sábado, 30 de janeiro de 2016

IR AO CINEMA


Ir ao cinema era, em tempos não muito distantes, um acto festivo que merecia indumentária apropriada, vestiamo-nos para ir ao cinema como se fôssemos para uma festa, era um dia especial. Era até quase um acto social - ia-se para ver e ser visto.

Um hábito que se perdeu. Creio que o aparecimento dos centros comerciais e o fim das grandes salas de cinema para isso contribuíram decisivamente, criando novos hábitos.

As pipocas são agora uma praga, os telemóveis não param de reflectir não só a luz mas também o som -há (muitíssima) gente que é absolutamente incapaz de sobreviver sem telemóvel- e o gosto pelo cinema virá, talvez, por acréscimo...

Eu não perdi nem o gosto nem o hábito de ir ao cinema, talvez já não com expectativas de ir ver e ser visto mas o meu gosto pelo cinema permanece (sem pipocas e sem telemóvel). Neste mês de Janeiro vi dois excelentes filmes: "A RAPARIGA DINAMARQUESA", baseado no romance homónimo de David Ebershoff e inspirado na vida das pintoras dinamarquesas Lili Elbe e Gerda Wegener, com uma interpretração absolutamente avassaladora do personagem principal -Lili- (o actor Eddie Redmayne).

O outro bom filme que vi (no passado fim de semana) foi "O RENASCIDO", inspirado em factos verídicos, (baseado no romance de Michael Punk), com LEONARDO DICAPRIO a revelar-se um belíssimo actor e um seriíssimo candidato ao Óscar.

São dois filmes excelentes!




terça-feira, 26 de janeiro de 2016

LEITURAS 2016 - IV - "O IMPOSTOR" - JAVIER CERCAS

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Esta é a história (verídica) de um mentiroso: Enric Marco. Um nonagenário barcelonês que se fez passar por sobrevivente dos campos nazis e que foi desmascarado em Maio de 2005, depois de presidir durante três anos à associação espanhola dos sobreviventes, de dar centenas de conferências e de receber importantes distinções.

Javier Cercas persegue nestas 470 páginas o enigma da personagem, a sua verdade e as suas falsidades.

Só que, quase quinhentas páginas pareceram-me excessivas, pois na primeira centena a história já estaria quase contada. Ainda cheguei à página 210, mas sentindo que a partir daí seria a repetição de uma história que já estava por demais dissecada, (e por mais que me custe não acabar um livro) fiquei por ali...

Percebe-se por isso que gostei mais do seu livro anterior (A leis da fronteira).


Javier Cercas    -    Espanha  n. 1962

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

LEITURAS 2016 - III - "O GRANDE REBANHO" - JEAN GIONO


Este é um romance sobre a Primeira Guerra Mundial, (cujo centenário foi assinalado há dois anos) em que o autor, que participou no conflito, tenta denunciar os horrores e o absurdo da guerra.

Todavia, confesso, nunca consegui apanhar "o fio à meada", já que a alternância entre episódios passados na linha da frente e os que ocorrem nas zonas distantes do campo de batalha, sempre me pareceram episódios desgarrados, diálogos completamente sem nexo que nunca me conseguiram prender muito menos fazer entrar em algo que o autor pretenderia transmitir. É um livro para arrumar num canto, numa das prateleiras lá de detrás pois será um autor a que dificilmente voltarei. 

Quando à página cinquenta e tal ainda não sabia bem o que se estava a desenrolar, em que as personagens e as cenas me apareciam completamente desgarradas tive, com grande pena minha, de desistir. 

Para esquecer, às vezes acontece, e quando as expectativas são algumas (e as críticas boas) a desilusão é ainda maior.  

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

LEITURAS 2016 - II - "HISTÓRIA(s) DO ESTADO NOVO - AS PALAVRAS - OS FACTOS-" - MARCELO TEIXEIRA


Uma surpresa recheada de factos curiosos este livro de 350 páginas, escrito por Marcelo Teixeira, licenciado em história.

"HISTÓRIA(S) DO ESTADO NOVO - AS PALAVRAS - OS FACTOS-"-É um bom livro que retrata muito bem o que foi o Estado Novo.

Passa em revista os principais acontecimentos nacionais ocorridos de 1933 a 1974.

