domingo, 25 de maio de 2014

LIVROS SURPRESA - II

"A vida e o tempo de Michael K" do escritor Sul-Africano J.M.Coetzee (nascido na cidade do Cabo em 1940) foi o primeiro livro que aqui abordei como um dos livros que li e que me surpreenderam, certamente porque parti para a sua leitura com expectativas baixas. Hoje vou falar doutro livro que, do mesmo modo, me surpreendeu positivamente e que li sofregamente e de seguida.




"DOMÍNIOS DA NOITE" do escritor norte-americano WILLIAM GAY (1941-2012), é um excelente livro que li em 2008 e que era para mim um livro absolutamente desconhecido, tal como o era o autor. Foi o meu amigo Almeidinha que mo recomendou, e em boa hora.

É um grande romance sobre a vida no interior do Sul dos Estados Unidos, uma história de violência e redenção cujo inesquecível final, mais do que um fim, é uma apoteose. 

Estamos em 1952, e E.F.Bloodworth, um músico de blues, decide finalmente voltar a casa, no Tennessee, após trinta anos de ausência. Mas dois dos seus filhos não estarão lá para o receber. Warren tornou-se um alcoólico, e vive uma existência promíscua no Alabama, e Boyd foi para Detroit atrás da mulher e do homem com quem ela fugiu, para tentar matar este último.

O terceiro filho, Brady, vive ainda na velha casa da família, mas é agora um vidente semi-tonto, que faz tudo o que está ao seu alcance para impedir que o pai se encontre com a mulher que abandonou há trinta anos. Só Fleming, o neto, fica feliz com o seu regresso, mas a vida deste último irá em breve seguir uma direcção imprevista, determinada por Raven, um jovem de dezasseis anos que é a mais bela rapariga das redondezas. 

Este magnífico livro, com uma escrita que me fez lembrar o imortal John Steinbeck (AS VINHAS DA IRA e A LESTE DO PARAÍSO, são dois livros inesquecíveis) e a grande escritora, também norte americana, Flannery O'Connor, foi o segundo livro surpresa que aqui quis deixar testemunhado, o terceiro foi outro livro absolutamente fascinante, que já li há muitos anos mas que conservo bem presente e de que aqui falarei brevemente. 

domingo, 18 de maio de 2014

O PRESIDENTE E O FACEBOOK

«O que mais me vem à memória, no dia de hoje, são as afirmações perentórias de agentes políticos, comentadores e analistas, nacionais e estrangeiros ainda há menos de seis meses, de que Portugal não conseguiria evitar um segundo resgate. O que dizem agora?».


Foi com estas palavras que Cavaco Silva afrontou, com um ar decidido, dinâmico (está na moda) e valente (como tem feito para acabar com a degradação do nível de vida da população portuguesa), uma grande parte dos portugueses, ou seja aquele que deveria ser o Presidente de todos nós transforma-se assim como que num inimigo de metade da população, sempre pronto a enviar farpas aos que ele julga não pertencerem ao seu grupo. E esta de utilizar o Facebook para comunicar com os Portugueses é absolutamente inenarrável, como se o Facebook fizesse parte dos hábitos "alimentares" dos portugueses...

Cavaco no seu grupo


terça-feira, 13 de maio de 2014

LIVROS SURPRESA - I

Por vezes parto para a leitura de um livro com expectativas elevadíssimas e na maioria destas situações nem sempre se confirmam as minhas esperanças de um grande livro, às vezes são até grandes desilusões.
De outro modo, já me aconteceu muitas vezes partir para a leitura de um livro, escolhido quase que ao acaso, sem qualquer expectativa e é aí que me têem surgido grandes revelações e é desses livros que me surpreenderam positivamente que hoje parto para uma abordagem, que tenciono continuar em próximos "capítulos".




E começo pelo excelente "A VIDA E O TEMPO DE MICHAEL K" de J. M. Coetzee.

Li este livro, publicado em 1983, alguns anos antes do autor ter sido laureado com o Prémio Nobel  da Literatura, tendo, na altura, sido uma das tais surpreendentes descobertas. A edição que li é da excelente colecção "PRÉMIO NOBEL" que o Diário de Notícias lançou há alguns anos.

