terça-feira, 31 de maio de 2011

O POPULISTA




Não compreendo a reacção de crítica e contrária do Bastonário da Ordem dos Advogados, Dr. Marinho Pinto, perante a decisão JUSTÍSSIMA (na minha modesta opinião) do juiz que determinou a prisão preventiva dos dois jovens envolvidos na bárbara, cobarde, desumana e cruel agressão da menor, junto ao C.C.Colombo.



Fiquei absolutamente desiludido, com um homem que até agora me parecia um indivíduo racional e justo, por esta opinião absolutamente desadequada do que é a justiça face à maneira de estar e de ser das nossas gentes!



Afinal a montanha pariu um rato, neste caso pariu um populista.



É por esta e por outras (semelhantes) é que a nossa justiça está como está.......

sexta-feira, 27 de maio de 2011

CALACEIROS





Levantaram-se os "donos" de Portugal, e não só, quando José Saramago se referiu ao facto de não ver com maus olhos uma união ibérica.





Mas porventura as mesmas pessoas que na altura se levantaram, agacharam-se agora, aplaudindo até, as afirmações da chanceler alemã Ângela Merkel, quando se referiu aos Portugueses como uns "calaceiros/preguiçosos/mandriões" que têm dias de férias a mais e que ganham mais para aquilo que fazem.





Porque é que, entre outras coisas, ninguém lhe recorda que a União Europeia pagou para que em Portugal não se produzisse, destruindo a produção portuguesa, podendo assim aumentar as exportações do seu país e os lucros dos seus bancos.





Será por isso que a Alemanha, se acha agora dona de Portugal e da Europa?

domingo, 22 de maio de 2011

BANDEIRAS



Aquando da recente conquista da última Liga Europa, na final disputada na passada quarta-feira, dia 18 do corrente mês de Maio, após o apito final, à chegada da equipa do F.C.Porto e durante as comemorações nas ruas daquela bela cidade Invicta, impressionou-me o facto de quase todos os jogadores do F.C.Porto trazerem pelos ombros a bandeira do seu país.


No entanto, o que mais impressionou não foi verdadeiramente o facto de ver as bandeiras de quase todos os países da América do Sul (mais uma de Cabo Verde e pelo menos outra da Roménia) mas sim não ver uma única de Portugal, ou seja a do país que afinal ganhou a taça.................. nem um jogador a trazia.



Confesso que me senti muito desconfortável.

sábado, 21 de maio de 2011

MÚSICAS NA MINHA VIDA - II

Não sei se será propriamente uma das músicas da minha vida mas esta é efectivamente uma canção que faz parte do meu imaginário.


Dalida sempre me pareceu uma mulher misteriosa e nem mesmo no dia em que ela se suicidou o mistério acabou.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

FEBO

Quando aqui falei sobre “os cães na literatura” não vos falei de Febo mas, porque se trata de uma história abominável e ao mesmo tempo sedutora, não quero nem posso deixá-la para trás.

Febo, o cão de que nos fala o grande e controverso escritor italiano Curzio Malaparte (1898-1957), no seu livro “A PELE”.

Refira-se que Curzio Malaparte era secretário da secção local da juventude do Partido Republicano; aos dezasseis anos rebenta a guerra de 14 (a 1ª. Grande Guerra Mundial), sai de casa, atravessa a fronteira e alista-se numa legião de voluntários para combater os Alemães. É deportado para a ilha Lipari e é a partir daqui que nos conta a história do seu cão Febo.

Durante os dois últimos anos de detenção, Febo está com ele e acompanha-o a caminho de Roma no primeiro dia da libertação.

Um dia, em Roma, Febo desaparece.

Após uma busca árdua, Malaparte fica a saber que, capturado por um marginal, foi vendido a um hospital para satisfazer experimentações médicas. Encontra-o vivo“estendido de costas, ventre aberto, uma sonda espetada no fígado”. Nenhum gemido sai da sua boca, pois, antes de os operarem, os médicos cortavam as cordas vocais a todos os cães. Por simpatia por Malaparte, o médico administra a Febo uma injecção mortal.

