segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

"NO BOSQUE DO ESPELHO" - ALBERTO MANGUEL - LEITURAS 2019 - XXIV

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Alberto Manguel é um homem que gosta de livros, um homem que sabe de livros mas, na minha perspectiva, não será um grande escritor.

Contudo, tenho sempre alguma curiosidade em ler os livros dele, embora fiquem sempre aquém das minhas expectativas.

Neste livro de ensaios sobre literatura e o mundo, também se fala da ditadura na Argentina, das Mães da Praça de Maio, do político Mário Vargas Llosa (a antítese do escritor).

Alberto Manguel recorre a histórias pessoais e reflexões literárias com humor e uma erudição subtil, levando-nos a reflectir sobre as delícias e responsabilidades da leitura — uma viagem despoletada pela humanidade do autor, pela sua curiosidade insaciável e extraordinária abrangência da percepção do mundo.

Um livro que fala de livros é sempre interessante!


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Alberto Manguel  -  Buenos Aires  1948
Li e anotei:

-Poucos são os que têm a coragem ou a influência literária de um Graham Greene,
que, quando o editor lhe sugeriu a alteração do título do seu romance "Viagens com a minha tia" respondeu com um telegrama de cinco palavras: "Mais fácil trocar editor do que trocar título"
    



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quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

"VIAGEM MARÍTIMA COM DOM QUIXOTE" - THOMAS MANN - LEITURAS 2019 - XXIII

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Quando iniciei a leitura deste livro pensava que estava perante um pequeno diário, só que, afinal, este não é propriamente um diário mas sim um ensaio, escrito durante uma viagem do autor, com a sua mulher, aos Estados Unidos da América e que testemunha o envolvimento do escritor com a obra-prima de outro grande nome da literatura. 

Efectivamente é durante essa viagem marítima que o autor se dedica à leitura de Dom Quixote, expressando as suas opiniões sobre a obra de Cervantes. 

Devo realçar que estas opiniões não foram para mim entusiasmantes nem tão pouco me criaram grandes (nem grandes nem pequenas) expectativas com vista a uma futura leitura deste clássico, aliás, fizeram até muita mossa nas muitas que eu mantinha sobre o livro, há muito tempo.

E sobre a vida a bordo?
E sobre os eventuais incidentes que porventura poderão ter ocorrido durante a travessia?
São  muito poucas as páginas em que tal é descrito.

Por isso as expectativas que depositava neste pequeno livrinho de 123 páginas, deste grande escritor, foram por água abaixo. 
Desilusão!

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Thomas Mann - Império Alemão - 1875-1955
fotografia tirada durante a travessia rumo a
Nova Iorque, em 18 de Junho 1934, com sua
mulher Katia Mann
Li e anotei:

-Tudo o que é bom requer o seu tempo
    


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domingo, 22 de dezembro de 2019

"EM TUDO HAVIA BELEZA" - MANUEL VILAS - LEITURAS 2019 - XXII

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Quantas vezes não pensámos já no que não dissemos e queríamos dizer a quem já partiu, aos nossos pais já perdidos, aos nossos tios mais queridos.

Um relato intimo de perda e vida, de luto e dor, de afecto e pudor.

"Livro potente, sincero, por vezes descarnado, sobre a perda dos pais, sobre a dor das palavras não ditas e sobre a necessidade de amar e ser amado. Além de tudo isto, muito bem escrito". Estas são palavras do escritor espanhol Fernando Aramburu, de quem li, não há muito tempo, um livro excelente e que nos traça um retrato assombroso da extinta ETA.

A história profundamente íntima e comovente de um homem que procura no passado o caminho para regressar ao presente.

Um livro autobiográfico de uma força telúrica em que a tristeza e a melancolia varre cada página do mesmo. 


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Manuel Vilas -  n. 1962 - Aragão-Espanha


Li e anotei:

-Por muito mal que nos corra a vida, há sempre alguém que nos inveja

-As pessoas amam os heróis, não vítimas 
    

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quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

"SOLDADOS DE SALAMINA" - JAVIER CERCAS - LEITURAS 2019 - XXI


Soldados de Salamina

Este é o nº. 2 da Colecção Miniatura, numa nova edição dos Livros do Brasil, e da qual já estão publicados doze. A antiga Colecção foi publicada entre 1951 e 1967.

