terça-feira, 31 de julho de 2012

POR ONDE ANDEI EM 2011 - XI


Quem me acompanha minimamente sabe que não sendo esta coluna (POR ONDE ANDEI) propriamente um balanço será contudo uma oportunidade para relembrar os livros que li no ano anterior, neste caso em 2011, assim como se estivesse ainda em viagem pois é isso (e muito mais) que a leitura dos mesmos me proporciona.

Deste modo, estamos em Junho de 2011 e é com "A BAGAGEM DO VIAJANTE" que acompanho José Saramago numa viagem pela selva da vida contemporânea através destas crónicas, que o escritor publicou primeiramente em jornais e que partem dos mais variados assuntos: das mentiras da política e da publicidade à poesia dos pequenos gestos quotidianos, da vida secreta das cidades aos mistérios que se escondem na criação artística, nada escapa ao olhar arguto do escritor.

"O empregado estende-me o pires com a conta hipocritamente dobrada. Por que será que se dobram as contas? Por que será que falsificamos tudo? Hã? Pago e levanto-me, deixo umas moedas adicionais, também hipócritas, passo ao lado das mulheres, três parcas maléficas, três vezes três vezes três, noves fora, coisa nenhuma. Por que dobram as contas? Por que dobram? Por que se dobram as pessoas? Por que se dobram? Porquê?"


Nota 5 (de 1 a 7) - mais um livro à altura do grande escritor que é José Saramago.


De braço dado com outro dos meus escritores preferidos (Mia Couto) caminho em Junho por terras africanas e é através de "E SE OBAMA FOSSE AFRICANO? E OUTRAS INTERVENÇÕES" que ele me dá a conhecer um conjunto de intervenções públicas feitas pelo escritor em diversos contextos nos último anos. Este escritor nunca me desiludiu -nota 4 (de 1 a 7)-

E chego a finais do mês de Junho com "O DIÁRIO REMENDADO - 1971-1975" do controverso e polémico escritor que foi Luiz Pacheco.
Este Diário foi escrito quando, aos 45 anos, Luiz Pacheco recuperava no Hospital de Santa Marta de problemas relacionados com o excesso de álcool, aliás toda a sua vida foi de excessos, libertinagem, sacanagem. Carinhosamente sacana como alguém, que o conheceu muito bem, escreveu.


Vale a pena descobrir esta curiosa e excessiva personagem - um homem de excessos.


Este diário mostra as angústias de um homem que quis ser escritor de profissão e que por tal se debate diariamente com problemas financeiros, vendendo textos e livros aqui e ali para suportar o seu dia a dia.
Não foi dos que mais gostei (de 1 a 7 dou-lhe nota 2), não deixando de ser por isso, recomendável.    




Foi com "O DEVER DA MEMÓRIA" que, em finais de Junho 2011, lidei com um sobrevivente de Auschwitz, e desse dever vos darei conta no regresso de férias.











quarta-feira, 25 de julho de 2012

UMA MULHER SUBLIME


Quando revejo a galeria das mulheres notáveis, um nome me surge de imediato: a pintora mexicana Frida Kahlo (1907-1954)  -  ''Pinto-me a mim mesmo porque sou sozinha e porque sou o assunto que conheço melhor.''.

É mais do que uma pintora, mais do que uma escritora, mais do que uma revolucionária, é uma mulher sublime.

Muito cedo ficou, por força da poliomielite, com a perna direita mais magra e o pé esquerdo atrofiado     -   ''Não estou doente. Estou partida. Mas sinto-me feliz por continuar viva enquanto puder pintar.''
Aos 18 anos, quando regressava da escola, o autocarro onde viajava sofreu um acidente terrível que lhe provocou danos irreparáveis e que a marcaram para o resto da sua vida.

O grande amor da sua vida, que lhe provocou igualmente grande sofrimento, foi outro grande pintor mexicano, Diego Rivera -  ''Ele leva uma vida plena, sem o vazio da minha. Não tenho nada porque não o tenho.''

Diego. princípio
Diego. construtor
Diego. meu bebê
Diego. meu noivo
Diego. pintor
Diego. meu amante
Diego. meu marido
Diego. meu amigo
Diego. meu pai
Diego. minha mãe
Diego. meu filho
Diego. eu
Diego. universo
Diversidade na unidade.
Porque é que lhe chamo Meu Diego?
Ele nunca foi e nem será meu.
Ele pertence a si próprio.


Vale a pena conhecer esta sublime mulher através dos inúmeros livros que têm sido publicados sobre a sua grandiosa vida  -  ''Para que preciso de pés quando tenho asas para voar?''.


Vale a pena conhecer os seus quadros bem reveladores da sua dimensão humana e que nos levam aos mais longínquos tempos da nossa memória.

Descubram Frida Kahlo uma mulher sublime!

sexta-feira, 20 de julho de 2012

INTELECTUAL versus CINEASTA





Eduardo Prado Coelho escrevia, em 25 de Abril de 1992, no Volume II de "Tudo o que não escrevi", sobre Spielberg:

- Um cineasta que, como toda a gente sabe é um débil mental que faz filmes para débeis mentais.


