sexta-feira, 23 de agosto de 2019

DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA - Vols. IX e X - LEITURAS 2019 - XIV


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Miguel Torga - 1907-1995

Os diários de Miguel Torga falam da sociedade, da terra, da poesia, das pessoas, de política, são literatura!

Confesso que, no entanto, nunca fui um leitor entusiasmado pela sua obra.

Mas gosto dos seus diários que são, afinal, uma forma de conhecer Portugal e os portugueses, e não só...

Por exemplo, a propósito de Santiago de Compostela: 
-"Confesso que ainda não cheguei a perceber se os espanhóis erguem tantas e tão grandes catedrais porque têm necessidade de espaço onde caiba a muita fé que os devora, ou se, pelo contrário, constroem primeiro os templos desmedidos para se obrigarem depois a enchê-los de devoção." 

Abordando a política: 
-"a impossibilidade que sempre tive de aceitar como bom do lado de cá o que reprovo do lado de lá".

Conflito de gerações: 
-"o difícil no convívio com a juventude é esquecer-se a gente da sua própria mocidade. É ser jovem também, mas sem a lembrança de o ter sido. Só quando nenhuma das suas palavras, dos seus gestos, dos nossos impulsos cheira a passado, poderemos entrar no convívio e no coração de quem apenas respira presente." 

Curiosa esta sua observação sobre Livros:
- "Homem humano, que não vai em cantigas literárias divide muito simplesmente os livros em duas categorias —os que agasalham as misérias do mundo nas suas páginas, e tornam o leitor sensível à urgência de lhes acudir, e os que as deixam à porta, desalmadamente—"  

Gosto de diários e, do Miguel Torga, li todos os anteriores —tornei-me um leitor incondicional de diários desde que li o excelente "Conta-Corrente" do Vergílio Ferreira, são nove volumes, diários que se lêem como um romance sem serem um romance!

Não sendo Torga um escritor que me entusiasme também devo confessar que não o acho maçador, apesar de ter gostado mais dos diários anteriores. 

A leitura destes diários leva-me a pensar que Torga deveria ser um homem bom, solidário, honesto e correcto. Deste modo, a leitura destes diários só nos poderá trazer exemplos para que possamos ser melhores pessoas. 



Li e anotei:

-Em conversa com um seu doente: "o senhor morre vivo e eles vivem mortos"    (Miguel Torga exercia medicina)


0 - li, mas foi zero
1 - desisti
2 - li, mas não me cativou
3 - razoável
3,5 - interessante
4 - bom
5 - muito bom
6 - excelente
7 - obra prima

sexta-feira, 16 de agosto de 2019

"QUANDO OS TONTOS MANDAM" - JAVIER MARÍAS - LEITURAS 2019 - XIII

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Neste livro de 301 páginas, deste escritor espanhol, Javier Marías, nascido em Madrid há 57 anos, estão reunidos noventa e cinco artigos, publicados no suplemento semanal do jornal El País, entre Fevereiro de 2015 e Janeiro de 2017.

Tal como se lê na contracapa,vivemos num tempo em que as pessoas não têem tempo até as crianças já não o têem, com tantas actividades extra-escolares e distracção "obrigatória" na companhia dos pais, que passam o fim de semana e as férias com a língua de fora. 

Nos anos cinquenta e sessenta do séc. XX as crianças tinham manhã, tarde e noite, todos muito longos. Naquele tempo havia tempo para tudo.

Esta e outras situações  são aqui deliciosamente retratadas, com sentido de humor, educação e distanciamento do politicamente correcto!

Javier Marías apresenta aqui novas perspectivas para os acontecimentos que, aos seus olhos, marcam o mundo actual.

Fala de escritores:
Conrad detestava Dostoievisky,
- Nabokov desprezava Faulkner e muito mais, 
- Faulkner não estimava muito os seus pares com a excepção de Thomas Wolfe, 
- Truman Capote lançava farpas a quase toda a gente.

Fala de livros:
-O universo literário rejubilou com os seis tomos de A MINHA LUTA, autobiografia ou semificção do norueguês Karl Ove Knausgárd. 
Depois de 300 páginas (poucas de um conjunto de 3.000 ou mais) fiquei desconcertado. Não me eram odiosas, nem pouco mais ou menos, mas há muito tempo que não lia páginas tão simplórias e tolas. Será defeito meu ou impaciência (relativa), mas não compreendo o entusiasmo global despeitado em críticos e escritores.  

Sobre o politicamente correcto:
-O Sindicato de Estudantes da Escola de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres "exigiu que desaparecessem do programa filósofos como Platão, Descartes e Kant, por serem racistas, colonialistas e brancos".

-Nalgumas escolas norte-americanas pede-se a proibição de clássicos como "Mataram a Cotovia" e "Ucleberry Fin", porque neles aparecem "afrontas raciais"


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JAVIER MARÍAS -  Madrid 1951

Li e reflecti:

-arvoram telemóveis e param a cada passo a fotografar o que não olham

-o melhor instrumento de propaganda e intoxicação que jamais existiu -as redes sociais-

-Se não se tem nada de agradável para dizer, é melhor não dizer nada.

-Hoje parece que aquele que não se indigna continuamente por alguma coisa -tenha ou não razão, tenha ou não importância- é um acomodadiço, um domesticado, um dócil, um submisso e um tonto.


0 - li, mas foi zero
1 - desisti
2 - li, mas não me cativou
3 - razoável
3,5 - interessante
4 - bom
5 - muito bom
6 - excelente
7 - obra prima