sábado, 30 de dezembro de 2017

"O MISTÉRIO DA LÉGUA DA PÓVOA" - AGUSTINA BESSA-LUÍS - LEITURAS 2017 - XXIV


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Este "O MISTÉRIO DA LÉGUA DA PÓVOA" é um daqueles livros de capa amarela que integra a muita interessante colecção que, por volta de 2004, foi publicada pelo jornal O INDEPENDENTE, e que ainda se encontram nalguns alfarrabistas.
Antes de ter sido publicada em livro, esta crónica tinha sido publicada no referido jornal, entre 2001 e 2002, como folhetim.


Talvez por isso eu tenha achado o livro, em determinado capítulos, algo repetitivo pois a autora teve certamente a intenção de manter sempre a par do que ia acontecendo os leitores que iam chegando e que poderiam ter perdido alguns folhetins anteriores.


Nele se narra a história verídica de Maria Adelaide Coelho da Cunha, "Senhora de São Vicente", filha mais velha e herdeira do fundador e co-proprietário do Diário de Notícias, o jornalista Eduardo Coelho, e mulher de Alfredo Cunha também jornalista, que, no fim da tarde de quarta-feira dia 13 de Novembro de 1918, saiu de casa, o palácio de São Vicente, à Graça, para nunca mais voltar e, dirigindo-se à estação de comboios do Rossio, comprou um bilhete para Santa Comba Dão onde pretendia começar uma nova vida junto de Manuel Claro o motorista da família, na Serra da Gralheira, e para levar uma vida de pobre, ignorando a fortuna de que era detentora, já que efectivamente era uma mulher muito rica. 

Contudo, uma vez que a Maria Adelaide seria, como já foi referido, a detentora de uma grande fortuna, o marido com medo de a perder (a fortuna) invocando que ela estaria louca e sem condições de gerir a sua vida conseguiu que fosse internada à força num manicómio (Hospital de Conde de Ferreira no Porto), num quarto em que a porta estava trancada com 6 ferrolhos, isto depois de avaliada por três famosos e reputados médicos alienistas (médico especializado em doenças mentais) da altura (Dr. Egas Moniz, o Dr.Júlio de Mattos  e o Dr. Sobral Cid, director e adjunto do manicómio de Miguel Bombarda) que a definem como "louca lúcida". Deste manicómio ela consegue, contudo, evadir-se por duas vezes. Depois do segundo internamento de Maria Adelaide, Manuel Claro recolheu aos calabouços da Relação para lá ficar sepultado durante quatro anos, acusado de rapto, no meio da turba de prisioneiros (eram mais de setecentos) nas piores condições que se possam imaginar e que fizera dizer a D. João V "isto tem de ser demolido".  


Uma vez posta em liberdade, Maria Adelaide nunca mais regressou a Lisboa, ficando a viver no Porto. Primeiramente em casa da família de Bernardo Lucas mas aqui apenas por algum tempo, mudando de alojamento por diversas vezes é de presumir que com a libertação de Manuel Claro fossem ambos viver juntos, ao que se julga na Rua da da Cedofeita. Maria Adelaide saiu do Hospital de Conde de Ferreira por ordem do Ministério do Interior, depois de muitas diligências do Doutor Bernardo Lucas, amigo de Maria Adelaide, a pretexto de que ela fora internada num manicómio sem mandado nem confirmação judicial.

Agustina Bessa-Luís é realmente uma grande escritora portuguesa. Este é o terceiro livro que leio dela, contudo, gostei mais dos outros dois (o romance "A SIBILA" e o romance histórico "FANNY OWEN").

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Agustina Bessa-Luís      Vila Meã-Amarante, 1922

3,5-interessante

0 - li, mas foi zero
1 - desisti
2 - li, mas não me cativou
3 - razoável
3,5 - interessante
4 - bom
5 - muito bom
6 - excelente
7 - obra prima



sábado, 23 de dezembro de 2017

"O SONHO DO CELTA" - MÁRIO VARGAS LLOSA - LEITURAS 2017 - XXIII

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"O SONHO DO CELTA" baseia-se na vida do irlandês Roger Casement, cônsul britânico, defensor dos direitos humanos, nacionalista irlandês que muito lutou para conseguir a independência do seu país, resultando na sua prisão e condenação à morte e executado, por traição (à Coroa Britânica).

Mas é sobretudo a denúncia das atrocidades do regime colonial no Congo belga e na Amazónia peruana, em inícios do séc. XX, a parte que achei mais interessante deste livro de mais de quatrocentas páginas.

Efectivamente, durante duas décadas denunciou a crueldade que se abateu sobre as populações locais -os indígenas- que são tratadas como selvagens e escravos, cuja extracção da borracha é por eles feita em condições inumanas e de absoluta escravidão a quem são infligidos os mais cruéis castigos apenas com o intuito de enriquecer os mercenários e bárbaros capatazes ao serviço das empresas de borracha coloniais.

Roger Casement é mais do que um personagem de romance, a sua vida extraordinária cheia de aventuras, ousadias, sonhos e perseguições é também um fragmento da história da humanidade que não desiste de ser humana e justa apesar das muitas desilusões que a cercam. 

Deste autor peruano, Prémio Nobel da Literatura 2010, já tinha lido três livros e de todos tinha gostado:
-"A guerra do fim do mundo" - um bom romance, 
-"Civilização do espectáculo" - excelente ensaio
- e de um muito bom "O Herói discreto" - este foi o do que mais gostei e aconselho.  

Não gostei deste indolente calhamaço de 438 páginas, e embora não pretendendo ser injusto (para ambos os autores) muito menos sendo minha intenção fazer qualquer julgamento, o Mário Vargas Llosa deste "O Sonho do Celta" fez-me lembrar um certo autor português (dono duma oficina de escrita com muitos artífices em horário laboral) a quem fazem encomendas de 575 páginas por semestre.


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Mário Vargas Llosa - Perú 1938
3 - razoável

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1 - desisti
2 - li, mas não me cativou
3 - razoável
3,5 - interessante
4 - bom
5 - muito bom
6 - excelente
7 - obra prima


terça-feira, 19 de dezembro de 2017

"STONER" - JOHN WILLIAMS - LEITURAS 2017 - XXII


STONER foi dos livros que mais gostei em 2017.

Que belo livro!

O Stoner do título é o protagonista deste romance -um obscuro professor de literatura, que até ao dia da sua morte dá aulas numa universidade do interior. A sua vida, brevemente descrita nos dois primeiros parágrafos deste romance, oferece um triste obituário. O que se segue, numa prosa precisa, despojada, quase cruel, é uma sucessão de fracassos de uma personagem que perde quase tudo -menos a entrega incondicional à literatura.

Stoner, filho único de camponeses humildes, é um tipo esquisito, misterioso, calado, observador, trabalhador rural quando jovem, a sua vida decorre sem qualquer interesse a não ser o interesse e o amor que lhe despertam os livros. O falhanço faz parte da sua existência, vive mergulhado na tristeza e solidão e um casamento triste que o magoa, maltrata e corrói.



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John Williams - Texas 1922-1994


"Stoner não passa de um romance sobre um tipo que vai para a universidade e se torna professor. Mas é também uma das coisas mais fascinantes que já vi na vida."  -  TOM HANKS (actor norte americano)



5 - muito bom

0 - li, mas foi zero
1 - desisti
2 - li, mas não me cativou
3 - razoável
3,5 - interessante
4 - bom
5 - muito bom
6 - excelente
7 - obra prima