa muito ciumenta, mas sempre fiz um grande esforço para o esconder. Tinha receio de que, se alguém descobrisse que eu era ciumento, ele ou ela utilizasse isto contra mim. Agora sou diferente. Cheguei à conclusão de que o ciúme é um sentimento sem sentido, destrutivo, ao qual não me posso permitir, mas não foi fácil para mim aprender a controlar as emoções de uma vida.


Marlon Brando, apesar de tudo ter tido foi um poço de solidão e que morreu na solidão mais absoluta




sábado, 25 de outubro de 2014

O ESCRITOR E O SENTIDO DE HUMOR - III



Volto ao livro que continuo a ler CRÓNICA, SAUDADE DA LITERATURA, de Manuel António Pina, já citado nos dois posts anteriores, desta vez para transcrever a crónica em que o autor cita GROUCHO MARX, comediante e actor norte-americano, o terceiro dos célebres comediantes irmãos MARX:


Groucho Marx (1890-1977)

-Aqui onde me vêem, parti do nada e consegui chegar à mais extrema miséria


  1. os Irmãos Marx (Groucho, Chico e Arpo)



terça-feira, 21 de outubro de 2014

O ESCRITOR E O SENTIDO DE HUMOR - II

Humphrey Bogart   1899-1957 - um dos grandes mitos do cinema


Na sequência da crónica anterior que publiquei sobre o livro que ando a ler, CRÓNICA, SAUDADE DA LITERATURA de Manuel António Pina, citando Humphrey Bogart (ou Bogie, como era conhecido do grande público):



Dizia Humphrey Bogart que quanto pior é a ressaca da manhã tanto melhor foi a noite


Manuel António Pina - escritor, poeta e jornalista portuense - 1943-2012

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

O ESCRITOR E O SENTIDO DE HUMOR - I


Manuel António Pina era um escritor cuja modéstia o levava a considerar as crónicas que escrevia para jornais e revistas como uma servidão diária que afirmava com humor só aceitar para alimentar a legião de gatos que tinha em casa e que, como tudo o que é jornal e como diziam os velhos tipógrafos do Jornal de Notícias, só serviriam para embrulhar peixe no dia seguinte.

Pois é precisamente o livro que foi lançado seis meses depois da sua morte e que reúne as suas melhores crónicas (publicadas na sua maioria no JN e na revista VISÃO de 1984 a 2012), que ando a ler - CRÓNICA, SAUDADE DA LITERATURA.

Ontem, sentado numa esplanada, dei por mim a rir sozinho já que o seu sentido de humor é excelente. Por exemplo, com esta desmanchei-me a rir:

-há anos convidaram-me para um debate na Antena Um, que tive de recusar, porque a coisa seria por volta das 10 da madrugada, hora a que costumo estar já deitado.



Manuel António Pina - 1943-2012

domingo, 12 de outubro de 2014

O TELEMÓVEL


A dependência do telemóvel é algo que chega a impressionar. Hoje em dia, já ninguém se imagina sem telemóvel.

São notórias algumas mudanças de comportamento quando, por qualquer razão, não é possível o uso deste: - tiques nervosos (como levar constantemente a mão ao bolso, olhar com agitação para o relógio, procurar o telemóvel sempre que, em redor, soa o toque de um), irritabilidade e depressão-.

Ontem estava sentado num café e numa outra mesa ao lado, separada por um vidro, sentou-se um jovem casal (ao que supus namorados) e durante a mais de meia hora que ali estiveram lado a lado não falaram um com o outro, nem uma palavra sequer, estiveram sempre a falar mas para o telemóvel, ignorando-se completamente um ao outro e assim continuarem quando eu saí... Vejo constantemente as pessoas a atravessarem as ruas e a olhar para o telemóvel, ignorando totalmente os veículos que possam ali circular, pessoas a andar de bicicleta e, ao mesmo tempo, a olharem para o telemóvel, é efectivamente uma dependência total que chega a impressionar quem atente bem na situação.

Ouvi e li, aqui há dias, que o medo, o autêntico pânico de ficar incontactável através do telemóvel já é considerado uma doença e até já tem nome - HOMOFOBIA -. 



Há quem o tenha constantemente, dia e noite, ligado e a sua falta poderá levar a um sentimento de tristeza, falta de apetite e aborrecimento. 

Em Portugal, há quase mais telemóveis que habitantes.




Há indivíduos que parecem dar mais importância ao telemóvel do que, por exemplo, à família e esta necessidade do uso do telemóvel (e, ao fim e ao cabo, das redes sociais) parece colmatar a fobia social de que actualmente padece a maioria das pessoas, sendo talvez resultante do medo da solidão, de não fazer parte de um grupo, é uma alienação total que parece ser o símbolo desta nova sociedade cada vez mais estúpida (e esta minha afirmação não tem a ver com velhos do Restelo) já que quem o confirmou foram estudos recentes efectuados por universidades americanas em que se provou que o Q.I. (coeficiente de inteligência) das novas gerações baixou.


Esta dependência dos telemóveis, da internet, do Facebook, do Google, parece significar que as pessoas deixaram de pensar (ó pai onde se situa a Mongólia, quem foi Leonardo da Vinci....vai ao Google, filho....), o uso das máquinas de calcular para saber quantos são 2 + 2...eu faço sempre as contas à mão por mais parcelas que tenham, poderá parecer ridículo mas obriga-me a ginasticar o cérebro (fundamental). 


quarta-feira, 8 de outubro de 2014

UMA PALAVRA ENGANOSA - O LAR


A velhice - o abandono dos velhos nos lares. Uma bela história sobre o percurso de uma vida, de uma mãe, Ana, uma mulher idosa que tivera um AVC e ficara presa a uma cadeira de rodas e que para a sua filha (Marta) a ida para um lar será a única solução, já que a mãe não quer ficar em casa das filhas e o lar, apesar de ser um negócio "brutal", será a única solução para prover às necessidades básicas da sua mãe.

