quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

LEITURAS 2015 - LIII (53) - "NÃO SE ENCONTRA O QUE SE PROCURA" - MIGUEL SOUSA TAVARES


Sempre vi na pessoa de Miguel Sousa Tavares, um homem coerente, de carácter e verticalidade; contudo, ultimamente já o "apanhei" nalgumas contradições, nomeadamente naquelas em que os seus interesses poderão estar em jogo, que me levam a pensar que afinal as tais qualidades que eu retinha poderão assim deixar muito a desejar...

É de MIGUEL SOUSA TAVARES o livro que acabei de ler (penso que seja o último que escreveu) "NÃO SE ENCONTRA O QUE SE PROCURA". 

É um livro biográfico, uma mistura de textos muito diferentes, num registo diário em que há de tudo pois nele se fala de viagens, de escritores (Stevenson, Hemingway, E.T.Lawrence, Hugo Pratt (Corto Maltese)), de situações que, no a dia que, a todos nós se nos deparam. 

Aqui explana as suas paixões (o prazer de fumar, o F.C.Porto, a caça, os passeios todo o terreno, os locais onde gosta de se refugiar, seja no Brasil, seja  no Alentejo, em suma, a boa vida -quem não gosta?-).




Não deixa também de abordar os seus ódios de estimação (a nouvelle cuisine -essa moda realmente grotesca-, o Facebook e demais redes sociais, as revistas cor-de-rosa, os não fumadores, ou melhor o fundamentalismo dos não fumadores, só não fala do seu anti-sportinguismo fundamentalista que semanalmente passa ao papel (quase destilando ódio) no jornal A Bola, às terças-feiras).

O registo diarístico, acompanha as estações do ano e não deixam de ser interessantes as suas reflexões pessoais sobre o dia a dia.

De MST apenas não li "Rio das Flores" e "Madrugada Suja" e este livro (mediano) parece querer confirmar (me) que MST será afinal escritor de um livro só-EQUADOR-, já que os restantes são realmente medianos, exceptuando talvez o "SUL" que é um bom livro de viagens. 
Mas é um grande jornalista

domingo, 27 de dezembro de 2015

LEITURAS 2015 - LII (52) - "CONTA CORRENTE - nova versão III" - VERGÍLIO FERREIRA


Vergílio Ferreira apenas considerava como diários verdadeiramente publicáveis os primeiros cinco volumes do conta-corrente, estes (da nova série) eram os restos esquentados, como ele dizia.

E efectivamente os volumes desta nova série (já li os dois anteriores) não me têem agradado do mesmo modo, nem chegam aos calcanhares dos primeiros cinco, parecem realmente os restos esquentados de uma comida muito saborosa.   

E este III, referente ao ano de 1991, foi o que menos me agradou. Mas penso completar brevemente a leitura de todos os volumes deste registo diarístico. Falta-me apenas ler o volume IV desta nova versão, referente ao ano de 1992. 

Vergílio Ferreira morreu em 1996 com 80 anos.    

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

LEITURAS 2015 - LI (51) - "ELOGIO DO SILÊNCIO" - MARC DE SMEDT


O silêncio pode ser uma mais valia em muitas situações, mas existem outros momentos em que o silêncio se pode revelar verdadeiramente negativo.

"ELOGIO DO SILÊNCIO" fala-nos dos estudos do silêncio, da linguagem dos olhos, da linguagem dos pássaros, dos momentos em que os silêncios são de ouro.

