domingo, 30 de janeiro de 2011

OLHARES CRÍTICOS - II

Eis a minha resposta à reflexão do meu amigo P anteriormente publicada:

Caro Amigo CP

Creio que as tuas palavras serão demasiada e perigosamente realistas, talvez até a palavra que mais se adeqúe a este teu pensamento será fundamentalista/realista.

Talvez por isso não queira (não queira, sublinho) estar de acordo contigo, quiçá...

É que, amigo, o homem para viver precisa do sonho, mesmo que utópico, mesmo até proclamando fazer o que, no fundo, até não quererá que aconteça (será hipocrisia a palavra adequada para esta acção?)

Viver sem sonhos, sem utopias, descer à essência das coisas não é fácil. A fantasia ajuda a viver.

Se não fossem os utópicos, se não fossem os sonhadores, se não fossem os revolucionários, os insensatos em que mundo ainda viveríamos?

Relembro as palavras de George Bernard Shaw: O homem sensato adapta-se ao mundo. O homem insensato insiste em tentar adaptar o mundo a si próprio. Portanto, todo o progresso depende de homens insensatos.

Um abraço

Seve

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

OLHARES CRÍTICOS - I

Há dias recebi uma mensagem do meu amigo P (por e'mail - as cartas estão infelizmente a desaparecer....) que me revelava uma das suas reflexões (como ele sublinha).

Esta sua reflexão deixou-me taciturno, pensativo e pôs-me também a reflectir profundamente. Dizia-me ele:

Os ricos que paguem a crise! Malditos ricos....Todos queremos ser ricos

INGÉNUOS vs CÍNICOS

Só na Ásia-Pacífico existe uma população equivalente à da Europa até aos Montes Urais, que vive com 1 €/dia.

São tão pessoas como nós!!! Têm tanta dignidade como nós, apenas são os mais pobres dos pobres. Vamos a uma perfumaria e gastamos, com a maior paz de espírito, num perfume (bem não essencial) o que cada um deles tem para viver num mês.

Se, por um passo de mágica, fosse possível a divisão equitativa da riqueza, os ricos acabavam, mas não era para nós melhorarmos. Era para aqueles milhões de deserdados da sorte.

E, depois, chegaria a nossa vez. Lá se ia o carrinho, as roupas (em abundância) de marca, o perfume, as férias no estrangeiro, as grandes casas, etc. etc...

Aceitávamos?

Afinal, há muita hipocrisia nas nossas boas intenções.

CAIXA DE RESSONÂNCIA

Unidos venceremos! Em frente.

Venceremos o quê?

A nossa sociedade, o nosso bem estar ou, antes do mais, acabar com a exploração dos mais pobres do Mundo, que, afinal, são explorados por todos nós?

Há muita fantasia nas nossas cabeças. Já vai o tempo que o meu empenho revolucionário era admirável, depois vi quanto eram irrealistas, para não dizer ingénuos (falsos?) salvadores.

Genericamente, todos queremos viver o melhor possível, seja a que custo for.
A nossa generosidade fica-se pelo nosso egoísmo.
Pobre dos (verdadeiros e muito) pobres.

Já tive oportunidade de responder a este meu amigo (publicá-la-ei nos próximos dias)

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

POR ONDE ANDEI EM 2010 - III

Iniciava-se o 2º.trimestre de 2010 e depois da DERROCADA do Espanhol Ricardo Menendez Salmon – revelava-me JOSÉ SARAMAGO no seu CADERNO Nº. 2, que ainda em 15 de Abril de 2009, "as FARC da Colômbia mantêm há 12 anos, 22 militares acorrentados a árvores"; Esta obra reúne o conjunto de textos que diariamente José Saramago foi escrevendo no seu blog entre Setembro de 2008 e Novembro de 2009. Representa as reflexões, as opiniões, as sugestões, críticas aos mais diversos assuntos e sobre as mais diversas questões.