Teolinda Gersão

Ali (no lar), esta mãe, ao fim de algum tempo de permanência e para poupar os filhos e a família à "obrigatoriedade" de a visitarem, e até para ter algum descanso para si, finge ter Alzheimer e finge que já não conhece as pessoas.

"Ainda havia outra coisa, ligeiramente perversa; podia escutar o que as enfermeiras e as empregadas diziam de mim, da família e das outras pessoas do lar, julgando que eu não entendia uma única palavra. Era como se eu fosse um mosquito. A minha mãe costumava dizer: Gostava de ser mosquito, para ir ouvir a conversa. De algum modo, era o que eu fazia."   

Gostei deste livro, um romance intenso sobre o percurso ao longo da vida de uma pessoa e de uma família (com os seus bons e maus momentos) o primeiro que li desta excelente (mas desconhecida do grande público) escritora portuguesa, uma agradabilíssima surpresa.


Alzheimer - a doença da alma



quinta-feira, 2 de outubro de 2014

HÁ CEM ANOS



"1914-PORTUGAL NO ANO DA GRANDE GUERRA" de Ricardo Marques, é o livro que ando actualmente a ler.
Interessante este livro de 300 páginas, relata-nos como era o dia a dia dos portugueses no ano em que a I Grande Guerra eclodiu na França; ficam a saber-se coisas que aconteciam em Portugal há cem anos (1914), por exemplo que: 

-Quase oito em cada dez pessoas não sabiam ler

-O grande nome da obstetrícia era de um médico falecido em Abril de 1910: Manuel Vicente Alfredo da Costa, nascido em Goa. O seu sonho, que não chegou a ver realizado, era a construção de uma maternidade (que só viria a ser construída em 1916)

Manuel Vicente Alfredo da Costa -1859 - 1910 - (médico e professor de medicina, pioneiro da obstetrícia em Portugal)  

-O nome de 1914, Manicómio Miguel Bombarda, era a homenagem do regime ao médico Miguel Bombarda, republicano convicto, assassinado no seu gabinete de Rilhafoles, por um doente mental no dia 03.10.1910, véspera da revolução
              Miguel Augusto Bombarda (Rio de Janeiro, 6 de Março de 1851 — Lisboa, 3 de Outubro de 1910) foi um médico, cientista, professor e político republicano
 -uma mulher de 70 anos vinda de uma aldeia da província que conseguira matar um lobo que lhe tinha mordido (veio a Lisboa ao Instituto da raiva). Ficara muito admirada quando, às refeições, lhe serviram carne e pescada, pois em toda a sua vida apenas tinha comido caldo-verde, pão de milho e toucinho (bacalhau uma vez). 
O ardina e o vendedor de capilé - 1908

-Havia em Portugal cerca de 3500 automóveis, um terço dos quais na capital




sábado, 27 de setembro de 2014

LER MAIS DE UM LIVRO AO MESMO TEMPO





Não gosto de ler mais de um livro ao mesmo tempo, mas desta vez estou a fazê-lo (o outro é "O INQUILINO" do excelente escritor espanhol Javier Cercas); é que "CARTAS A LUCÍLIO" é um calhamaço de mais de 700 páginas e é para se ir desfrutando (ainda só vou na página setenta). Com este "CARTAS A LUCÍLIO" constato, com algum espanto (ou nem tanto), que as situações de vida, o carácter dos homens e as suas atitudes não mudaram assim tanto em mais de 2.000 anos.

Os pensamentos de Séneca que, ao longo dos anos, ia lendo aqui e ali, dispersos em vários jornais e revistas sempre me chamaram a atenção e sempre me despertaram o máximo interesse e curiosidade. 

Com a leitura deste "CARTAS A LUCÍLIO", talvez a sua obra mais importante, que reflectirá, porventura, a forma mais amadurecida do seu pensamento, tomo finalmente contacto com este grande filósofo espanhol. Curiosamente sempre me convenci que Séneca era um filósofo grego do princípio da nossa era mas fiquei agora a saber que afinal era Espanhol, tendo nascido em Córdoba  em 4 a.c. (suicidou-se em Roma 65 d.c.).

Estas cartas, escritas ao seu amigo Lucílio, contêm uma série de reflexões sobre uma enorme variedade de problemas, na sua totalidade de carácter ético, reflexões que constituem uma análise de situações concretas e de apreciações de grande agudeza sobre a natureza e o comportamento humanos.
Este seu amigo Lucílio, cuja data de nascimento não estará longe da de Séneca (embora um pouco mais novo do que Séneca), tornou-se uma personagem de destaque na sociedade romana devido essencialmente à sua actividade literária.



Entretanto, vou tomando notas de pequenos pensamentos deste grande filósofo:

-Quem despreza a própria vida é absoluto senhor da tua
-Nada nos pertence, só o tempo é novo
-Quem passa a vida em viagem acontece ter muitos conhecimentos fortuitos, mas nenhum amigo verdadeiro
-Não deveremos confiar em todos nem não confiar em ninguém
-Há coisas que são tanto menos de temer quanto maior é o temor que inspiram
-Aquele que sabe viver em pequena pobreza esse, é verdadeiramente rico
-Evita tudo quanto se torna notado quer na tua pessoa quer no teu estilo de vida
-Um espírito superior é capaz de usar utensílios de barro como se fossem de prata, mas não é inferior aquele que usa os de prata como se fossem de barro