Não sou um grande leitor deste tipo de livros que se poderão inserir nos livros o tipo de auto-ajuda, contudo são livros que nos trazem sempre alguns ensinamentos, como afinal nos trazem todos os livros.     
Neste, por exemplo, encontrei alguns provérbios que, sobre o silêncio, se referem nos vários países:

-França - "o silêncio é de ouro"
-Alemanha - "cala-te ou diz qualquer coisa melhor que o silêncio"
-Israel - saber calar-se é mais difícil que falar bem"
-Itália - "aquele que nada sabe, sabe o suficiente se souber manter-se em silêncio"
-Roménia - "o silêncio também é uma resposta"
-Espanha- "perceber ver e calar-se, senão a vida torna-se amarga"
-Dinamarca - "aquele que quer economizar deve começar pela sua boca"
-Turquia - "a boca do sábio está no seu coração, o coração do tolo está na sua boca"
-China - "existe aquele que falou toda a sua vida e nada disse, e aquele que não chegou a abrir a boca e apesar disso nunca ficou sem nada dizer"
-Japão - "as palavras que jamais foram pronunciadas são as flos do silêncio" 


MARC DE SMEDT- editor, escritor e jornalista francês, n. em 1946

sábado, 19 de dezembro de 2015

MENSAGENS DE NATAL E DE ANO NOVO

sms substitui o velho e educado cartão enviado pelo correio
Miguel Sousa Tavares é uma personagem que ouço e leio sempre com interesse e curiosidade; nem sempre concordo com todas as suas opiniões mas algumas parecem-me muito bem expostas e analisadas. Por exemplo, no livro que dele estou actualmente a ler ("Não se encontra o que se procura") achei oportunos alguns conselhos práticos aos viciados em mensagens de Natal e Ano Novo que, nesta altura, enviam por telemóvel para tudo e para todos esquecendo que no resto do ano nem um segundo pensaram na grande maioria desses destinatários:

1-evite mandar uma mensagem igual para todos os contactos do seu telemóvel. A mensagem ou é personalizada ou não vale nada  

2-Assine sempre a mensagem. Metade das mensagens que eu recebo não sei de onde vêem pelo que não respondo porque não sei quem é; claro que o remetente fez figura de urso pois nem chega a saber se a mensagem foi recebida.

3-Quando assinar, assine só com o seu nome; não assine nunca com o nome da família toda. Mais do que foleiro é cómico receber mensagens "da família Costa", "da família Antunes". Questiono-me eu- será do António Costa? será do Lobo Antunes?

4-Resista a armar-se em escritor: "só há Natal quando verdadeiramente o sentimos na alma" , "desejo-te um ano de felicidades e de euros". Fique-se pelo clássico "Feliz Natal e Ano Novo". Pode não ser muito imaginativo, mas, pelo menos, tem a certeza de que não será gozado.

5-Não mande mensagens de paz e amor àqueles cujo destino lhe é absolutamente indiferente ou àqueles a quem deveria estar atento ao longo do ano e não esteve. O Natal não pode servir de pretexto para um exercíco de hipocrisia e bons sentimentos à revelia do resto do ano. Acredite que as pessoas não se deixam enganar e que percebem que o único sentimento que o motiva é ficar bem na fotografia.      

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

LEITURAS 2015 - L (50) - "DA CIDADE NERVOSA" - ENRIQUE VILA-MATOS


Gosto destes livros, com crónicas relatando situações das vidas de escritores mais ou menos famosos abordando algumas situações muito interessantes. "DA CIDADE NERVOSA" relata algumas situações curiosas e pouco conhecidas, nomeadamente aquela relacionada com o suicídio de Hemingway.

Fiquei também a saber que o melhor relato que Enrique Vila-Matas leu na vida foi "Luvina" de Juan Rulfo, uma viagem ao centro da tristeza, uma excursão ao local onde os dias são tão frios como as noites e o orvalho gela no céu antes de chegar a cair sobre a terra. Luvina é o lugar onde mora a tristeza, não há uma árvore nem nada verde para repousar a vista, tudo está envolto numa névoa cinzenta. Acrescenta outros contos seus preferidos:

-"Uma alma de Deus" - Flaubert
-"Um gato sob a chuva" - Hemingwhay
-"Um dia perfeito para o peixe banana" - Salinger
-"Os mortos" - James Joyce
-"O Aleph" - Jorge Luís Borges
-"Ionich" - Tchecóv
-"A condenação" - F. Kafka
  

É um livro interessante pelo tema abordado, apesar de não ser dos melhores que li deste autor espanhol.
Enrique Via-Matas - nascido em Barcelona em 1948



domingo, 13 de dezembro de 2015

PROJECTOS/DESAFIOS


Há palavras que aplicadas em determinadas situações me fazem pensar (por vezes sorrir). DESAFIO e PROJECTO são duas dessas palavras quando aplicadas em determinados contextos.

