domingo, 29 de março de 2015

A TRAGÉDIA AÉREA DOS ALPES E O NEGÓCIO


Um avião Airbus A320 despenhou-se, tendo sido propositadamente atirado contra a montanha, nesta terça-feira (24.03.2015) no sul de França, com 150 pessoas a bordo, não havendo sobreviventes.

Segundo a imprensa, a caixa negra do avião revela que o comandante saiu do cockpit, ficando ali apenas o co-piloto, que se trancou e não abriu a porta, apesar do desespero do comandante na tentativa de entrar e evitar a tragédia causada deliberadamente pelo co-piloto.

Na sequência da tragédia e relativamente ao facto de apenas haver duas pessoas na cabine, ouvi na rádio o comandante Miguel Silveira, presidente da Associação de Pilotos de Linha Aérea, dar entender que estas companhias aéreas reduzem ao mínimo regulamentar as pessoas que deverão constituir a tripulação, sendo um facto que na mira de reduzir custos tudo se permite, aliás, referiu ainda que "se fosse por vontade deles (dos patrões), deixaria de haver mais de uma pessoa na cabine, se possível nenhuma, nem cabines haveria, nada de nada, o lucro é tudo o que interessa, os números, os números..." 




Dá que pensar. 
- o dinheiro,a ganância, o lucro está mesmo a "matar" os homens -

É o vale tudo na busca dos números, na insaciável procura do lucro, vale tudo mas, para determinada gente, cada vez menos vale a vida humana.


as lágrimas de crocodilo(s)

quarta-feira, 25 de março de 2015

BOM DIA NO ELEVADOR


Ontem entrei num elevador onde já estavam cinco pessoas, disse bom dia, e eis que, boquiabertos, estas olharam para mim como se ali tivesse entrado um marciano. Será que pareço mesmo um marciano?



Já não é a primeira que me acontece e dá que pensar...ou talvez não...



sexta-feira, 20 de março de 2015

LEITURAS 2015 - VII - EM NOME DA TERRA - VERGÍLIO FERREIRA




Já no fim da vida - a gente chega ao fim, que é quando já não tem embalagem para haver mais futuro, e então senta-se - João Vieira, viúvo e reformado, decide viver os últimos anos da vida num lar, já depois de, por motivos de saúde, lhe terem cortado a perna esquerda.

Ali, depois de ter doado todos os seus bens à sua filha Márcia, guardando para si apenas: a memória, um Cristo mutilado, um desenho de Durer e um disco de Mozart.

E ali na solidão e reclusão do lar vai mantendo um diálogo sem resposta, através de uma carta que decide escrever à sua mulher Mónica, já falecida, e que descreve como o seu amor eterno, rememorando toda uma vida que passaram juntos, falando dos três filhos do casal (Teo, Marta e André) que em comum têm um grande distanciamento do pai e talvez por isso fale deles de passagem.

É um livro duro que aborda igualmente, numa linguagem crua, toda uma série de questões reais como o envelhecimento e a degradação do corpo.  

É mesmo um livro triste, um livro que dói mas uma magnífica e pungente narrativa de um profundo amor.  

- o maior prazer de quem precisa é haver quem precise mais

-Querer esquecer é lembrar, o que não se lembra é apenas o que se esquece mas não se quer esquecer


Vergílio Ferreira 1916-1996 um grande escritor da língua portuguesa






sábado, 14 de março de 2015

OS CORVOS DE LISBOA



Andava eu na busca do "gato-pingado" ligado aos enterros na cidade de Lisboa no século passado, quando deparei com os corvos de Lisboa que vejo constantemente pelas esquinas e candeeiros da cidade e na bandeira do município e perguntei-me, porquê dois corvos?