Aborda, entre muitos outros, temas como a "neutralidade" portuguesa na Segunda Guerra ou a adesão do nosso país ao "Plano Marshall", a viagem de avião de Salazar ou o assalto ao Banco de Portugal, a Primavera marcelista ou a Guerra Colonial, o desvio do navio Santa Maria, ou o exílio do Bispo do Porto e muitos muitos outros e curiosos (e pouco conhecidos) factos ocorridos entre aquelas datas (1933-1974).

Num estilo e numa linguagem muito simples, acessível e apetecível permite revisitar um período único da História Contemporânea de Portugal.



Tal como já referi é numa linguagem simples que são abordados os factos mais salientes ocorridos neste período, não só a nível nacional mas também internacional:

- 1935 - No continente americano termina a Guerra do Chaco, deixando um rasto de 90 mil mortos e tendo a Bolívia perdido para o Paraguai parte do território. Nos Estados Unidos a Lei Wagner oficializa o direito sindical.

-1936 - o Hino da Mocidade Portuguesa é escrito pelo poeta alentejano Mário Beirão (curioso)

-1940 - EXPOSIÇÃO DO MUNDO PORTUGUÊS em Lisboa- Uma das visitas ilustres foi o autor de "O PRINCIPEZINHO" Antoine de Saint-Exupéry, que tece os maiores elogios a esta exposição. 

E muitos, muitos outros curiosos factos que fiquei a conhecer, alguns que me fizeram abrir a boca de espanto.

  

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

LEITURAS 2016 - I - "CONTRA BERNARDO SOARES E OUTRAS OBSERVAÇÕES" - VASCO GRAÇA MOURA



Comprei-o por € 1, num alfarrabista de rua, e foi o primeiro livro que li neste novo ano de 2016 -era o que tinha mais à mão, e como leio tudo o que mexe...-.

A erudição deste homem da cultura é impressionante, o fôlego e a clareza dos seus textos contados neste livro de crónicas, editado em 1999, resultado de uma colaboração do autor na imprensa, talvez se aproxime mais de um diário do que de outros géneros.

Vasco Graça Moura foi realmente um vulto enorme da cultura portuguesa do século XX.

Algumas das pequenas crónicas (duas páginas no máximo) aqui contadas são portadoras de uma erudição que não estão ao alcance do leitor comum, mas não deixam de ser interessantes, transmitindo ao leitor pelo menos mais saber e conhecimento, que é isso que fundamentalmente (mas não só)  se espera dos livros. 

Poeta e tradutor de grandes poetas, romancista, dramaturgo,
cronista, antologiador, historiador honoris causa, advogado,
político, gestor cultural e várias outras actividades...

domingo, 10 de janeiro de 2016

LIVROS 2015 - BALANÇO DE LEITURAS



Fazendo um balanço dos livros que li (55) em 2015, devo confessar que não foram muitos aqueles que irei reter na memória como grandes livros. 
A minha ordem de preferência rege-se por esta escala, que elaborei deste modo:

0 - li, mas não me merece mais do que zero, porque não entendi
1 - desisti (quando, ao fim de ter lido dez/vinte páginas, ainda não entrei na história, ainda não compreendi do que se trata, claro que desisto, embora me custe muito desistir de um livro)
2 - li, mas não me cativou (e dificilmente voltarei a este livro e muito menos a este autor-há tanta coisa para ler...)
3 - razoável (costumo dar-lhe uma segunda oportunidade, não ao livro mas talvez ao autor)
3,5 - interessante (gostei e será mais um autor a que irei estar atento)
4 - bom (gostei muito, pelo que vou tentar estar atento às obras do autor) 
5 - muito bom (fico sempre com a vontade de o voltar a ler -o livro-)
6 - excelente (um autor que passará a ser o primeiro nas minhas preferências embora por vezes essas expectativas saiam goradas) 
7 - obra prima (só muito raramente costumo ter a sorte de o encontrar)