Por exemplo, quando alguém que, depois de mil currículos, arranjou um novo emprego (ordenado mínimo) e vai portanto iniciar uma nova vida, num novo trabalho, me diz:- aceitei este desafio porque me parece um projecto aliciante. 

E fico a pensar (sorrindo): será  que se não fosse um projecto e um desafio aliciante preferiria continuar desempregado?
Como diria um meu ex-colega de trabalho - conversa de ervanária...

E lá me questiono eu mais uma vez: terá isto a ver alguma coisa com o facto de o mundo (neste caso a língua portuguesa) estar sempre em mudança, ou será apenas um modo e uma nóvel maneira de (tentativa de) auto-valorização ou será antes o fruto da iliteracia que se tem instalado na mente dos portugueses?



quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

LEITURAS 2015 - XLIX - "A ILHA DE CARIBOU" - DAVID VANN


Um casamento de mais de mais de duas décadas, completamente à deriva, um casal virado do avesso. 

Quando ainda criança. Irene vê o cadáver da sua mãe pendurado numa trave da sua casa. O suicídio da mãe irá marcar a sua vida e dos que a irão rodear ao longo da mesma.

Quando Gary, marido de Irene pretende, após ambos estarem reformados, cumprir um velho sonho (construir uma cabana nas margens de um largo gelado e inóspito do Alasca), começa a tormenta que irá destruir a vida deste casal.    

É um livro duro, um livro pesado sobre a complexidade das relações humanas, sobre a solidão e a complexidade de um casamento longo, e muito longe de ter sido um casamento feliz. 

Gostei, embora por vezes as descrições sejam demasiado lentas o que conduz a um certo arrastamento na leitura. Não deixa contudo de ser um bom livro. Não vou aconselhar nem desaconselhar porque isto de se aconselharem livros é muito subjectivo dado que ninguém pensa do mesmo modo e nem todas as pessoas vêem as coisas pelo mesmo prisma; eu gostei, embora não seja do melhor que li ultimamente, em bom português: -assim assim-.

Não posso deixar de realçar a excelência dos livros desta editora (Ahab Edições), são magníficos, livros que apetece ler, que apetece tocar, que apetece transportar. Quem gosta de livros sabe do que estou a falar.  

David Vann, n. Alasca 1966

sábado, 5 de dezembro de 2015

PARA UM MUNDO MELHOR?



Li esta semana nos jornais que Mark Zuckerberg o fundador do Facebook (e detentor de uma das maiores fortunas do mundo) se comprometeu a pôr o equivalente a  99% das acções do Facebook (cerca de 42 mil milhões de euros ao valor actual) nos cofres de uma empresa de responsabilidade limitada (uma organização qual instituição de caridade) com o objectivo de promover o potencial humano e a igualdade.

Há quem diga (li na mesma imprensa) que será mais um inteligente processo de fugir a impostos e investir capitais através de outras organizações.

De qualquer modo, questiono-me eu, na minha ignorância: -será mesmo esta uma forma de se tornar o mundo melhor e mais igual? 






quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

O CHOCALHO - PATRIMÓNIO MUNDIAL


Bater recordes para o Guinness parece estar a passar de moda, não havia papalvo que se prezasse, que não tentasse ter a maior salsicha, engolir de uma só vez o maior número de hamburgueres, ter a maior chouriça, expelir o maior quilo, comer o maior número de francesinhas, possuir o maior penico e por aí fora, uma autêntica alienação nacional, reveladora da actual menoridade mental portuguesa.