Os dois corvos que aparecem no brasão de Lisboa estão ligados a São Vicente, mártir cristão do século IV e padroeiro dessa cidade. Por não querer abjurar (renunciar) da sua fé, os romanos o torturaram e atiraram o seu cadáver às aves de rapina. Segundo a lenda, um corvo defendeu os despojos. Os cristãos de Valência (Espanha) onde esta história se passa, receando que os árabes invasores da Península Ibérica, em meados do século VIII, profanassem o corpo do santo, resolveram trasladá-lo para o promontório Sacro, no Algarve. Ali construíram uma igreja e um convento, e o local passou a chamar-se Cabo de São Vicente. Dizia-se que os corvos que voavam sobre a igreja eram descendentes daquele primeiro corvo.  


Em 1173, o primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques, mandou trazer o corpo para Lisboa; dois corvos acompanharam as sagradas relíquias desde o Algarve, postando-se um à popa e outro à proa da embarcação que as transportava. 

Da tradição dos corvos de São Vicente, ficou a chamar-se vicente ao corvo e, por extensão, a outros animais negros.


segunda-feira, 9 de março de 2015

LEITURAS 2015 - VI - Dai Sijie




"BALZAC E A COSTUREIRINHA CHINESA", de DAI SIJIE (o primeiro livro escrito por este chinês, nascido em 1954, residente em França que escreve em francês, e que foi um dos grandes êxitos da edição francesa em 1999), que deve ser muito difícil de encontrar à venda nos tempos que correm mas que merecia ser reeditado. Foi o sexto livro que li este ano. 

Conta os destinos de dois adolescentes chineses durante a Revolução Cultural (nos tempos de Mao) que são castigados pelas suas origens intelectuais (filhos de médicos e engenheiros) enviados para o interior da China para trabalharem no campo. Aí conhecem, porém, uma jovem costureirinha, a filha do alfaiate da aldeia, muito atraente mas quase analfabeta que resolvem ensinar a ler. E como? Graças à ajuda da surpreendente descoberta (ou, melhor dito, surripiada por eles numa casa semi-abandonada) de uma misteriosa mala recheada de grandes livros, de grandes escritores do património universal (além de Balzac, Tolstoi, Flaubert, Gogol, Melville, Romain Rolland e outros) todos traduzidos para chinês. 

E estes dois amigos transferidos para uma longínqua aldeia, lá para as bandas do Tibete, apaixonam-se pela costureirinha e hão-de disputá-la com o chamariz do poder mágico da literatura. Ignoram, porém, que, no momento em que ela se tornar igualmente ilustrada, decidirá pela sua própria cabeça...

É daqueles livros que estava destinado a morrer esquecido na prateleira e que, após alguns anos depois de ali repousar, resolvi trazê-lo à vida... e ressuscitou.

Numa classificação de 0 a 7 merece-me pelo menos 3,5



quarta-feira, 4 de março de 2015

LEITURAS 2015 - V - PAULO MOURA


"LONGE DO MAR" de PAULO MOURA 

Uma agradável surpresa este pequeno livrinho editado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos (comprado no pingo doce), que nos conta histórias bem portuguesas, histórias de lugares e de gente simples, de gente que vive e viveu na mais negra miséria e que passou as maiores fomes.

"LONGE DO MAR" é uma viagem pela Estrada Nacional 2 de Chaves a Faro pelo interior. Paulo Moura percorreu a mais longínqua estrada do país, contando histórias de lugares e pessoas.

-Que aconteceu aos contrabandistas de Viva Verde da Raia? 

-à menina que amou de mais, 

-ao play-boy de Tortosendo, e às elites desta terra (do tempo da outra senhora) que o escritor covilhanense Manuel da Silva Ramos descreveu no seu livro "Café Montalto"

-à louca de Trevim, 

-ao casal de ferreiros (de Faro) apaixonado por livros, 

-a Natália que dormiu na cela o assassino do marido, 

-ou Joaquina, que viveu sozinha com a filha, Iria, durante 20 anos, numa aldeia abandonada? 

Os seus destinos, não o da estrada, marcaram o rumo desta agradável e excitante viagem.

Às vezes descobrimos estas pequenas maravilhas.