sexta-feira, 30 de março de 2012

PAIXÃO

Aqui há uma semana atrás, o árbitro de Setúbal Bruno Paixão, logo a seguir ao jogo que arbitrou (Gil Vicente-Sporting) foi aconselhado pela polícia a sair de casa devido a ameaças feitas à sua família. As ameaças terão envolvido a sua filha de sete anos. Todas as suas rotinas eram descritas ao pormenor, a localização do colégio, as horas a que entrava e saía e também os locais que frequentava habitualmente. A polícia levou em conta a descrição pormenorizada e aconselhou Bruno Paixão a sair de casa e a seguir para parte incerta.
Paranóia!
São situações em que só mentes doentias e/ou atrasados mentais poderão estar envolvidos.
Obviamente que errou, que tomou decisões que prejudicaram muito uma equipa, neste caso a equipa do meu clube, mas tal não justifica que se chegue a este ponto.
Não posso deixar de lamentar estas situações e devo até referenciar que os dirigentes do meu clube não se eximiram de mandar ainda mais achas para a fogueira quando, na minha perspectiva, em vez de atearem ainda mais o fogo tinham a obrigação senão de o apagar pelo menos de não o assoprar, claro que não digo que se devam branquear estas situações, mas se há incompetência do árbitro em questão (e houve) então serão os dirigentes da associação de que faz parte que terão de actuar.
Também me parece justo e por isso não posso deixar de salientar e louvar toda a actuação durante este processo, do treinador da equipa que foi fortemente prejudicada, nomeadamente as suas declarações após o jogo (até aquelas proferidas ainda a quente). Ricardo Sá Pinto, esteve simplesmente impecável dando uma lição de como se deve estar no desporto e na vida, sim porque por uma coisa eu tiro outra.
Efectivamente a sua actuação durante todo este desagradável imbróglio merece todos os elogios, por parte de todos os quadrantes de quem anda e de quem gosta de desporto, pois, ao contrário do que se calhar a maioria das pessoas julgava, deu uma verdadeira lição de fair-play e sobretudo de grande educação e de saber estar.
Simplesmente ao nível do grande clube que representa!

domingo, 25 de março de 2012

FUTRE

Ora aqui está mais um homem de sucesso para a galeria dos notáveis.
Já lá vão certamente mais de 20 anos, quando Futre se transferiu de Portugal (do F.C.Porto) para Espanha (para o Atlético de Madrid), deu uma entrevista a um jornal desportivo em que, fotografado ao lado do seu brilhante Porshe amarelo, confessava que o seu principal passatempo era dormir. Lembrei-me logo daquele treinador (Pedroto?) que dizia -os jogadores de futebol pensam com os pés- parece que ainda continua a ter razão!
Pois é esta mesma personagem que, de há uns tempos para cá, faz um enorme furor em Portugal e por cá jogou nos três maiores clubes e que num dia é adepto do Sporting, que começou por lhe "limpar o ranho e matar a fome", nomeadamente quando concorre às eleições e quando se põe à fala com o eterno capitão Manuel Fernandes, num outro dia é do Benfica, principalmente se este clube está em vias de se sagrar campeão e quando está à fala com o capitão Rui Costa, num outro dia será adepto do F.C.Porto, quando na melhor oportunidade estiver à conversa com o grande timoneiro Pinto da Costa, um verdadeiro yes-man e assim vai somando e, pasme-se, vendendo os seus "livros", como quem vende tremoços (o marisco preferido do seu amigo Eusébio - a Pantera Negra).
O homem do momento (Futre) está nas televisões a todo o instante, ele dá conferências de imprensa, ele faz colóquios para apaniguados, ele participa em conferências com empresários a quem dá conselhos e, finalmente, parece que vai acabar com o desemprego neste país.
Não é que a personagem não seja até simpática e não tenha até algum humor e até uma certa graça e que o programa de televisão em que será talvez a principal figura não se veja com um sorriso, (e é de nos cair a baba ao ver como todos os doutores e comentadores "interesseiros e mamões" o tratam tu cá tu lá, mas lá no íntimo certamente o gozarão como perdidos, porque nada têm a ver com a figura, ou terão?)... isto não nos poderá deixar de pôr a pensar, sinceramente.
Será este, porventura, o panorama cultural português preferido da maioria -e contra números não há argumentos-é que é mesmo!
Mas é aqui em Portugal como certamente o será noutros países porque parece que a personagem está querer "importar-se", para já para Espanha, onde certamente deverá ter um ainda melhor mercado do que em Portugal, porque lá, tal como cá, em que o Futre vende milhares de livros, poucos conhecerão certamente, já não me atrevo a dizer que leiam, Miguel Torga, Lobo Antunes, Namora, Ferreira de Castro, Agostinho da Silva, O'N'eill, etc. etc. e do lado de lá muito menos Eduardo Mendoza, Rosa Montero, Blasco Ibánez, Juan José Millás, Arturo Pérez-Reverte, Carlos Ruiz Zafón, etc. etc...daí ter também por terras de el-rei o sucesso garantido, é o que temos, mais palavras para quê?...
E dou por mim a pensar mas porque é que estou para aqui armado em intelectual, este é que é o homem de sucesso, quais Saramagos, quais Cervantes, sim porque contra factos não há argumentos e nos tempos que correm, tudo, mas tudo, se reduz a números...e as audiências aumentam, os seus livros vendem-se, os empresários rendem-se, os "doutores" bajulam-no... e eu que gosto tanto de futebol (o meu desporto favorito)...