“Nunca gostei de uma mulher, um irmão, um amigo como gostei de Febo”

quarta-feira, 11 de maio de 2011

POR ONDE ANDEI EM 2010 - X

Cornish, uma localidade com cerca de 1 700 habitantes, situada nas margens do rio Connecticut, tem duas mercearias, um posto de correio, uma igreja e vários quilómetros de pinheiros, carvalhos, terra arável e colinas suaves. Há muito que é um reduto de férias para artistas e escritores, um refúgio solitário no meio da floresta. e foi aqui que descobri J. D. Salinger, falecido aos 91 anos, em Janeiro de 2010.



J.D.SALINGER (na foto) foi um dos mais misteriosos escritores norte-americanos, um feitio muito parecido com o do nosso Miguel Torga, e foi com ele (J.D.SALINGER) que fui à descoberta do seu mais célebre romance “UMA AGULHA NO PALHEIRO”, publicado pela primeira vez em 1951, talvez a mais marcante obra de J. D. Salinger, e uma das mais controversas da história da literatura norte-americana após a II Guerra Mundial.



Esta obra foi constantemente censurada e banida das escolas, livrarias e bibliotecas dos EUA devido ao seu conteúdo profano, à abordagem que faz do sexo e à forma como rejeita alguns dos ideais americanos.


O livro conta as aventuras de Holden Caulfield, um rapaz de 16 anos, que ao ter de deixar o colégio interno que frequenta, mas receoso de enfrentar a fúria dos pais, decide passar uns dias em Nova Iorque até começarem as férias de Natal e poder voltar para casa.


Confuso, inseguro, incapaz de reconhecer a sua própria sensibilidade e fragilidade, Holden percorre nesses dias um intrincado labirinto de emoções e experiências, encontrando as mais diversas pessoas, como taxistas, freiras e prostitutas, e envolvendo-se em situações para as quais não está preparado. Pareceu-me, na minha modesta opinião, um livro bem escrito.


Estamos em Novembro de 2010 e na minha rota segue-se Marrocos e viajo mais uma vez no tempo, até 1578 e dez mil guitarras jazem ao abandono no campo de batalha de Alcácer-Quibir. D. Sebastião desapareceu. Morto ou vivo? Há quem espere por ele... É isto que me oferece CATHERINE CLÉMENT no seu último romance “DEZ MIL GUITARRAS”., e ainda uma uma truculenta galeria de retratos de uma Europa em mutação: o peso dos Habsburgo, a violência das guerras religiosas, a loucura do Imperador da Áustria, a rebelião da jovem rainha Cristina da Suécia e a sua paixão por Descartes. Apesar do interesse do tema versado a escrita deste romance é (para mim) "pastosa", lenta, arrastada e não me cativou para futuros livros desta autora.



A meio do mês de Novembro vou depois ao encontro de Nelson Mandela mas disso vos darei conta na próxima crónica destas minhas andanças pelo Universo e pelas diferentes eras, sempre através dos livros que li em 2010.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

LUÍS AMARO - VELHO DIÁRIO DE INFÂNCIA

Já aqui tive ocasião de prestar a minha homenagem ao meu amigo e poeta Luís Amaro, que completa hoje mais um aniversário.


Luís Amaro - um homem que toda a vida fez bem mais pelos livros dos outros do que pelo seu desejo de escrever. Sempre foi de uma dedicação e entrega às obras dos outros, essa entrega e reconhecimento está guardada para sempre nos arquivos da Biblioteca Nacional onde em dezenas de caixas foi sendo entregue ao longo dos anos todo o acervo epistolar de Luís Amaro com Ruy Belo, Jorge de Sena, Régio, Gaspar Simões, Vergílio Ferreira, Sebastião da Gama e tantos outros, e imensos originais importantíssimos para conhecer melhor a obras de muitos dos nossos escritores e artistas.







Natural de Aljustrel, veio muito cedo para Lisboa e são dessa época estes seus versos, então publicados na revista SEARA NOVA, quando tinha apenas 20 anos; muitos entretanto passaram...

Não lhe pedi autorização para aqui os publicar mas sei que ele não me vai levar a mal apesar de ser um homem nada dado a este tipo de homenagens. A sua postura sempre foi a de passar despercebido, sempre a servir os outros e nada pedindo para si. É um amigo de sempre, para sempre!