São declarações que me põem a pensar, e não é que....não posso deixar de reflectir.



domingo, 15 de julho de 2012

QUE PERSONAGEM ADMIRÁVEL



O actor Ernest Borgnine morreu no domingo, 8Julho2012, aos 95 anos de idade.

Este actor tem feito parte de toda a minha vida no que se refere ao imaginário do cinema, pois é uma personagem que me lembro desde sempre de admirar desde que passei a ir ao cinema; quando o via na tela sentia-o como se fosse uma pessoa de família, é algo de estranho para o qual nunca consegui encontrar explicação.
Quando o vejo no cinema é como se visse um tio que não via há muito tempo.

Ernest Borgnine, venceu um Óscar pelo seu desempenho «Marty» (1955), de Delbert Mann, também participou em vários filmes e programas televisivos ao longo da sua carreira.
Nasceu a 24 de Janeiro de 1917, em Cinnecticut, Estados Unidos.
Filho de emigrantes italianos, alistou-se na Marinha aos 18 anos, que deixou em 1941, para regressar quando os Estados Unidos entraram na II Guerra Mundial. Participou na II Guerra Mundial e as suas ações em combate valeram-lhe cinco medalhas da Marinha Norte-Americana.
Participou em 2011, com 94 anos, no seu último filme.

Não foram revelados pormenores sobre as circunstâncias da sua morte. Segundo o noticiado, o actor terá morrido de insuficiência renal.

Para a história fica a participação em mais de uma centena de filmes e séries televisivas e esta estranha ligação (não sei explicar de que modo) que sempre me ligou a esta simpática personagem.

terça-feira, 10 de julho de 2012

1991 - PRESSENTIMENTO


A páginas tantas do primeiro dos dois volumes de "TUDO O QUE NÃO ESCREVI" Eduardo Prado Coelho, conjecturava, em Novembro de 1991:

"Melancólicas recordações de um jantar numa noite demasiado belga de Outuno: quando se convive de perto com "eurocratas" (digamos: funcionários de organizações internacionais), teme-se muito pelo destino da Europa.
Espero que o futuro me não dê razão."


É uma pena já cá não estar, não só pelo que representava para as letras portuguesas como para ver "ao vivo" que as suas previsões parecem confirmar-se.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

POR ONDE ANDEI EM 2011 - X



Referia eu no passado dia 23 de Junho, relativamente aos livros que li em 2011, que me iria encontrar em final de Maio de 2011, com o grande escritor chileno, LUÍS SEPÚLVEDA e é sobre esse encontro que hoje resumidamente falarei (é o de chapéu nesta foto com o poeta argentino Juan Gelman).
Luis Sepúlveda é um escritor que parece escrever não só com o coração mas também com o estômago já que através das suas palavras escritas nos consegue comover intensamente, mas também fazer-nos arrancar sorrisos e até gargalhadas.


É através d"A SOMBRA DO QUE FOMOS" o seu penúltimo livro, publicado em 2010, que me consegui imiscuir nas vidas daqueles que regressaram do exílio chileno sem que tenham sarado as feridas de um passado marcado pela violência.
É um bom livro que se lê num ápice (160 páginas) e que me mereceu a nota 4-bom (de 1 a 7).




Entro no mês de Junho pela mão de RUI CARDOSO MARTINS, mais um jovem escritor português, de que aqui já falei anteriormente.

 
Rui Cardoso Martins apresenta-me António, um advogado cego devido a um acidente desde os seus sete anos de idade, e um escuteiro com oito anos e com uma personalidade fantástica, que num dia de chuvadas torrenciais caiem ambos num buraco provocado por uma enxurrada, num túnel antigo e assim vão percorrendo a cidade de Lisboa à procura da salvação acontecendo-lhe as mais variadas peripércias. Nesta busca pela salvação desenvolvem uma relação de amizade intensa e ambos vão passando em revista a vida de cada um.
"DEIXEM PASSAR O HOMEM INVISÍVEL"é um livro que me prendeu do início ao fim e que recomendo.Nota 4-bom (de 1 a 7).
Estamos na primeira semana de Junho de 2011 e mais uma vez me irei encontrar, pela pena de um dos meus escritores preferidos (Philip Roth), com um velho conhecido dos seus livros: Nathan Zucherman, nesta altura um senhor de setenta e poucos anos de idade que mora há uma década longe da sua New York natal, escondido numa pequena cidade, escrevendo seus livros sem acompanhar os acontecimentos do seu tempo e praticamente sem vida social -um verdadeiro eremita, impotente por conta de um cancro da próstata e com todos os efeitos que daí derivam.
Este "FANTASMA SAI DE CENA" é uma tocante reflexão sobre a velhice que mais uma vez me deliciou (sou suspeito porque gosto de todos os livros dele, reconhecendo no entanto que este não será o melhor) . Nota 4-bom (de 1 a 7). 
PHILIP ROTH é, na minha opinião, o melhor escritor americano (vivo).



Estamos no fim da primeira semana de Junho (2011) e vou tomar nas mãos a bagagem do viajante e encontrar-me com o meu preferido escritor português (na foto os pais dele).
Acontecerá esse relato num dos próximos escritos de que aqui pretendo deixar memória.