Deambulei depois com AFONSO CRUZ que, tal como o seu pai, Vivaldo Bonfim, adora ler e deixa, no sótão da sua casa, uma bela biblioteca a seu filho que tem o mesmo apelido Bonfim, este herda o vício do pai e, com os LIVROS QUE DEVORARAM O MEU PAI, viaja pelos livros visitando o mundo dalguns livros que o pai adorou (Crime e Castigo de Dostoievsk, a Ilha do Tesouro, de Stevenson, etc.).

Visitei depois a agitada Lisboa de 1808 e fui tomar O PEQUENO ALMOÇO DO SARGENTO BEAUCHAMP, com VASCO DA GRAÇA MOURA (na 2ª. foto), que me contou uma história passada no tempo das Invasões Francesas, mais precisamente durante a primeira invasão francesa, na confusa situação gerada pela presença das tropas napoleónicas em Portugal. A vida, os amores e os projectos de futuro de Jacinto Negrão Bezerra de Albuquerque numa rápida sucessão de peripécias cujo encadeamento acaba por levar a um desfecho inexorável.

Com JOSÉ JORGE LETRIA mantivemos umas CONVERSAS COM LETRAS, mantendo uma série conversas com vários escritores portugueses.

Abril águas mil e é nesta altura que o norte-americano ROBIN SHARMA me relembra no seu LIVRO DA SORTE E DO SUCESSO que as melhores coisas da vida requerem paciência, concentração e sacrifício e que nem uma única vida grandiosa foi constituída sobre uma base de desculpas, por isso paremos de as inventar.

Vou retemperar forças e ganhar coragem para vos dar a conhecer um lugar imaginário onde tive oportunidade de conviver com os medos actuais e a falta de princípios nas cidades.

domingo, 16 de janeiro de 2011

POR ONDE ANDEI EM 2010 - II

Retomo o balanço das minhas leituras de 2010 e, por isso mesmo, relembro as minhas andanças por novos mundos, conhecendo novas gentes.

Ainda no Brasil, já depois de ter andado n O RASTRO DO JAGUAR, como vos contei no meu primeiro relato de 5 do corrente, conheci, através dos seus textos no PIF-PAF, o grande humorista MILLÔR FERNANDES que me ensinou que em geral o cabelo fica branco mais depressa do que o bigode porque o bigode é vinte anos mais novo.

Viajei depois para os EUA e, com PHILP ROTH, maravilhei-me com a sua INDIGNAÇÃO. Este grande autor norte-americano relata a curta vida de um filho único de um casal dono de um talho; vai para a Universidade, é um rebelde que apenas pensa em estudar desprezando tudo e dedicando-se inteiramente aos seus estudos, é um bom filho, mas é mobilizado para a guerra da Coreia (1952) e aí morre com 22 anos. Uma vida curta mas absolutamente arrebatadora.

DULCE DE SOUSA GONÇALVES revela-me a sua angústia e a sua vida nos últimos sete anos de vida do seu pai - doente de Alzheimer através da AUSÊNCIA-DIÁRIO DE UMA FILHA DOENTE DE ALZHEIMER.

UMBERTO ECO (com óculos e de chapéu), reconhecido escritor italiano e JEAN-CLAUDE CARRIÉRE argumentista ligado ao cinema, deixam-me ouvir com A OBSESSÃO DO FOGO uma bela conversa entre os dois sobre a magia dos livros e é através deles que fico a saber que foram provavelmente impressas duzentas a trezentas Bíblias de Gutenberg. Hoje sobrevivem quarenta e oito, doze delas em velino (pele de vitela que, depois de preparada, imita o pergaminho).

Aspectos bem interessantes da guerra civil espanhola é-me contada pelo JOSÉ VIALE MOUTINHO com as CENAS DA VIDA DE UM MINOTAURO.

RAYMOND CARVER, escritor norte-americano que morreu cedo com 50 anos, alcoólico, conta-me, através DE QUE FALAMOS QUANDO FALAMOS DE AMOR, uma série de histórias bem interessantes.

