sábado, 28 de maio de 2016

"NOVO MUNDO MUNDO NOVO" - ANTÓNIO FERRO - LEITURAS 2016 - XXI


Resultado de imagem para novo mundo novo mundo antonio ferro jornal o publico  

"NOVO MUNDO  MUNDO NOVO" é o primeiro dos doze volumes da colecção "Quem vê capas vê corações", editada pelo Jornal O PÚBLICO, com capa de Bernardo Marques, um dos criadores dos anos 20, e reúne as crónicas referente à visita que o jornalista António Ferro fez à América, em 1927, e que foram publicadas no Diário de Notícias, enquanto enviado especial do jornal aos Estados Unidos. A longa viagem tinha o propósito principal de dar a conhecer, ao público nacional, a América e a comunidade portuguesa emigrada nos EU.

As crónicas sucedem-se ao ritmo do avião do ídolo da América de então (Lindbergh), do automóvel que então dava brado, do "comboio palace", a máquina de escrever e das novidades artísticas (e não só) da época.

"Novo Mundo, Mundo Novo" é um diário da viagem de um jornalista surpreendido - encantado, apanhado desprevenido por uma América que descobre, ao mesmo tempo que a dá a descobrir aos seus leitores.

Apelidado por muitos como o "inventor do salazarismo" António Ferro foi uma figura polémica mas também incontornável na cultura portuguesa da época, jornalista e político (Lisboa 1895-1956). Editor da revista Orpheu, esteve ligado ao grupo inicial dos modernistas, que teria em Fernando Pessoa a figura principal.

Obviamente que este livro, publicado há mais de 90 anos, terá tido um impacto totalmente diferente para quem o leu na época, já que, nesta altura, tudo está absolutamente fora do contexto do que é a América em 2016. Li-o com os olhos de quem vivesse em 1930; é esta a magia dos livros, que nos faz viajar não só pelo mundo mas também pelas diversas épocas.      

Curioso o facto deste livro ter tido (à época-1930) duas edições, uma em que a ilustração da capa é a encarnado e preto e outra em que a mesma ilustração é em azul e preto. Nesta edição de O Público foram disponibilizadas em banca duas versões de capa reproduzindo o que foi feito na primeira edição. 


Resultado de imagem para antonio ferro
António Ferro  -  1895-1956

terça-feira, 24 de maio de 2016

"DORA BRUDER" - PATRICK MODIANO - LEITURAS 2016 - XX


Decorria o ano de 2004 e quase diariamente, para moer o almoço, entrava na conhecida Livraria Barata (na Avª. de Roma em Lisboa) e, durante pelo menos meia hora, lá ia alimentando este vício dos livros, folheando os que ali tinha à disposição. Ao fundo desta livraria havia um grande tabuleiro com  montes de livros a preços módicos (de € 1 a € 5), muito mono mas de vez em quando encontrava alguns títulos que me despertavam a curiosidade e interesse, como "A amante Colombiana" de Lars Gustafsson de que já tinha lido um excelente livro ("A morte de um apicultor") e lá o arrematei por € 3,50 (ainda não o li). E foi lá também que adquiri, a € 1,50, este "DORA BRUDER" dum escritor francês que, mal sabia eu, viria a ser Prémio Nobel da Literatura dez anos depois (em 2014) - PATRICK MODIANO.

Este "DORA BRUDER" não será um grande livro, muito menos pelo número de páginas (124), mas não deixa de se ler com algum interesse, quanto mais não seja para tomar contacto com a escrita deste Prémio Nobel mas, sinceramente, para além deste facto, o livro não me cativou minimamente.

DORA BRUDER- Anos atrás, o narrador (o autor) deparou-se com um anúncio publicado no Paris-Soir de 31 de Dezembro de 1941: "Procura-se uma rapariga de 15 anos, Dora Bruder..."