Agora é a febre de ser reconhecido como Património da Humanidade; depois do fado e do cante agora foi a vez do chocalho ir lá fora suplicar a benção. 

Vangloriam-se os papagaios dos jornais, das rádios e das televisões (agora dizem os media) que é bom para o turismo...ainda gostava de saber o que é que (depois de concedida a benção) o chocalho irá contribuir para o aumento do turismo. 

É a alienação deste Portugal cada vez menor, sem identidade (agachado e de cócoras), assustadoramente carente de ser reconhecido fora de casa.

Segue-se o badalo...







segunda-feira, 30 de novembro de 2015

LEITURAS 2015 - XLVIII - "NÃO MATEM A COTOVIA" - HARPER LEE



Este foi o melhor livro que li sobre o racismo nos Estados Unidos da América!

Saiu em 1960, ganhou o Prémio Pulitzer de ficção em 1961 e o "Library Journal" nomeou-o, em 1999, como o melhor romance do século XX.

É um livro brilhante, uma história passada nos anos de 1930, nos Estados Unidos racistas, segregadores, profundamente injustos, em que nos é descrito o dia a dia de uma comunidade conservadora onde o preconceito, o ódio, o racismo caracterizam as relações daquela comunidade. 


cena do filme baseado neste livro
É pelos olhos de uma menina de 7 anos (Scout Finch) que, sob o seu ponto de vista, a história nos é contada. O seu pai (o advogado Atticus Finch), uma personagem admirável e fascinante, é escolhido para defender em tribunal o negro Tom e é a partir desse momento que a vida da família sofre um tremendo abalo e as maiores desconsiderações quando a comunidade em que vivem não tolera que Atticus trabalhe para os pretos. Atticus defende com toda a convicção, arrostando com ameaças e preconceitos, o negro Tom acusado de violentar uma rapariga branca.  




porquê o título do livro? (tomemos o negro Tom, acusado de violação, como uma cotovia) : 
- As cotovias não fazem mais nada senão cantar para nossa satisfação. Não comem coisas nos jardins das pessoas, não fazem ninhos nas searas, não causam danos a ninguém. É por isso que é pecado matar uma cotovia.

nasceu em 1926 em Monroeville, Alabama



quarta-feira, 25 de novembro de 2015

LEITURAS 2015 - XLVII - "TERRA DO PECADO" - JOSÉ SARAMAGO

 

Tinha 24 anos, calado, metido consigo, ganhando a vida como praticante de escritório nos serviços administrativos dos Hospitais Civis de Lisboa, quando no ano de 1947 publicará este romance a que chamou "A Viúva" mas que o editor decidiu, por motivos comerciais, dar o título de "Terra do pecado".

Maria Leonor fica viúva, com dois filhos e uma casa enorme para cuidar. Com os empregados fiéis, amigos da família, ela vai lutar para ultrapassar a dor da perda do seu marido. Vai lutar contra o preconceito numa terra onde as viúvas devem agir como se a sua vida tivesse terminado, como se tivessem parado de viver pois só assim podem honrar o nome da família, se o não fizerem mancharão, perante toda a sociedade, a honra da família.
Esta terra do pecado é que dita as leis porque se há-de reger a sociedade, onde continuar a viver é pecado, sorrir é pecado, sair à rua é pecado, viver é pecado.

Gostei, como tenho gostado de todos os livros de José Saramago, tendo, contudo, em atenção que é o seu primeiro livro ou seja o livro da juventude de José Saramago.
Só cinquenta anos depois o autor concordou em publicar a segunda edição.




sexta-feira, 20 de novembro de 2015

LEITURAS 2015 - XLVI - "DOZE CONTOS PEREGRINOS" - GABRIEL GARCIA MÁRQUEZ


Quando, há muitos anos, li "O AMOR NOS TEMPOS DE CÓLERA" fiquei imediatamente leitor-seguidor deste grande escritor colombiano, com uma escrita que nos prende imediatamente da primeira à última página.