Aborda um tema que sempre me despertou curiosidade pela escassez de informação referente à mesma — a Guerra Civil Espanhola, que decorreu entre 17.07.1936 e 01.04.1939—.

Neste livro, em que o autor cria, como se poderá ler na contracapa, uma nova forma de abordagem deste fratricídio, construindo o seu relato sem apriorismos ideológicos.

Um soldado republicano pôde matar um militar fascista mas não o fez. Javier Cercas transforma esse soldado que teve um gesto de piedade num herói.

Refira-se que o soldado fascista tinha escapado a um pelotão de fuzilamento e andava fugido, tendo um dos seus perseguidores, o soldado republicano, conseguido localizá-lo, ficando frente a frente com ele mas fez que o não viu, poupando-lhe assim a vida e, consequentemente, facilitando-lhe a fuga.  


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Javier Cercas  1962 -   Cáceres-Espanha 

Nota: a antiga e excelente Colecção Miniatura, Edição Livros do Brasil, compreendia 170 volumes em formato de bolso (11 x 16 cm, mais pequena que a actual) foi editada entre 1951 - 1967. 
As bonitas capas dos primeiros 115 volumes foram ilustradas por Bernardo Marques e os restantes por Infante do Carmo.
Traduções dos mais credenciados escritores portugueses (e não só), nomeadamente Jorge de Sena, Alexandre Pinheiro Torres, João Palma Ferreira, Alexandre Cabral, Artur Portela Filho, Erico Veríssimo, Ilse Losa, António Ramos Rosa, António Lopes Ribeiro e outros.

Nº. 1 da antiga Colecção Miniatura
"O LIivro das Lendas" - Selma Lagerlöf
Nº. 170  -  "O Aniversário da Infanta"
Oscar Wilde e outros (o último volume publicado
desta antiga colecção)

Li e anotei;

-Javier Cercas em conversa com Bolaño:
    JC - leste os livros que te dei?
     B  - claro, eu até leio os papéis que encontro na rua 


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quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

"UMA LONGA VIAGEM COM MIGUEL TORGA" - JOÃO CÉU E SILVA - LEITURAS 2019 - XX

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Adolfo Correia da Rocha era o seu verdadeiro nome, Miguel Torga era o seu pseudónimo, criado quando tinha vinte e sete anos (em 1934).

TORGA é o nome de uma planta modestíssima que se queimava nas lareiras dos pobres que não tinham lenha mas, ao mesmo tempo a torga é um arbusto muito retorcido e o Torga também era uma pessoa assim. Está perfeitamente adequado ao seu temperamento, é uma planta silvestre, modesta, humilde, com as raízes retorcidas na terra para custar mais a arrancar. Não é por acaso que a escolhe.

MIGUEL por ser um nome universal, Miguel Ângelo, o singular, o húmus nativo e o mundo.  

Também se diz que (Miguel) em homenagem a dois grandes vultos  da cultura ibérica, Miguel de Cervantes e Miguel Unamuno.

Torga não seria um homem de trato fácil e tal como refere João Céu e Silva "a primeira conversa feita com os que o conheceram foi sempre difícil. E se me apresentava como jornalista pior ainda, portanto, à terceira foi de vez e a partir daí deixei de mencionar esta parte da identificação".

Gosto muito de ler Miguel Torga mas desconhecia este livro (uma edição da ASA de 2007) que tanto prazer me proporcionou, pois fiquei a conhecer um pouco mais do homem e do seu amor à terra e aos seus lugares de eleição. 

"Torga era um homem que foi criado com valores de pessoas que quando deixavam cair ao chão um bocado de pão o apanhavam e beijavam, e um homem assim tem um compromisso com a vida e com a dignidade do ser humano". 


1984
Miguel Torga   -  1907-1995  


retive e anotei:

-...lembra-se de o poeta lhe perguntar com é que iam os estudos e que ao dizer-lhe que iam mais ou menos ele respondeu-me que as coisas mornas não interessam ou é quente ou é frio.