Com este jovem e grande escritor norte americano PAUL AUSTER, conheci MR VERTIGO, em que Walt, um órfão adoptado por dois tios, que o tratam abaixo de cão, é depois adoptado por um mestre que o treina na levitação e faz dele uma vedeta nesta arte

Assisti à DERROCADA depois de RICARDO MENENDÉZ SALMÓN me ter confessado, em 2009, uma grande OFENSA; esta Derrocada foi uma desilusão, depois de tanto ter prometido com a tal Ofensa.

E, com esta DERROCADA, fico-me hoje por aqui, esperando, dentro de dias, continuar a contar-vos por onde andei e quem conheci em 2010.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O COMBOIO DAS 8H22

Morávamos na mesma rua (Pedro Franco), da mesma cidade (Amadora), trabalhávamos todos na baixa de Lisboa, estudávamos (à noite) na mesma escola (do Cacém), tinhamos a mesma idade -16 anos-!

Logo pela manhã apanhávamos o mesmo comboio (das 8h22) para irmos trabalhar, era o comboio da juventude, quase toda a carruagem (a segunda da frente) era lotada por rapazes e raparigas tão jovens como nós, na plenitude da vida.
A alegria de viver morava em todos nós, apesar das dificuldades que a todos era comum, os tostões eram contados até ao último mas o mundo abria-se aos nossos sonhos, pelo que a nossa alegria era uma constante, uma alegria sã, inocente e do tamanho do mundo que era nosso.

Veio o serviço militar e fomos às nossas vidas, os anos passaram e nunca mais nos vimos e só agora, passados talvez mais de trinta anos o voltámos (eu-Severino e o Kim) a encontrar, o nosso amigo Carlos Domingues, a quem sempre carinhosamente chamámos Grila. Naquele tempo o Carlos tinha alguma dificuldade em soletrar a palavra que usava muitas vezes para tratar o Kim-puto reguila, e em vez de reguila dizia grila, e daí o epíteto de Grila.

Foi no nosso encontro anual, que todos os anos realizamos no segundo sábado de cada ano. Este encontro reúne muitos dos amigos que viveram a mesma infância/juventude, e finalmente o Grila esteve presente.

Foi um reviver de emoções, um recordar de momentos inesquecíveis da nossa juventude, partidas que fizemos uns aos outros, cenas que nunca mais esqueceremos e que sabe tão bem recordar, uma juventude que vivemos tão sadiamente e tão feliz apesar de todos os contratempos que, na altura, existiam, mas todos os dias a felicidade viajava na segunda carruagem do comboio das oito e vinte dois.......

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

POR ONDE ANDEI EM 2010 - I

Um novo ano começa; para todos um bom, muito bom 2011.

É tempo de balanços e é isso que me apresto a fazer, relativamente a 2010 - por onde andei, com quem andei, o que vivi, o que passei, quem conheci, e por aí adiante, o que mais se verá.........através dos livros que li:

Iniciei em Janeiro uma viagem, por terra, de Lisboa a Viena de Áustria no dorso do elefante Salomão, que veio da Índia e esteve em Portugal apenas 2 anos, quando D.João III resolveu oferecê-lo ao seu primo Maximiliano da Áustria. E assim, em 1550, por essa Europa fora iniciei A VIAGEM DO ELEFANTE, sempre guiado por JOSÉ SARAMAGO.

Passeei depois, nos tempos actuais, por terras norte-americanas com a Srª. ABIGAIL THOMAS vivendo, em Woodstock, Nova Iorque, UMA VIDA E TRÊS CÃES, e conhecendo por eles a lealdade, o amor incondicional e o carinho.

Ainda, nos EUA, conheci ROBIN SHARMA que me ensinou a SER MESTRE NA ARTE DE VIVER, e entre outras coisas depreendi que a arte de viver consiste em conseguir que até os agentes funerários lamentem a tua morte.