Estes "DOZE CONTOS PEREGRINOS", foram escritos ao longo de muitos anos e seleccionados pelo próprio autor e percorrem uma longa trajectória.

São doze histórias de solidão, amor, poder e morte que Gabriel Garcia Márquez soube criar com mão de mestre. 

São doze os contos deste precioso livro:


  1. Boa Viagem, Senhor Presidente
  2. A santa
  3. O avião da bela adormecida
  4. Alugo-me para sonhar
  5. Só vim fazer um telefonema 
  6. Surpresas de Agosto
  7. Maria dos Prazeres
  8. Dezassete ingleses envenenados
  9. Tramontana
  10. O feliz Verão da Senhora Forbes
  11. A luz é como a água
  12. O rasto do teu sangue na neve
"Só vim fazer um telefonema" foi o conto de que mais gostei. É uma história muito bem montada, direi mesmo assustadora, e que nos mostra a nossa insignificância perante o acaso. 
Belo livro de contos de um grande, enorme escritor que em todos os livros me prende intensamente da primeira à última página. 






domingo, 15 de novembro de 2015

LEITURAS 2015 - XLV - "O AMANTE BILINGUE" - JUAN MARSÉ


Juan Marés vê-se enganado e abandonado pela sua mulher, pertencente à alta burguesia catalã, e pela qual está loucamente apaixonado. Mergulhado no desespero e na indigência, converte-se num solitário e num marginal, um desprezível músico de rua que ganha a vida a tocar acordeão, deambulando pelos bairros antigos de Barcelona, e que concebe um estratagema delirante: fazer-se passar por outro homem, um charnego (na Catalunha emigrante de outra região) típico e impostor chamado Faneca, e reconquistar a sua ex-mulher com essa personalidade usurpada. 

Um bom livro que se lê com satisfação e curiosidade. Foi o primeiro livro que li de Juan Marsé e gostei.

Juan Marsé - Barcelona 1933

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

LEITURAS 2015 - XLIV - "DESTE MUNDO E DO OUTRO" - JOSÉ SARAMAGO

José Saramago: Deste Mundo e do Outro

Gosto de José Saramago! É um grande, um genial escritor.


José Saramago  1922-2010
Neste seu livro, reúne-se um conjunto de crónicas publicadas por Saramago no jornal A Capital (1968/1969); há umas boas, outras nem por isso, mas esta definição do que é um calculista, vale o livro:

"O calculista é um monstro, uma espécie de aborto disfarçado, um intoxicado de egoísmo. Deita contas à (sua) vida, risca o plano no papel invisível do cérebro, e como um jogador de xadrez avança e recua as pedras do seu interesse. Por via de regra, é pessoa sorridente, toda lhaneza e coração aberto. Tem um particular modo de nos segurar pelo braço ou de nos pôr a mão no ombro, como se em nós descobrisse a alma gémea, o irmão. Em pessoas sensíveis, dá resultado. Mais tarde receberemos a factura...." 


sábado, 7 de novembro de 2015

LEITURAS 2015 - XLIII - "MULHERES DA BEIRA" - ABEL BOTELHO


Este livro foi escrito há mais de cem anos, mais precisamente entre 1885-1896.
É o nº. 74 da excelente Colecção Lusitânia, da Lello & Irmão Editores, e foi publicado há, pelo menos cinquenta anos, não consigo no entanto certificar a data exacta da sua publicação. 

Contudo, permito-me realçar que, nas duas últimas páginas, tem um apêndice do Editor datado de 8 de Fevereiro de 1917; está muito bem conservado e tem uma capa (exterior) em papel, muito bonita; tenho pena de não a conseguir aqui reproduzir. Foi-me emprestado por um amigo que em toda a sua casa tem livros por tudo quanto é sítio (casa de banho, cozinha, etc. -não estou a exagerar).   