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quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

"NOS MARES DO FIM DO MUNDO" - BERNARDO SANTARENO - LEITURAS 2019 - XIX


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O jornal "O Público" tem publicado uma interessante colecção de livros (Fac-Similados = cópias ou reproduções) de Médicos Escritores, e que normalmente estão à venda com o jornal de terça-feira, por € 6,90.

"Nos mares do fim do mundo" dá-nos o retrato de doze meses passados pelo autor (era o médico do navio) com os pescadores bacalhoeiros portugueses, por barcos da Terra Nova e da Gronelândia.

Interessante, capítulos muito pequenos, de leitura simples e que relata episódios muito curiosos passados com figuras de homens simples como o Ti Fausto que ali viu morrer o próprio pai, o Ângelo e o mano Pereira, que endoideceram no mar, o "Gazela" que, sozinho no seu pequeno dóri (pequeno barco de fundo chato) andou perdido no Oceano durante cinco dias e cinco noites, o Armando e o Zé Pinto que caíram ao mar e para sempre ali ficaram a dormir.

Segundo o autor "Nos mares do fim do mundo" foi, em grande parte escrito a bordo do arrastão "David Melgueiro", na primeira campanha de 1957, a primeira também que o autor serviu na frota bacalhoeira portuguesa, como médico.

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Bernardo Santareno (Santarém 1924 - 1980)


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quinta-feira, 21 de novembro de 2019

"MANUAL DE PINTURA E CALIGRAFIA" - JOSÉ SARAMAGO - LEITURAS 2019 - XVIII

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Este foi o segundo romance de José Saramago, é também uma autobiografia ("Terra do Pecado" foi o primeiro, publicado em 1947).

História de H, um pintor desanimado que vai sendo atraído pela escrita.

Viajamos pelo seu universo, recordamos a sua infância, as mulheres da sua vida e meditamos sobre a criação e sobre a sociedade no Portugal dos anos 70, partilhando as inquietações e interrogações constantes no seu diário, o conflito entre a vida e a morte.

Confesso, no entanto, que foi dos livros, que li até agora, do nosso Prémio Nobel, do que menos gostei e cheguei a "arrastar-me" por algumas páginas mas lendo-o até ao fim, por vezes até um pouco de esguelha, o que num livro de José Saramago me deixou um pouco triste e sem sal. É realmente um livro lento mas, apesar de tudo, a escrita de Saramago está lá.   

Não sei se, ou não, a propósito da evolução da sua escrita, Saramago escreve (pág.276): "Com a idade, aprendemos a cuidar das palavras. Usámo-las mal, vestimo-las do direito e do avesso, sem olhar, e um dia encontramo-las coçadas como um fato velho e temos vergonha delas, como eu me lembro de ter tido vergonha delas, como eu me lembro de ter tido vergonha de umas calças que usei e tive de usar, esfiadas na bainha, que todas as semanas aparava com uma tesoura cautelosa, atento a não cortar de mais nem de menos".

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quarta-feira, 30 de outubro de 2019

"UMA LONGA VIAGEM COM JOSÉ SARAMAGO" - LEITURAS 2019 - XVII


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Depois de "Uma longa viagem com Álvaro Cunhal" e de "Uma longa viagem com Miguel Torga", esta longa viagem com José Saramago é o terceiro volume de uma série que pretende fazer o retrato biográfico de alguns portugueses ilustres, através de uma longa entrevista e dos testemunhos de quem os conheceu. Foi, entretanto, já publicado "Uma longa viagem com António Lobo Antunes", livro que já li e de que já aqui, neste blogue, dei conta.

Nesta longa viagem com João Céu e Silva, que durou mais de um ano, José Saramago como que se entregou às confissões sobre a sua vida dando a conhecer os pormenores vividos ao longo da mesma e mostrando a sua humanidade que creio seria efectivamente um homem de grande carácter e de uma nobreza elevada.

Já li algumas (pequenas) biografias sobre José Saramago mas este foi o livro de que mais gostei e onde me pareceu melhor retratado o homem e o escritor que foi.

Eis alguns (dos muitos) excertos que anotei: 

  - como me ocorreu o título de "O ano da morte de Ricardo Reis"? foi em Berlim, num quarto de hotel. Sentei-me na cama para descansar um pouco, deixei-me cair para trás, e, nesse momento, caíram-me do tecto as palavras "o ano da morte de Ricardo Reis". 