Quem era Dora Bruder? Pois é esta jovem judia que o autor tenta encontrar ficando assim obcecado em reconstruir a sua história até aos momentos finais no campo de Auschwitz.
Contudo, o autor nunca nos consegue dar um retrato exacto do que foi o seu percurso durante os anos da ocupação alemã nem tão pouco qual foi concretamente o seu destino final? foi encontrada? encontrou os seus pais depois da guerra? sobreviveu a Auschwitz? são questões que ficam em aberto neste livro, daí ter ficado com a imagem e o destino de Dora Bruder envoltos numa intensa névoa, e talvez por isso a minha decepcção.Terá sido essa a intenção do autor? Será que Modiano apenas tinha a intenção de nos mostrar o seu combate contra o esquecimento que, ao fim e ao cabo, caíu sobre as incontáveis Doras Bruder vítimas da barbárie nazi?     

Devo confessar que não fiquei leitor de Patrick Modiano.

Patrick Modiano - Boulogne-Billancourt (França) -  1945

sexta-feira, 20 de maio de 2016

"EU TENHO UM SONHO" - LEITURAS 2016 - XIX - "SONHO" - MARTIN LUTHER KING, JR



MARTIN LUTHER KING, JR. nasce a 15 de Janeiro de 1929 em Atlanta, Geórgia, no coração do Sul dos Estados Unidos, um local profundamente segregado e dilacerado pelas atitudes racistas e é assassinado a 4 de Abril de 1968, num hotel de Memphis, Tennessee-EUA. 

"Eu tenho o sonho de que os meus quatro filhos vivam num país no qual não sejam julgados pela cor da pele, mas sim pelo teor do seu carácter..."

Foi das escadas do memorial a Abraham Lincoln, em Washington, que a 28 de Agosto de 1963, MARTIN LUTHER KING se dirigiu aos 250 mil manifestantes e proferiu este discurso - I Have a Dream (eu tenho um sonho)- que ficará para a história  como um dos mais importantes do século XX; entre os manifestantes contavam-se muitos brancos e várias personalidades como Marlon Brando ou Paul Newman.

Este pequeno livrinho de 92 páginas ("PALAVRAS E INSPIRAÇÃO DE MARTIN LUTHER KING - SONHO") contém um pequeno resumo do que foi a sua vida e pequenos excertos dos seus discursos que proferiu ao longo dos seus catorze anos de actividade, na defesa dos direitos cívicos dos negros e em prol do seu semelhante.  

-O aspecto mais importante acerca de um homem não é a cor da sua pele ou a textura do seu cabelo, mas a textura e a qualidade da sua alma.

-Devemos desenvolver e manter a capacidade de perdoar. Aquele que é destituído do poder de perdoar encontra-se também destituído do poder de amar.

-Incentivar os outros a aceitar pacientemente os genuínos actos de injustiça que o próprio não está disposto a aceitar, é tudo menos um acto moral.


segunda-feira, 16 de maio de 2016

LEITURAS 2016 - XVIII - "A SANGUE FRIO" - TRUMAN CAPOTE


Foi a lembrança de Caryl Chessmann que me levou a este romance.

Efectivamente, dos primeiros nomes que me lembro de fixar, logo que comecei a ter entendimento, foi o de Caryl Chessmann, um ladrão, raptor e violador (o homem da lanterna vermelha), que morreu na câmara de gás em 2 de Junho de 1960, na Califórnia ( EUA), depois de julgado e condenado baseado apenas em provas circunstanciais. Ele próprio (Caryl Chessmann) fez a sua defesa. e lembro-me de quase diariamente ouvir este nome aos meus pais e no ambiente onde então vivia.

Truman Capote 1924, Nova Orleães, EUA - 1984

"A SANGUE FRIO", que ando para ler há muitos anos, de Truman Capote é precisamente a narração verídica de um quádrupulo assassínio ocorrido realmente num lugarejo chamado Holcomb e situado no estado do Kansas (EUA). Todos os factos nele descritos são reais, mas a forma de os conceber e analisar pertence a Truman Capote. A realidade, também neste caso, é mais fértil do que a mais fecunda imaginação de qualquer romancista. Contudo, só um escritor de génio poderia ter desvendado essa realidade, e só à custa de três anos de apuramento dos factos e de mais três anos de redacção laboriosa é que teria sido possível fazer surgir esta verdadeira obra-prima da literatura.

As personagens, os locais, as situações, tudo neste livro me fascinou.