"MULHERES DA BEIRA" - São sete contos, excelentes, que nos falam das nossas terras e das nossas gentes, do tempo em que a timidez era o diagnóstico certo do amor, como diz o autor, num destes contos.

Naturalmente que está escrito num português com mais de cem anos, por isso tive, por vezes, de utilizar o dicionário para ver o significado de determinadas palavras que já não se usam.

Fiquei, por exemplo, a saber que um frade CRÚZIO era (é?) um membro da congregação religiosa de Santa Cruz de Coimbra.

É uma escrita em que terá de haver efectivamente um completo domínio da língua portuguesa e nota-se isso pela descrição das situações e das gentes. Talvez um senão - para descrever as situações mais simples são necessárias mil e uma palavras.
No entanto gostei das descrições das terras (passa-se no Douro) e das gentes e mostra-nos como era rural o mundo português.

Coronel do Exército Português, escritor e diplomata. Nasceu em 1855 em Tabuaço e faleceu em 1917 na Argentina.
A ele se ficou a dever o projecto gráfico da bandeira da Republica Portuguesa, em que o verde representa a esperança
e o vermelho o sangue derramado pelo povo nas muitas guerras travadas.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

LEITURAS 2015 - XLII - RECORDANDO A GUERRA ESPANHOLA - GEORGE ORWELL



Este livro recorda-nos a experiência vivida durante seis meses por George Orwell na Guerra Civil Espanhola, na qual participou ao lado dos republicanos na frente de batalha, beneficiando do facto de ali poder aplicar a sua experiência de oficial britânico, que, entre 1922 e 1927, exercera durante cinco longos anos na Polícia Imperial, na Birmânia (actualmente República da União de Myanmar, e cuja capital foi transferida em 2006 de Rangum para Naypydaw).

Orwell foi para Espanha para participar em combates, ao contrário de outros voluntários e revelou-se um combatente não apenas corajoso mas temerário.

Devo no entanto confessar que esperava um livro mais esclarecedor sobre a Guerra Civil Espanhola já que, nesse aspecto, ficou muito aquém das minhas expectativas.

George Orwell é pseudónimo. Eric Arthur Blair era o seu verdadeiro nome
nasceu na Índia em 1903 e faleceu em Londres em 1950

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

LEITURAS 2015 - XLI - PÓ, CINZA E RECORDAÇÕES - J. RENTES DE CARVALHO


J. RENTES DE CARVALHO é actualmente um dos grandes escritores portugueses vivos. É um excelente narrador -são límpidas e claras as suas descrições- !

Era para mim um total desconhecido até que há cerca de cinco anos o descobri com um livro excelente ("com os holandeses"), que nos descreve muito bem o que será o povo holandês (o positivo e o negativo). É um autor muito aplaudido lá fora mas, para o seu valor, ainda um desconhecido em Portugal.

Este "PÓ, CINZA E RECORDAÇÕES" foi escrito diariamente, sem falhas, entre Maio e 1999 e Maio 2000, e é o diário do milénio de um dos mais relevantes autores portugueses da actualidade. Factos, pensamentos, situações do dia a dia tão bem descritas que estão mesmo ali a acontecer à nossa frente. Fico com a ideia de que a Holanda, país onde viveu grande parte da sua vida e continua a viver já que vive alternadamente entre Amesterdão e Mogadouro, moldou um pouco o seu carácter pois parece-me um homem com paciência, um homem simples e verdadeiro sem manias nem tiques de vedeta e duma autenticidade admirável, talvez, contudo, já com alguma frieza holandesa entranhada em vez da alegre espontaneidade portuguesa.    

Gostei, como tenho gostado de todos os seus livros que li anteriormente. 