  - Ler um romance não é ler história, porque um romancista não é um historiador, ele é um homem que vê a religião pelo lado da tristeza e não entende nem acha que queira entender a Igreja Católica.


  -  O ataque de soluções que tive durou um mês e meio


  - O Álvaro Cunhal era um homem com quem se podia conversar duas horas e quando se saía do encontro se nos perguntássemos do que é que tínhamos falado, não nos recordávamos! Porque armava uma conversa — taka taka taka taka — e um tipo ia naquele embalo e sobre algo de concreto que se queria saber, mesmo que se expusesse o problema muito concretamente, ele dava uma volta  e nunca haveria uma resposta esclarecedora.


  - Os inteligentes adoram encontrar personagens com opinião própria, os ignorantes é que não 


José Saramago, Prémio Nobel da Literatura em 1998, é certamente o escritor português mais traduzido e mais lido no estrangeiro, e creio mesmo que mais conhecido do que em Portugal.

Poderei estar a exagerar (para alguns) mas José Saramago será porventura o melhor escritor português depois de Camões.

Vale a pena lê-lo!

Devo confessar que o primeiro livro que li do José Saramago (O Memorial do Convento) da primeira vez que lhe peguei não consegui passar da página 50 mas à segunda, uns meses depois, li-o de uma só vez, foi de seguida e é realmente um livro fantástico!


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sábado, 21 de setembro de 2019

"O RELATÓRIO BRODECK" - PHILIPPE CLAUDEL - LEITURAS 2019 - XVI


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Misteriosamente Philippe Claudel continua a ser (julgo eu) um escritor quase desconhecido. E que grande escritor que ele é!

Mais um excelente livro deste melancólico (que chega a ser quase triste) escritor francês.

Este é efectivamente mais um livro, brilhante e perturbador, em que tão bem é relatada a desumanidade do homem perante o homem, da estupidez vulgar e brutal, do medo e da rendição ao mal.

Brodeck está de regresso à sua aldeia, mesmo depois  de o seu nome já constar numa placa aos mortos do campo de concentração para onde tinha sido deportado. Retoma o seu trabalho de escrivão.

Um dia, um estrangeiro vai viver para a povoação, mas os seus modos e hábitos estranhos levantam suspeitas; o seu discurso é normal, faz longas e solitárias caminhadas e apesar de ser extremamente cordial e educado, nada revela de si próprio, Quando o estrangeiro começa a retratar a aldeia e os seus habitantes em quadros pouco lisonjeiros mas perspicazes, os aldeões matam-no.
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As autoridades que assistiram impávidas ao linchamento, ordenam a Brodeck que escreva um relatório que branqueie o incidente.

À medida que escreve o relatório oficial, Brodeck passa também para o papel a sua própria versão da verdade numa narrativa paralela.

Passado num tempo e lugar não definidos, embora tudo nos "cheire" a uma típica aldeia bem francesa, daquelas onde nas ruas as galinhas e os patos se nos metem debaixo dos pés, "O Relatório de Brodeck" mistura o familiar com o desconhecido, mito e história, num romance poderoso e inesquecível.

Philippe Claudel é realmente um belíssimo escritor, e depois do magnífico envolvente e inquietante "Almas Cinzentas" me ter feito procurar todos os seus livros e me ter "agarrado" como seu leitor, também já li, "A neta do Senhor Linh" (uma fábula carregada de tristeza e silêncio) e o soberbo e impressionante "O barulho das chaves", livro que surgiu depois do escritor se ter deslocado todas as semanas, durante onze anos a uma prisão para dar aulas de Francês, e ainda "Desisto" um pequeno livrinho que é uma descida ao inferno da perda e do desespero. 

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Philippe Claudel - Nancy - França - 1952

Retive e anotei:

pág. 12 -desde que estive no campo de concentração. sei que há mais lobos que cordeiros

pág. 252 - há um tempo para dizer e um tempo para ouvir


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segunda-feira, 2 de setembro de 2019

"OS CÃES LADRAM" - TRUMAN CAPOTE - LEITURAS 2019 - XV


Wook.pt - Os Cães Ladram

Grande escritor foi Truman Capote!
"A sangue frio" e "A Harpa de Ervas", são excelentes, sou efectivamente um leitor fiel de Truman Capote!