Excelente!    


os assassinos Perry Smith que, enquanto esperava pelo julgamento, escreveu um diário no qual falava sobre tudo, enquanto
Richard Hickok lia romances de Irving Wallace e Harold Robbins

A família Clutter assassinada, na sua fazenda River Valley, Kansas EUA  em 15.11.1959 (domingo)





quinta-feira, 12 de maio de 2016

A LITERATURA NA TELEVISÃO


Falar de livros na televisão é como descobrir petróleo na Serra de Monchique. 

Sobre o tema, "Literatura aqui" é um dos raros programas da nossa televisão. Pedro Lamares é o apresentador, e passa na RTP2 às terças-feiras, por volta das 23h00.

Poderei até estar a ser injusto mas, sinceramente, o programa parece-me uma completa maçada, começando logo pela voz do apresentador que parece querer afastar todo e qualquer telespectador que se aproxime, pois aquela voz robótica e monocórdica é um apelativo à fuga (ainda por cima àquela hora)...

O programa mais parece um catálogo onde se rebuscam uns poemas, escolhidos e lidos por uma voz tão pachorrenta que é um verdadeiro apelo ao sono.


As raras reportagens sobre livros são tudo menos sobre livros; e quem gosta de livros sabe do que falo...
Porque não se vai à rua abordar as pessoas sobre livros? porque não se vai às livrarias falar com quem vende os livros? porque não se fala com personagens do mundo da música, da televisão, do cinema, da rádio, do desporto, da política, sobre livros?

Porque, por exemplo, não se aborda, uma vez por semana, em cada programa a obra de um escritor famoso? porque não se fala, uma vez por semana, de um grande livro? porque não se fala dos grandes escritores portugueses, nomeadamente dos esquecidos?   

É realmente um programa fraquíssimo e, pior do que isso, sonolento que afasta qualquer candidato a leitor e aqueles que são leitores só o vêem na esperança de que dali ainda possa sair algo que fale efectivamente de livros. Se pretende ser um programa elitista creio que nem isso terá conseguido...

Mais uma oportunidade perdida para se falar de livros e para desgosto dos que gostam de livros.





domingo, 8 de maio de 2016

LEITURAS 2016 - XVII - "O ESTRANHO CASO DE BENJAMIN BUTTON" - F. SCOTT FITZGERALD


Benjamin Button é um homem que viveu uma vida ao contrário.

Nasceu com cerca de setenta anos. Nasceu como um velho, com barba, olhos cansados e lacrimejantes. Só que à medida que vai vivendo vai rejuvenescendo, o que lhe vai permitir viver as situações mais extraordinárias, que a idade/aparência lhe vão permitir, como a entrada na escola, na universidade, no exército, o casamento com uma linda mulher de cerca de vinte e poucos anos quando ele, na altura aparenta cerca de cinquenta, só que virá a altura em que ele parece ter vinte anos e ela já uma velha que, com o passar dos anos, vê o seu cabelo cor de mel tornar-se de um castanho sensaborão, o azul esmalte dos seus olhos adquirir o aspecto de louça de barro barata, enquanto que ele cada vez mais jovem e mais belo.

Benjamin Button morreu ao fim de setenta anos de vida com a aparência e a mente de um bebé.

Este pequeno e excelente livro de F. Scott Fitzgerald é desconcertante e constitui uma crítica maliciosa a uma sociedade que não admite ver para além das aparências.

Esta obra foi adaptada ao cinema e, convem salientar, é daqueles filmes que, ao contrário do que geralmente acontece, em nada é inferior a este bom livro.











quarta-feira, 4 de maio de 2016

LEITURAS 2016 - XVI - "CONTA - CORRENTE nova série IV"


Este foi o nono e último dos diários que Vergílio Ferreira escreveu e que foi publicado na série a que deu o nome "conta-corrente". Este reporta ao ano de 1992.Tal como os anteriores, está escrito numa linguagem simples e acessível mas muito rica, cheia de pérolas, que apetece tomar nota: 

-eu devo ter muita saúde para aguentar tanta doença
-ver é imaginar o que se viu
-o mau cheiro nunca cheira mal a quem o produz
.muito amor também não é garantia de um bom casamento   
-quanto mais leve é a cabeça da mulher mais pesada é a do marido

Excelente.