O autor, John Maxwell Coetzee, um descendente de colonos holandeses que se estabeleceram na África do Sul no século XVII, nasceu na cidade do Cabo em 1940. Licenciou-se em Inglês e em Matemática. Entre 1962 e 1965 viveu em Inglaterra, trabalhando aí como programador informático. Depois de passagens por instituições académicas inglesas e americanas, Coetzee fixou-se em 1972 como conferencista na Universidade da Cidade do Cabo, então exclusivamente para brancos. Com "A VIDA E O TEMPO DE MICHAEL K" (1983) e "DESGRAÇA" (1999) ganhou duas vezes o Prémio Bookeer. Em 2003 foi laureado com o Prémio Nobel da Literatura.
A mulher com quem casou em 1963 faleceu em 1991, apenas dois anos depois do seu filho Nicolas, morto aos 23.

O escritor descreveu-se a si próprio como uma criança enfermiça e devoradora de livros.




"A VIDA E O TEMPO DE MICHAEL K" - Numa África do Sul dilacerada pela contestação ao regime de "apartheid" Michael K - jovem jardineiro, simples de espírito, tenta fugir ao caos instalado na Cidade do Cabo, sonhando retirar-se para uma quinta no distrito de Prince Albert. O projecto de fuga tem como mentora a sua própria mãe, uma mulher doente que o filho carrega num carrinho improvisado durante a parte inicial do percurso. Até que ela morre. É assim, sozinho, criança  grande largada à vida, que Michael K prossegue a jornada em direcção a esse destino mítico, lugar que, ele ainda não sabe, foi há muito subtraído à realidade. Pelo caminho sobrevive à fome e à repressão que se abate sobre ele, agarrando-se como um náufrago ao puro instinto da liberdade, certo de que sem ela definharia: "Porém, não conseguia imaginar-se a passar a vida a plantar estacas, levantar barreiras, dividir as terras".

Foi efectivamente um livro surpreendente dum autor que era na altura um absoluto desconhecido, pelo menos em Portugal.



E nos livros posteriores que li deste autor nunca me desiludiu. É um grande escritor!

terça-feira, 6 de maio de 2014

O QUE ANDO A LER

José Eduardo Agualusa é um jovem (mas consagrado) escritor angolano (Huambo-13.12.1960).
"O vendedor de passados" foi o primeiro livro que li deste excelente escritor e que logo me agradou imenso. Li entretanto alguns outros que não me despertaram um interesse de assinalar.




Mas eis que me chega às mãos "TEORIA GERAL DO ESQUECIMENTO" do JOSÉ EDUARDO AGUALUSA. Este excelente livro, baseado numa história real, a de Ludovica Fernandes Mano, começa em Luanda, 1975, nas vésperas da Independência. Uma mulher portuguesa (Ludovica) aterrorizada com a evolução dos acontecimentos, ergue uma parede separando o seu apartamento do resto do edifício - do resto do mundo -.
Ludovica é uma mulher muito particular. Portuguesa, a viver em Angola quando se dá a independência, vê-se sozinha sem saber o que aconteceu à irmã e ao cunhado, com quem vive. Ludo (como é tratada) isola-se e ergue uma parede que a mantém fechada em casa durante 30 anos. Curiosamente não isolada do mundo na totalidade, além de ir interpretando à sua maneira o que avista pelas janelas e terraço da casa, o mundo também lhe vai entrando pela casa dentro na forma de acontecimentos especiais e aparentemente inusitados.
Ludo conhece a dor, a fome, a doença, a solidão, o medo. Mas conhece também a amizade, o valor de ter amigos, família, aprende a deixar
entrar pessoas na sua vida. Compreendemos, a seu tempo, as razões de Ludo. Ludo compreende, também com tempo, que a vida é para ser vivida, que cada dia é uma surpresa, que a felicidade só existe porque conhecemos também a tristeza.

É um romance sobre o medo do outro, o absurdo do racismo e da xenofobia, sobre o amor e a redenção e que recomendo vivamente. Excelente. 
Ludovica Fernandes Mano faleceu em Luanda a 5 de Outubro de 2010.