J. Rentes de Carvalho - Vila Nova de Gaia - 1930

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

LEITURAS 2015 - XL - "CONTA-CORRENTE" - nova série II - VERGÍLIO FERREIRA


Com o título de "CONTA-CORRENTE", foram nove os diários que Vergílio Ferreira escreveu entre 1980 (conta-corrente I) e 1994 (conta-corrente, nova série IV). 

Este, que acabei de ler, foi o sétimo e, como os anteriores, é excelente. Aborda o ano de 1993. 

Vergílio Ferreira é um belíssimo escritor. 

Seria talvez, ao que deduzo da leitura destes diários, um homem de um feitio especial, que pensava  que os seus livros não eram valorizados como o deveriam e que até se julgava algo injustiçado por tudo e por todos. 

Quando estou a ler um livro de Vergílio Ferreira tenho sempre um lápis à mão pois não resisto a sublinhar muitas das suas frases:

-a abundância é já um pouco a saciedade

-para o homem só o impossível é que é bastante

-o comer e o coçar vai do começar

-ter tudo é igual ao nada por não haver mais nada para ter


Vergílio Ferreira    -    Melo-Gouveia-Portugal  1916-1996

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

LEITURAS 2015 - XXXIX - "A BALADA DO CAFÉ TRISTE" - CARSON McCULLERS


Após ter lido o excelente "O coração é um caçador solitário" de CARSON McCULLERS, "A BALADA DO CAFÉ TRISTE", da mesma autora, foi o livrinho que se seguiu (apenas 75 páginas), e que me deu a conhecer um trio de personagens pouco convencional, numa pequena cidade do sul dos Estados Unidos, durante a grande Depressão, onde apenas existe uma fábrica, uma igreja, uma rua principal e algumas casas onde vivem alguns operários: 

-Miss Amelia Evans - a mulher mais rica da região, uma mulher absolutamente fascinante na sua estranha e rude personalidade, que preferia a solidão ao amor e que acabará por se afundar quando menos e da maneira que menos se espera; 

-Marvin Macy com quem Miss Amelia foi casada apenas durante dez (que não conseguiu alterar um milímetro da sua personalidade sombria), e que é o homem mais bem parecido mas com o carácter mais instável da povoação, um ser humano que tem o mal dentro de si, um homem repugnante que torna este livro tão arrebatador; 

-o anão corcunda que um dia chega à terra e se afirma primo de Miss Amelia e que num abrir e fechar de olhos lhe rouba o coração; outra grande personagem que nos está sempre a surpreender.


Excelente livro sobre a solidão e o medo que ela nos provoca, solidão que avança quando avançamos na idade. 

CARSON McCULLERS   EUA  -   1917-1967


domingo, 18 de outubro de 2015

LEITURAS 2015 - XXXVIII - "O CORAÇÃO É UM CAÇADOR SOLITÁRIO" - CARSON McCULLERS


Quando apanho um livro destes é como se entrasse num outro mundo, numa outra época, numa outra vida. 

Este é um livro de sofrimento, um livro de solidão, um livro que me agarrou como se estivesse dentro daquela cidadezinha do sul profundo dos Estados Unidos, no final dos anos 30 e quando os os efeitos da Grande Depressão ainda se fazem sentir. 

E ali conheço John Singer um surdo que vê a sua vida transformar-se completamente quando o seu amigo, igualmente surdo, Spiros Antonopoulos, é internado num hospício que dista 300 e tal kms. da cidade onde viviam. John Singer é uma personagem marcante desta cidade pois todos o procuram para falar das suas inquietações, dos seus medos, frustrações, e a todos John Singer impressiona...

Gostei imenso deste livro. Personagens fantásticas cujas vivências nos proporcionam um retrato da América durante a Grande Depressão, da fome e da miséria, conflitos raciais e uma solidão profunda que se sente ao longo deste grande livro.  