VELHO DIÁRIO DE INFÂNCIA

I

Quando cheguei
Parecia-me ir morrer…
Atrás de mim uma sombra,
Um pesadelo e um grito,
Diante de mim – o incerto…

E só! E sem conhecer ninguém!
O comboio trouxera-me num domingo chuvoso
E triste (mesmo que o não fosse, era-o em mim)

Ia começar mais uma aventura.

Naquela cidadezinha,
Tão diferente da que deixara
-Melancólica e sombria, tumular –
Vivi horas boas e horas más,
Horas mais negras do que claras,
Porque mesmo das que eram aparentemente boas
Eu desconfiava, não as acreditando.

Mas, à medida que o tempo rolava,
Até essa falsa aparência se esvaía.
E, por fim,
Já não tinha uma ilusão para pôr no olhar,

-Com tantas horas negras eu já não podia!

Agora conhecia muita gente,
Mas, quanto mais gente conhecia,
Maior era a minha ânsia de evasão:
Por isso me encerrava no quarto
Aguardando a vinda dum sonho

….E esquecia!




II

Mas a companhia de mim
Já me pesava também,

E, então,
Na maré da minha dor,
Feita de cansaço e febre,
Minha doentia imaginação
Voejava…

Espectros antigos vieram
À chamada
Dos meus sentidos doentes.

E perdi-me de mim mesmo
No atalho
Tristíssimo, duma complexa neurastenia,

Domingos de sol claro
-O mais vibrante sol que inda vira!
Lá fora o sol e a volúpia
De vivê-lo e amá-lo…

E a noite em mim, sempre a noite.

domingo, 1 de maio de 2011

OS LIVROS DA MINHA VIDA - III

" A LÃ E A NEVE" romance de Ferreira de Castro publicado em 1947, que relata a proletarização nas fábricas têxteis da Covilhã, mostrando a dura realidade da vida do povo, através do relato de Horácio, um pastor da Serra da Estrela que pretendeu melhorar a vida, após ter tomado contacto com outras realidades durante o serviço militar.

A Lã e a Neve, tem como grande figura moral e personagem central o velho anarquista Marreta.

A LÃ E A NEVE é, depois da SELVA, o mais traduzido romance do autor. E foi a SELVA que lhe granjeou grande fama internacional, sendo traduzido em várias línguas.

As obras de Ferreira de Castro encontram-se traduzidos em vários idiomas.

Ferreira de Castro nasceu no seio de uma família pobre.

Os estudos de Ferreira de Castro foram apenas os primários. A ida para a escola e as primeira impressões colhidas do mundo exterior, são confessadas nas suas MEMÓRIAS, e, pela memória que nos poderá a nós trazer, não resisto a transcrever: - Era de Inverno. Ia de chancas, friorento, enroupadito. Creio que foi minha mãe quem me acompanhou até meio do caminho. Não me recordo bem. Mas lembro-me, nitidamente, da minha entrada na escola. Lá estava, ao fundo, a secretária, instalada sobre um estrado, o Sr. professor Portela. Era gordo e de carne muito branca e fofa. No primeiro plano, as carteiras com os alunos chilreantes. Alguns conhecia-os cá de fora. mas tomavam, ali, para a minha timidez, o papel de inimigos........

Da LÃ E A NEVE, um romance absolutamente arrebatador, aqui vai um pequeno excerto: Os homens passavam os dias e as noites dentro das fábricas só saindo aos domingos, para esquecer o cárcere. Já não viam as ovelhas, nem ouviam os melancólicos tanger dos seus chocalhos nos pendores da serra, ao crepúsculo; viam apenas a sua lã, lã que eles desensugavam, cardavam, penteavam, fiavam e teciam, lã por toda a parte......

Ferreira de Castro é um enorme, imenso escritor português, nascido em Salgueiros da freguesia de Ossela, Oliveira de Azeméis. Faleceu no Porto, aos 76 anos de idade, em 29 de Junho de 1974. É hoje um escritor injustamente esquecido e muito menos lido. Mas acreditem que vale a pena ler Ferreira de Castro!