Contudo, "OS CÃES LADRAM" não será dos melhores, pelo menos eu apenas gostei a partir da última metade, quando começou a abordar figuras como Marlon Brando, Isak Dinesen (do África Adeus), Louis Armstrong, Humphrey Bogart, e outros, já que, na primeira metade, em que fundamentalmente falou das cidades em que viveu ou outras por onde foi passando, achei-o demasiado pastoso e por vezes mesmo chato.

Interessante e curiosa a sua abordagem às figuras que conheceu e com quem conviveu:

Por exemplo, sobre Marlon Brando (que eu considero o melhor actor de cinema que vi até hoje);
-Brando estava no Japão, nas filmagens de Sayonara, há mais de um mês e, nesse tempo, mostrara-se nas filmagens como um jovem com uma dignidade desleixada e trato afável que estava sempre pronto para cooperar e até para encorajar os seus colegas, especialmente os actores, mas que no geral não se mostrava socialmente disponível, preferindo, durante os enfadonhos intervalos entre as cenas, sentar-se sozinho a ler filosofia ou a garatujar num caderno de tipo escolar. 
Findo o dia de trabalho em vez de aceitar os convites dos colegas para beber uns copos em grupo, comer um prato de peixe num restaurante e passear no bairro das gueixas de Quioto, em vez de contribuir para a bonomia familiar, para o ambiente de festa caseira que teoricamente se desenvolve em filmagens no exterior, costumava voltar para o hotel e lá ficar...


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Até o realizador do filme, Joshua Logan, se viu forçado a reconhecer, depois de trabalhar com Brando durante duas semanas: "o Marlon é a pessoa mais empolgante que já conheci desde a Garbo. Um génio. Mas não sei que tipo de pessoa é. Não sei nada dele."

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Marlon Brando - EUA - 1924-2004 

-Dizia ainda Capote: Marlon era a pessoa menos oportunista que já conheci. Nunca quis saber de ninguém que o pudesse ajudar; diria mesmo que se esforçava por evitá-los.
O Marlon tinha um fraco por moças estrábicas.

Sobre Humphrey Bogart: -um homem muitíssimo moral. Apresentava-se sempre a horas nas rodagens, maquilhado e com o papel na ponta da língua.


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Humphrey Bogart  - EUA - 1899-1957

Sobre Bob Dylan: - um músico sofisticado (?), um aldrabão que se faz passar por um revolucionário de bom coração (?), mas que não passa de um campónio sentimental.


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Bob Dylan - EUA . 1941

Tal como já referi, deste escritor americano "A Sangue Frio" está entre os melhores livros que li até hoje. Este "OS CÃES LADRAM" não me merece mais do que uma nota 3-razoável.

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Truman Capote  -  Nova Orleans -EUA 1924-1984


para reflectir (pág.45)
-Será que a transição da inocência para a sabedoria se dá no momento em que descobrimos que nem todo o mundo nos adora?



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sexta-feira, 23 de agosto de 2019

DIÁRIOS DE MIGUEL TORGA - Vols. IX e X - LEITURAS 2019 - XIV


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Miguel Torga - 1907-1995

Os diários de Miguel Torga falam da sociedade, da terra, da poesia, das pessoas, de política, são literatura!

Confesso que, no entanto, nunca fui um leitor entusiasmado pela sua obra.

Mas gosto dos seus diários que são, afinal, uma forma de conhecer Portugal e os portugueses, e não só...

Por exemplo, a propósito de Santiago de Compostela: 
-"Confesso que ainda não cheguei a perceber se os espanhóis erguem tantas e tão grandes catedrais porque têm necessidade de espaço onde caiba a muita fé que os devora, ou se, pelo contrário, constroem primeiro os templos desmedidos para se obrigarem depois a enchê-los de devoção." 

Abordando a política: 
-"a impossibilidade que sempre tive de aceitar como bom do lado de cá o que reprovo do lado de lá".