Carson McCullers - EUA - 1917 - 1967

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

LEITURAS 2015 - XXXVII - "O NAUFRÁGIO DO TITANIC" - JOSEPH CONRAD


Quantas vezes, depois de ter visto o filme, eu coloquei a mim próprio as questões que Joseph Conrad aborda neste pequeno livrinho (68 páginas), relativamente ao afundamento do TITANIC (14 de Abril de 1912), como por exemplo o facto de um grande bloco de gelo ao roçar pela lateral do navio conseguiu afundá-lo em menos de trinta minutos, um navio que afinal, quando foi construído, foi considerado inafundável. E como é que um navio com mais de dois mil passageiros, não possui botes salva-vidas suficientes para os passageiros e tripulação que transportava.



É um livro que não nos dá respostas mas põe-nos a fazer perguntas, que é isso, afinal, que os livros nos deverão proporcionar, como disse recentemente um grande conhecedor e amante de livros (Alberto Manguel).

Este livro reúne artigos que Joseph Conrad escreveu sobre o naufrágio e que foram publicados nos meses a seguir à tragédia em "The English Review". 


Joseph Conrad - antigo marinheiro - Ucrania 1857 - 1924 Grã-Bretanha

sábado, 10 de outubro de 2015

LEITURAS 2015 - XXXVI - "O PREGADOR" - ERSKINE CALDWELL

Erskine Caldwell - EUA - 1903 - 1987
Este excelente livro, autografado pelo autor, é uma 1ª. edição de 1959 (da Editora Portugália) que me foi emprestado por um amigo.É uma preciosidade!

A experiência humana que ERSKINE CALDWELL nos relata em "O PREGADOR" foi, em grande parte, acumulada nos seus anos de infância podendo até parecer que será uma espécie de auto-biografia.
O pai do futuro grande romancista era daquele tipo de pregadores errantes, sempre a peregrinar de terra em terra. O filho acompanhava-o e tão assiduamente que só aos catorze anos conseguiu vida sedentária que lhe permitisse aprender a ler.

E foi o seu espírito observador (apesar da sua tenra idade) que lhe permitiu mais tarde criar este espantoso pregador (Semon Dye), dividido entre entre os irresistíveis apelos da bebida, as fraquezas inadiáveis da carne, aquela ânsia de dinheiro que o leva a embolsar tudo quanto lhe passa ao alcance da mão. 

A obra de Caldwell é um panfleto contra a miséria e a degradação do homem do Sul, negro ou branco.

"O PREGADOR" é um livro que nos introduz numa outra América totalmente diferente dos manuais de turismo e dos encantos de vida das grandes metrópoles, uma América rural e rude que vale a pena conhecer através deste grande livro.


terça-feira, 6 de outubro de 2015

LEITURAS 2015 - XXXV - "SÓ SE MORRE UMA VEZ" - RITA FERRO


Para alguma surpresa minha RITA FERRO não consegue esconder (certamente que nem será essa a sua intenção), ao longo das páginas deste diário as suas origens ligadas ao antigo regime e, sobretudo, às famílias que durante mais de quarenta anos dominaram Portugal. Revela-se até algo retrógrada e saudosista dum tempo que não deixou saudades à maioria do povo português. Obviamente que tal facto não impediu que eu tivesse gostado de a ler, porque se revela uma mulher transparente e humana e, sobretudo, não me parece nada calculista (qualidade que aprecio). 

"SÓ SE MORRE UMA VEZ" é um diário que nos revela situações absolutamente simplistas e, por vezes, demasiado fúteis; por isso se lê como se lê uma qualquer revista cor de rosa.

Com todo o respeito e sem qualquer intenção de demérito para a escritora Rita Ferro ou para os seus livros, não posso no entanto deixar de confessar que, com tanto livro bom que eu tenho para ler, não sei quando voltarei a ler um de Rita Ferro. 
Foi o primeiro, de qualquer modo, não sei, se terá sido o último.

Contudo, tento não perder às quartas-feiras na Antena Um, entre as vinte e três e as vinte e quatro horas, a sua conversa sobre livros no programa "a páginas tantas".