Conheci a Espanha de 1940, com CARMEN LAFORET, e vivi NADA.

Viajei depois para a América Central, a um país (República Dominicana) e a um tempo de ditadura (Trujilo) com JUNOT DIAZ tendo vivido A BREVE E ASSOMBROSA VIDA DE OSCAR WAO.

Para retemperar forças, fechei-me depois numa biblioteca aonde, com SAM SAVAGE, conheci o rato FIRMIN, com quem viajei no espaço e no tempo, através dos livros. Firmin era o 13º. filho de uma ratazana alcoólica que só tinha 12 tetas e que, tal como os irmãos, nasceu no sótão de um alfarrabista. Como Firmin era o mais fraco de todos os irmãos não chegava às tetas da mãe. Assim se safou do alcoolismo e, para sobreviver, começou a comer livros, tornando-se um rato culto.....

MARIA ANTÓNIA OLIVEIRA, apresentou-me um grande português, escritor, poeta, tradutor, publicitário, misterioso e sei lá que mais, ALEXANDRE O'NEILL (há mar e mar, há ir e voltar....), numa bela BIOGRAFIA LITERÁRIA e que me confidenciou; "bebo normalmente às refeições e fora das refeições".

Tomei contacto com a actual sociedade russa, fiquei a saber que o avô de Vladimir Putin (será um terrestre?) foi cozinheiro de Estaline e viajei ainda por mares profundos no submarino russo KURSK-O ROMANCE DE UMA EXECUÇÃO, com MARK DUGAIN, tendo assistido a uma tragédia absolutamente arrepiante em que 119 marinheiros russos ficaram encarcerados/blindados numa morte lenta e atroz.

Ainda nos primeiros meses deste ano de 2010, através da PIMENTA DA ÍNDIA, com ANA MARGARIDA DE OLIVEIRA, consegui viver simultaneamente em duas épocas - na época dos descobrimentos, no séc. XVI, em que vivi uma extenuante, perigosa mas inesquecível viagem marítima da Índia para Portugal, numa bela caravela portuguesa, carregada de especiarias, tendo assistido ao seu naufrágio ao largo dos Açores, e na época actual em que vivi a vida actual de duas pessoas casadas que se envolvem e que vão aos Açores à procura dum documento perdido pelo referido navio naufragado.

FRANCIS AMALFI levou-me à A OFICINA DOS ESCRITORES, uma oficina aonde conheci muitos escritores portugueses e estrangeiros, tendo, ao mesmo tempo, tomado conhecimento de algum do seu trabalho através das suas notáveis frases e máximas inesquecíveis; por exemplo George Bernard Shaw revelou-me que o homem sensato adapta-se ao mundo. O homem insensato persiste em tentar adaptar o mundo a si próprio. Portanto, todo o progresso depende do homem insensato.

Finalmente, no séc. XVIII, ainda antes do grito do Ipiranga, viajei pelo imenso e misterioso Brasil n O RASTRO DO JAGUAR , com MURILO CARVALHO, em que fiquei a conhecer a história de Pierre um índio guarani brasileiro que aos 2 anos foi trazido por um biólogo francês para Paris e ali foi criado e ali estudou e se formou, tendo ainda servido no exército francês; aos 21 anos decide voltar ao Brasil para procurar as suas origens. Conheci ainda e muito bem o que foi a colonização do Brasil, nomeadamente dos índios guaranis pelos portugueses e até pelos próprios brasileiros.

Foi um começo de ano de grandes viagens, em que conheci os mais belos, estranhos e misteriosos seres humanos, outras civilizações, outros povos, vivi aventuras e romances inequecíveis, conheci e vivi os tempos áureos dos portugueses no séc. XVI e preparei-me (em terra) para fazer mais viagens, para conhecer novas pessoas, novas gentes, novos usos e costumes, outros tempos passados e futuros, que, na próxima semana, vos continuarei a revelar.