  1 - "Sempre o diabo" - Donald Ray Pollock - 6
  2 - "O coração é um caçador solitário" - Carson McCullers - 5
  3 - "A confraria do vinho" - John Fante - 5
  4 - "Não matem a cotovia" - Harper Lee - 5
  5 - "A balada do café triste" - Carson McCullers - 5
  6 - "Billy Bud" - Herman Melville - 4
  7 - "As loucuras de Brooklyn" - Paul Auster - 4
  8 - "Pergunta ao pó" - John Fante - 4
  9 - "Em nome da terra" - Vergílio Ferreira - 4
10 - "O pregador" - Erskine Caldwell - 4
11 - "conta corrente 1" - Vergílio Ferreira - 4
12 - "As leis da fronteira" - Javier Cercas - 4 
13 - "conta corrente 2" - Vergílio Ferreira - 4
14 - "Bibliotecas cheias de fantasmas" - Jacques Bonnet - 4
15 - "Breviário das más inclinações" - José Riço Direitinho - 4
16 - "conta corrente 4" - Vergílio Ferreira - 4
17 - "O barão de Lavos" - Abel Botelho - 4
18 - "conta corrente 5" - Vergílio Ferreira - 4   
19 - "Longe do mar" - Paulo Moura - 4
20 - "Nós, os afogados" - Carsten Jensen - 4
21 - "A peregrinação do rapaz sem cor" - Haruki Murakami" - 4
22 - "Fotobiografia de Vergílio Ferreira" - Helder Godinho/Serafim Ferreira - 4
23 - "Pó, Cinza e Recordações" - J. Rentes de Carvalho - 4
24 - "conta corrente nova série II" - Vergílio Ferreira - 4 
25 - "Balzac e a costureirinha chinesa" - Dai Sijie - 3,5
26 - "Estrada para Los Angeles" - John Fante - 3,5
27 - "12 anos escravo" - Solomon Northup - 3,5
28 - "Os fragmentos" - Ferreira de Castro - 3,5
29 - "conta-corrente 3" - Vergílio Ferreira - 3,5      
30 - "Bartleby & Companhia" - Enrique Vila-Matas - 3,5
31 - "O relógio do cárcere" - José Riço Direitinho - 3,5
32 - "Paternidade" - Domingos Monteiro - 3,5
33 - "conta corrente - nova série I" - Vergílio Ferreira - 3,5
34 - "O naufrágio do Titanic" - Joseph Conrad - 3,5
35 - "Mulheres da Beira" - Abel Botelho - 3,5
36 - "Deste mundo e do outro" - José Saramago - 3,5
37 - "O amante bilingue" - Juan Marsé - 3,5
38 - "Terra do pecado" - José Saramago - 3,5
39 - "Da cidade nervosa" - Enrique Vila-Matos - 3,5
40 - "Não se encontra o que se procura" - Miguel de Sousa Tavares - 3,5
41 - "Correr" - Jean Echenoz - 3,5
42 - "Diário I e II" - Miguel Torga - 3,5
43 - "Uma caligrafia de prazeres" - António Mega Ferreira - 3
44 - "Caminhada" - Henry David Thoreau - 3
45 - "A manhã do mundo" - Pedro Guilherme Moreira - 3
46 - "Só se morre uma vez" - Rita Ferro - 3
47 - "Recordando a Guerra Espanhola" - George Orwell - 3
48 - "Doze contos peregrinos" - Gabriel Garcia Marquez - 3
49 - "A ilha de Caribou" - David Vann - 3
50 - "conta corrente nova série III" - Vergílio Ferreira - 3
51 - "O livro das tentações" - Oscar Wilde - 2
52 - "Mazagran" - J. Rentes de Carvalho - 2
53 - "O tempo envelhece depressa" - António Tabuchi - 2
54 - "Elogio do silêncio" - Marc de Smedt - 2
55 - "A papoila e o monge" - José Tolentino Mendonça - 0


Não sendo uma obra prima, "SEMPRE O DIABO" de Donald Ray Pollock foi o livro de que mais gostei em 2015. Bastaram cinco ou seis páginas para "sentir" que estava perante um grande livro na linha dos escritores americanos que mais gosto, como Flannery O'Connor e Joyce Carol Oates, só para falar destes dois já que o tema abordado é semelhante.



quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

LEITURAS 2015 - LV (55) - "DIÁRIO - Vol. I e II" - MIGUEL TORGA


Que me lembre ainda só tinha lido dois livros de Miguel Torga ("O Senhor Ventura" e "Os Bichos").

Este "Diário Vols. I e II" foi o último livro que li em 2015.

Miguel Torga era o pseudónimo literário do médico Adolfo Correia da Rocha, natural da aldeia de São Martinho da Anta, concelho de Sabrosa, em Trás-os-Montes. O nome resulta da homenagem a dois grandes vultos da cultura ibérica (Miguel de Cervantes e Miguel de Unamuno); torga é uma urze  que sobrevive entre as fragas das montanhas.