terça-feira, 20 de março de 2012

POR ONDE E COM QUEM ANDEI EM 2011 - V

E é já nos fins de Março que me cruzo com o grande autor checoslovaco Milan Kundera (em cima) e nele sinto a sua apaixonada defesa pela arte numa era que, segundo o autor, não valoriza a arte e a beleza. Com a cativante mistura de emoções e pensamento presente nos seus romances, Kundera revisita artistas cujas obras permaneceram importantes ao longo da sua vida: reflecte sobre a pintura de Francis Bacon, a música de Leos Janacek, os filmes de Federico Fellini e os romances de Philip Roth, Fiódor Dostoievski e Gabriel García Márquez. Aproveita também para fazer justiça a Anatole France e Curzio Malaparte, que considera serem grandes escritores caídos na obscuridade.

É neste "Um Encontro" que, com Milan Kundera, se cruzam as suas reflexões pessoais e histórias de vida com os temas da memória e do esquecimento, a vivência do exílio e a defesa da arte modernista.

E em Abril, pela mão ROMAIN GARY com "UMA VIDA À SUA FRENTE, sinto o pulsar do bairro pobre de Bellevile, nos arredores de Paris, e através da narração de Mohammed, um rapaz árabe de 14 anos, órfão, que ali vive com Madame Rosa, prostituta reformada e sobrevivente de Auschwitz, sou transportado para os pequenos pormenores que, na lufa-lufa do nosso dia a dia, apesar de sabermos que as coisas acontecem, que o mundo é muito cruel, acabamos por “fingir” que não é bem assim, que tudo se vai resolvendo.

A velhice, a eutanásia, a prostituição, todas as vítimas dela, nomeadamente as crianças, são temas fortes, tratados com muito realismo, também poesia e ternura. As repetições de situações limite que nos são apresentadas, reforçam sempre os temas, tão pesados, que uma criança é capaz de vivenciar, com coragem e tanto amor. A forma como os velhos são tratados no mundo civilizado (?!), a solidariedade daquela gente que colaborava com o pequeno Momo para que surgissem algumas soluções, a teimosia da madame Rosa em não querer ir para um hospital para os cuidados continuados, e o esforço do jovem para cumprir esse seu desejo.
E assim vou passando pela vida aprendendo com quem sabe e conhecendo vidas tão dolorosas, estradas tão pedregosas que, de qualquer modo, continuo a calcorrear neste mês de Abril, a caminho de Inglaterra para mais uns tempos de vagabundagem e já tenho encontro marcado com um bem célebre vagabundo. Até lá...

sexta-feira, 16 de março de 2012

casual day

Há cerca de três/quatro anos o rumo da minha empresa virou repentinamente e, entre outras coisas, chegou também o "casual day", ou seja essa (até boa) ideia de à 6ª. feira nos livrarmos da gravata.
Contudo, esta importação da estranja de à 6ª. feira poder ser um dia mais "leve", virou uma enorme confusão e parece que, só porque é 6ª. feira, tudo passou a vir maltrapilho, de ténis todos sujos e bolorentos, calças rotas e, se possível, a cheirar mal…..

E o "dia casual" transforma-se assim no dia do desleixo, do abandalhamento, da roupa amassada, do sapato sujo e do “arrasta chinela”.
Cheguei até a confundir uma colega minha com uma peixeira do Mercado da Ribeira e um colega com um sem abrigo que (nos restantes dias da semana) pernoita debaixo das arcadas do prédio da empresa...

segunda-feira, 12 de março de 2012

MAÇONARIA - II

Já em 1796 confidenciava a Marquesa de Alorna (Leonor de Távora) a uma sua amiga:
-O Duque de Lafões, o Abade Correia da Serra, o Conde de Pombeiro (pessoas intímas da Corte da Rainha D. Maria), pertencem à Maçonaria. Já sabias?
responde-lhe a amiga:
Há coisas, Leonor, que não devem ser ditas nem perguntadas, até porque nunca serão respondidas...