Conflito de gerações: 
-"o difícil no convívio com a juventude é esquecer-se a gente da sua própria mocidade. É ser jovem também, mas sem a lembrança de o ter sido. Só quando nenhuma das suas palavras, dos seus gestos, dos nossos impulsos cheira a passado, poderemos entrar no convívio e no coração de quem apenas respira presente." 

Curiosa esta sua observação sobre Livros:
- "Homem humano, que não vai em cantigas literárias divide muito simplesmente os livros em duas categorias —os que agasalham as misérias do mundo nas suas páginas, e tornam o leitor sensível à urgência de lhes acudir, e os que as deixam à porta, desalmadamente—"  

Gosto de diários e, do Miguel Torga, li todos os anteriores —tornei-me um leitor incondicional de diários desde que li o excelente "Conta-Corrente" do Vergílio Ferreira, são nove volumes, diários que se lêem como um romance sem serem um romance!

Não sendo Torga um escritor que me entusiasme também devo confessar que não o acho maçador, apesar de ter gostado mais dos diários anteriores. 

A leitura destes diários leva-me a pensar que Torga deveria ser um homem bom, solidário, honesto e correcto. Deste modo, a leitura destes diários só nos poderá trazer exemplos para que possamos ser melhores pessoas. 



Li e anotei:

-Em conversa com um seu doente: "o senhor morre vivo e eles vivem mortos"    (Miguel Torga exercia medicina)


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sexta-feira, 16 de agosto de 2019

"QUANDO OS TONTOS MANDAM" - JAVIER MARÍAS - LEITURAS 2019 - XIII

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Neste livro de 301 páginas, deste escritor espanhol, Javier Marías, nascido em Madrid há 57 anos, estão reunidos noventa e cinco artigos, publicados no suplemento semanal do jornal El País, entre Fevereiro de 2015 e Janeiro de 2017.

Tal como se lê na contracapa,vivemos num tempo em que as pessoas não têem tempo até as crianças já não o têem, com tantas actividades extra-escolares e distracção "obrigatória" na companhia dos pais, que passam o fim de semana e as férias com a língua de fora. 

Nos anos cinquenta e sessenta do séc. XX as crianças tinham manhã, tarde e noite, todos muito longos. Naquele tempo havia tempo para tudo.

Esta e outras situações  são aqui deliciosamente retratadas, com sentido de humor, educação e distanciamento do politicamente correcto!

Javier Marías apresenta aqui novas perspectivas para os acontecimentos que, aos seus olhos, marcam o mundo actual.

Fala de escritores:
Conrad detestava Dostoievisky,
- Nabokov desprezava Faulkner e muito mais, 
- Faulkner não estimava muito os seus pares com a excepção de Thomas Wolfe, 
- Truman Capote lançava farpas a quase toda a gente.

Fala de livros:
-O universo literário rejubilou com os seis tomos de A MINHA LUTA, autobiografia ou semificção do norueguês Karl Ove Knausgárd. 
Depois de 300 páginas (poucas de um conjunto de 3.000 ou mais) fiquei desconcertado. Não me eram odiosas, nem pouco mais ou menos, mas há muito tempo que não lia páginas tão simplórias e tolas. Será defeito meu ou impaciência (relativa), mas não compreendo o entusiasmo global despeitado em críticos e escritores.  

Sobre o politicamente correcto:
-O Sindicato de Estudantes da Escola de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres "exigiu que desaparecessem do programa filósofos como Platão, Descartes e Kant, por serem racistas, colonialistas e brancos".

-Nalgumas escolas norte-americanas pede-se a proibição de clássicos como "Mataram a Cotovia" e "Ucleberry Fin", porque neles aparecem "afrontas raciais"


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JAVIER MARÍAS -  Madrid 1951

Li e reflecti:

-arvoram telemóveis e param a cada passo a fotografar o que não olham

-o melhor instrumento de propaganda e intoxicação que jamais existiu -as redes sociais-

-Se não se tem nada de agradável para dizer, é melhor não dizer nada.

-Hoje parece que aquele que não se indigna continuamente por alguma coisa -tenha ou não razão, tenha ou não importância- é um acomodadiço, um domesticado, um dócil, um submisso e um tonto.