Com os seus diários (volumes I e II) retomei agora a leitura deste grande escritor português.

O Diário I diz respeito ao período de 1932-1941, e o Diário II referente a 1941-1943. Gosto destes diários em que os autores não abordam unicamente o que se passa no seu dia a dia mas que nos vão também falando das várias situações da vida com que se vão deparando, situações inesperadas que lhes surgem diariamente. 

Miguel Torga, tal como o faz Vergílio Ferreira, relata-nos muito bem essas várias situações, as tristes, as absurdas, enfim, as suas opiniões, sábias e curiosissimas e sempre reveladoras de grande sapiência que constituem um grande ensinamento.  

Curiosas as suas abordagens a alguns livros e a alguns escritores, por exemplo: - "Uma vida" de Guy de Maupassant -um assombro, a cena do velório. Mas este Maupassant era mau aluno. Ouviu as lições de Flaubert, ouviu, e ficou-se na sua -génio- E com ele escreveu os seus eternos contos, a rir-se dos romances de Zola, de Balzac, e até do próprio mestre, excluindo Madame Bovary, claro está

Miguel Torga, depois de frequentar o Seminário no Porto, abala para o Brasil em 1920, aos treze anos. Sua puberdade decorre em Minas Gerais, numa fazenda -a Fazenda de Santa Cruz- onde um irmão do pai lhe ministra alguns conhecimentos e a esposa deste o humilha, movida pela desconfiança de vir Miguel Torga a ser o herdeiro do tio, em prejuízo dos filhos do primeiro matrimónio dela. Atrás das vacas, guardando os porcos da fazenda, acarretando água, fazendo recados, pode-se dizer que tem uma sorte madrasta. Um dia o tio descobre que sua mulher maltrata Miguel Torga e para o afastar dela manda-o estudar. Estamos em 1924. No ano seguinte, Miguel Torga volta para Portugal; o tio, como pagamento de cinco anos de serviço, pagar-lhe-à o curso superior em Coimbra. 
Poeta e prosador, foi várias vezes candidato ao Prémio Nobel da Literatura, apresentando a sua obra um forte carácter humanista 


Miguel Torga  1907-1995



domingo, 3 de janeiro de 2016

A LOCOMOTIVA HUMANA - LEITURAS 2015 - LIV (54) - "CORRER" - JEAN ECHENOZ


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Neste excelente livro (baseado em factos reais), Jean Echenoz dá-nos a conhecer a vida excepcional do maior atleta checo, consagrado como um dos maiores fundistas de sempre -EMIL ZATOPEK, que era reconhecido facilmente por ter um estilo de corrida pouco ortodoxo, e que cometeu um feito único na história do atletismo olímpico, ao ganhar numa única olímpiada (Helsínquia 1952) os 5.000 metros, os 10 mil metros e a maratona, conhecido como a locomotiva humana e reconhecido como herói nacional.




Zatopek era na verdade inconfundível: desengonçado (os seus braços permanentemente dobrados, faziam lembrar as asas de um assador de castanhas). Não escondia uma impressionante máscara de esforço (as suas caretas eram curiosas para não dizer assustadoras). Só descobriu o atletismo quando tinha 18 anos ao participar acidentalmente numa prova de crosse. A partir desse dia, o checo submeteu o corpo a um trabalho físico anormalmente duro e intenso e durante os treinos utilizava botas da tropa em vez de sapatos apropriados.

É um livro comovente e emocionante que percorre quarenta anos de história descrevendo os  maiores sucessos deste grande atleta, tal como as difíceis relações com o poder vigente e as perseguições políticas que praticamente ditaram o fim da sua carreira. 


depois do sensacional triunfo na maratona, Emil recebeu da esposa Dana, o beijo da consagração

À data dos Jogos Olímpicos de Helsínquia, em 1952, estava casado com Dana Ingrova que, na mesma olimpíada, venceu a prova de lançamento do dardo.
Emil Zatopek morreu em Praga aos 78 anos, em 20.11.2000. 
Sempre foi uma pessoa sorridente, aberta e tranquila. Exemplo de atleta e de vida. 

o autor do livro, Jean Echenoz, Orange-France-1948