(do livro de Maria Teresa Horta, "AS LUZES DE LEONOR")

quinta-feira, 8 de março de 2012

O DIA DA MULHER

Devo confessar que estes dias (da mulher/da criança/do idoso/do meio idoso/do muito idoso) me põem a pensar...
Creio até que foi uma invenção de alguém que sabendo efectivamente a força que as mulheres têm (e por isso decerto as teme) inventou este dia como que para lhes dar um rebuçado e elas, convencidas, riem-se, barafustam e reclamam, reclamam, mas apenas por uma rosa...
Não será este dia uma mentira? não será este dia uma invenção?... de quem teme e sabe a força que as mulheres têm. É que se elas sonhassem a força que têm mudavam o mundo, elas terão é de caminhar ao lado, e não atrás, dos homens para construir um mundo melhor e não deixar que esse mundo seja construído por "aqueles" que odeiam as mulheres e tanto as temem e que são, ao fim e ao cabo: os inventores do dia da mulher.
Se a mulher acordasse... Será que passaria a haver o dia do homem?

terça-feira, 6 de março de 2012

POR ONDE E COM QUEM ANDEI EM 2011 - IV

Estamos em Março de 2011 e é no enterro de sua mãe que inicio o contacto com Meursault, um homem que vive uma vida, que talvez não devesse ser contada, um homem que vive vazio de emoções, incapaz de sentir amor, saudade, ódio, medo, ou qualquer outra emoção. A sua vida vai-se desenrolando como se ele fosse um estrangeiro, não em relação a um país, mas em relação à humanidade. No fim o crime que comete (mata um árabe) não o leva ao fim da sua vida, o que leva ao seu fim é a falta de qualquer emoção aquando da morte da sua mãe.


"O ESTRANGEIRO" um livro em que ALBERT CAMUS nos mostra que tudo o que fazemos num determinado momento se reflecte durante o resto da nossa vida. Vale a pena.


Ainda em Março de 2011 regresso a meados do séc. IXX e é no Canadá que tomo contacto com a história de uma rapariga canadiana de 16 anos que, a servir numa quinta, foi acusada de ter instigado um jovem moço de estrebaria a assassinar cruelmente, a frio, o patrão e a sua governanta, de quem este era amante. Dada a pouca idade, a aparência ingénua e a beleza da ré, a história empolgou, não só a opinião pública da época, como a própria ciência médica, sobretudo a psiquiatria, o que levou a ser-lhe comutada em prisão perpétua a pena de morte a que fora inicialmente condenada, juntamente com o seu cúmplice, o qual, esse sim, acabou enforcado.


O que fico a conhecer através de "CRIMINOSA OU INOCENTE" de MARGARET ATWOOD (na foto anterior) é a posterior vida dessa contraditória mulher, ora na cadeia, ora no manicómio, ora, mais tarde, em liberdade. Começo por conhecer o retrato ingénuo de ambos os criminosos, depois a curiosa lengalenga, no estilo das que dantes os nossos cegos cantavam pelas feiras, em que se narra rimadamente o grande e horrível, crime de tão jovem matadora, instigando-a a arrepender-se dos seus crimes para salvar a alma.Dada a firmeza dos retratos psicológicos, o panorama da vida quotidiana no Canadá desses tempos e o estilo correntio com que tudo está contado, é uma obra de leitura fácil e instrutiva.Recomendo.


Março está a chegar ao fim e apresto-me para ir tomar um café com um grande escritor checoslovaco, cidadão francês desde 1981, e ouvir as suas confidências como leitor humilde e apaixonado e é ele que me explica o fascínio que ainda hoje lhe despertam, tantas (re)leituras depois, Dostoievski, Céline ou Kafka bem como outros autores do presente, mas isso fica para a próxima...

sexta-feira, 2 de março de 2012

OS ROSTOS DA CRISE...

Papademos Lucas (actual primeiro-ministro grego):
-Ex-Governador do Banco Central da Grécia entre 1994 e 2002. Falseou as contas do défice público do país com o apoio activo da Goldman Sachs, o que levou, em grande parte à actual crise no país;
Mariano Monti (actual primeiro ministro de Itália):
-Conselheiro do Goldman Sachs durante o período em que esta ajudou a esconder o défice orçamental grego;
Mário Draghi (actual Presidente do Banco Central Europeu):
-Vice presidente para a Europa do Goldman Sachs de 2002 a 2006, período durante o qual ocorreu o falseamento acima mencionado.
Goldman Sachs-é um dos maiores bancos de investimento mundial e co-responsável directo, com outras entidades (como a agência de notação financeira Moody's) pela actual crise e dos seus maiores beneficiários.Como exemplo, em 2007, a G.S. ganhou 4 biliões de dólares em transacções que resultaram directamente do actual desastre da economia dos EUA.