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segunda-feira, 22 de julho de 2019

"HOMEM INVISÍVEL" - RALPH ELLISON - LEITURAS 2019 - XII

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O começo deste livro não me cativou!

Contudo, a meio do mesmo cheguei a entusiasmar-me. 

Todavia, não fosse a minha (quase) completa recusa de deixar um livro a meio, teria certamente desistido quando até já só faltavam cerca de oitenta páginas, pois a leitura começou a arrastar-se de tal modo que se estava a tornar demasiado penoso, mas lá levei a água ao moinho. 

Efectivamente não gosto nada, mas mesmo nada, num livro de quinhentas páginas, desistir quando faltam tão poucas.

Tal como já salientei, a meio do livro cheguei a entusiasmar-me e cheguei a pensar que estava perante um grande livro, mas... 

"Homem Invisível" revela a dor da existência do homem negro num mundo branco. 

É a história da viagem de um jovem negro pelos estados sulistas da América nos primeiros anos do século XX. 

Com o passar do tempo, entre experiências frequentemente contraditórias, o protagonista fica a conhecer o mundo dos negros, o mundo dos brancos e o seu próprio mundo. Trata-se de uma peregrinação que pretende ser esclarecedora sobre questões fundamentais como a raça, a existência humana ou os ideais democráticos (para mim não foi esclarecedora). 

E se este é um tema que eu adoro, daí o meu prazer na leitura de Carson McCullers, Truman Capote, Harper Lee, Erskine Caldwell, Joyce Carol Oates, Flannery O'Connor.

Criei demasiadas expectativas relativamente a este livro, que havia comprado em 2008, na Feira do Livro da Amadora, num alfarrabista por € 5,00, não direi que essas expectativas tivessem sido absolutamente goradas, só que eram muito altas e por isso me arrastei nas últimas cem páginas do livro. E quando isto acontece precisamos urgentemente de ler um bom livro, vamos lá a ver...   


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Ralph Ellison  -  EUA  -  1914 - 1994
Li e reflecti:

-(pág.287) - Diz o que as pessoas querem ouvir, mas di-lo de forma que façam o queremos que façam. A teoria nasce sempre da prática.


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1 - desisti
2 - li, mas não me cativou
3 - razoável  
3,5 - interessante
4 - bom
5 - muito bom
6 - excelente
7 - obra prima

sexta-feira, 21 de junho de 2019

"O DIÁRIO SECRETO DE HENDRIK GROEN AOS 83 ANOS E 1/4" - LEITURAS 2019 - XI


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Lar da 3ª. idade/Residência Sénior, a vida dos seus residentes e a forma como são actualmente tratados os idosos, o arrastar de pés atrás dos andarilhos, queixumes, solidão, suspiros angustiantes, gemidos, Alzheimer, demência, o retrato assustador do que é a vida real de um idoso num lar, tudo isto e muito mais nos conta este romance comovente, triste, mas por vezes divertido, e que se tornou um fenómeno literário em todo o mundo. 

Hendrik Groen é um pseudónimo e o lançamento deste seu diário (o relato de todos os seus dias durante um ano), causou um intenso debate na Holanda, o seu país de origem. A sua identidade é ate hoje desconhecida; será que terá a mesma idade do idoso retratado?

Hendrik Groen pode estar velho, mas ainda muito longe de estar morto, e espera não ser enterrado tão cedo. Os seus passeios diários são cada vez mais curtos porque as pernas começam a dar de si, e as suas idas ao médico são agora mais frequentes do que ele gostaria. Hendrik está velho, mas quem disse que tem de viver confinado ao lar para idosos perto de Amesterdão esperando que a morte chegue? 

O fim da vida aproxima-se e o lar da 3ª. idade é aqui retratado com a crueza que efectivamente a situação impõe. Os residentes a quem já ninguém visita, os amigos que já não existem, para além dos habitantes do lar... É realmente um tema muito delicado e que, página a página, nos põe a pensar, independentemente da nossa idade...


retive e anotei:

-Com a idade, reduz drasticamente o conhecimento que se tem de si mesmo. Da mesma forma que, inversamente, aumenta nas crianças à medida que crescem.



0 - li, mas foi zero
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