sexta-feira, 27 de abril de 2012

O MAIS BELO TÍTULO DE LIVRO QUE LI


Há livros com títulos feios, bonitos, incríveis, infames, provocadores, tristes, alegres, contraproducentes, malignos, revoltantes, absurdos, estranhos, sei lá...mas o título de livro mais belo que conheço é o de um livro de memórias do grande poeta Chileno, Pablo Neruda: - "CONFESSO QUE VIVI".
Este belo livro (na foto anterior) tenho-o há cerca de 36 anos, comprei-o numa Feira do Livro de Lisboa, mais precisamente no dia dois de Junho de 1976 e custou-me cento e doze escudos.
Talvez não tenha vivido em mim mesmo, talvez tenha vivido a vida dos outros.
Do que deixei escrito nestas páginas se desprenderão sempre – como nos arvoredos de outono e como no tempo das vinhas – as folhas amarelas que vão morrer e as uvas que reviverão no vinho sagrado.
Minha vida é uma vida feita de todas as vidas: as vidas do poeta.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

DIA MUNDIAL DO LIVRO

LER  É
LER É

CONHECER
-novas terras
-novos mares
-novos mundos
-novas gentes
-gente boa
-gente má
EXTASIAR-SE
-com belos sons
-aspirar novos cheiros
-ser-se pobre
-ser-se rico
-caminhar ao lado de Gandhi
-dialogar com Maquieval
-sonhar com Marilyn Monroe
-conviver com D. João II
-privar com a Marquesa de Alorna
-sofrer com Kafka
TESTEMUNHAR
-a barbárie
-sofrer nos campos de concentração
-conhecer a solidariedade no cerco de Estalinegrado
-sentir a fome no Gueto de Varsóvia
-ouvir e sentir os bombardeamentos a Berlim
-viver o dia D
-testemunhar o suicídio de Eva Braun
-morrer lentamente no submarino nuclear russo Kursk
-descer em pânico as escadas das Torres Gémeas no 11 de Setembro de 2001
-saltar (no vazio) das Torres Gémeas
-meditar ao som de Ravel
SENTIR
-a alegria
-a tristeza
-a compaixão
-a inveja
-o ódio
-a vingança
-passar frio
-sentir calor
-chorar
-rir
-comer
-amar
-passar fome
SER-SE
-católico
-cristão
-muçulmano
-hindú
-ateu
-budista
-o outro
-pensar
-repensar
-viver!
VIAJAR
-para além da vida
-para além da morte
.........

sábado, 21 de abril de 2012

POR ONDE ANDEI EM 2011 - VII


Meados de Abril, ano de dois mil e onze e eu às voltas com "OS SENTIMENTOS DE UMA OCIDENTAL" que me são revelados através duma colectânea de crónicas em que reflecte a forma como MARIA FILOMENA MÓNICA reagiu a acontecimentos, como o 11 de Setembro, dos novos juizes ao uso da psiquiatria, do combate às insónias ao nascimento do seu neto, ocorridos durante os anos de 2001 a 2002....já lá vão mais de dez anos mas retive a a curiosa opinião sobre a Internet e que, curiosamente, se mantém mais actual do que nunca.

É sobre a relação entre o grande e imortal poeta chileno PABLO NERUDA e Matilde Urrutia uma mulher marcante na sua vida, que, quando o mês do coração se aproxima, leio "AS CARTAS DE AMOR". A relação entre ambos durou
perto de 25 anos e apenas foi interrompida pela morte do poeta chileno, em
1973.

Embora a divulgação de cartas íntimas seja sempre discutível, sobretudo quando não encerram grande valor literário, como é o caso, o livro ajuda a compor um retrato mais aproximado de Neruda, o homem apaixonado até ao fim.

Abril está no fim mas ainda terei tempo de, retornar ao ao final do século XIX e conhecer duas personagens
que cresceram em mundos completamente diferentes e a vários quilómetros de distância um do outro, mas disso darei conta numa próxima oportunidade...

segunda-feira, 16 de abril de 2012

O QUE ANDO A LER

W.G.SEBALD é um escritor alemão nascido em 1944 (caricaturado a seguir), de que já tinha lido um livro ("AUSTERLITZ") que nem me tinha despertado muito interesse, pois é deste escritor, entretanto tragicamente falecido em 2001, que ando a ler "O CAMINHANTE SOLITÁRIO".
É uma colectânea de histórias, nem todas me têm despertado interesse dado que falam de personagens que não conheço minimamente, mas duas são realmente muito interessante porque falam de duas personagens fascinantes, uma de um dos homens que, no século XVIII, mais mexeram com o mundo, Jean-Jacques Rousseau, outra, o escritor suiço Robert Walser (na foto a seguir), praticamente desconhecido entre nós, mas que é uma personagem interessante, ao jeito de Kafka. Ora fiquem lá com uns pequenos excertos deste pequeno livro de crónicas de W.G.Sebald, em que, entre outras, são retratadas estas duas personagens:
"Os vestígios que Robert Walser, escritor suiço de língua alemã, deixou da sua vida são tão ténues que quase se apagaram. Nunca se apegou a um sítio, nunca adquiriu nada para si. Nunca teve casa nem qualquer morada duradoura, nenhum móvel, e por único guarda-roupa somente um fato melhor e outro mais modesto. Não possuia sequer o que um escritor necessita para exercer o seu ofício. De livros, ao que creio, não tinha nem os que ele próprio escreveu. O que lia era quase sempre emprestado. Até o papel para escrever lhe chegava em segunda mão.Distante toda a sua vida dos bens materiais, esteve-o também dos seres humanos".
"Quando no Outono de 1765, Jean-Jacques Rousseau, veio refugiar-se na ilha de Saint-Pierre, encontrava-se já à beira do esgotamento físico e moral. Numa retrospectiva dessa época em que o seu destino se inclinava para o lado mau, Rousseau escreve, no princípio do último livro das suas CONFISSÕES: Aqui começa a obra das trevas em que há oito anos me enterrei, sem que, faça o que fizer, consiga furar a pavorosa escuridão. No abismo de miséria em que me afundei, sinto os golpes desferidos contra mim, vejo o instrumento agressor imediato, mas não consigo ver a mão que o governa nem os meios que ela emprega. O opróbrio e a infelicidade abatem-se sobre mim sem se fazerem anunciar."
Refira-se ainda que, curiosa mas tão somente creio que coincindência, Jean Jacques Rousseau escreveu, duzentos anos antes de W.G.Sebald, um livro com um título muito semelhante ao que agora ando a ler, "OS DEVANEIOS DO CAMINHANTE SOLITÁRIO" em que narrava as longas caminhadas que, entre 1776 e 1778, fazia por Paris e arredores, observando os passantes, a flora, as edificações e reflectindo, amargurado, sobre a sociedade. Este é um dos livros mais tocantes deste teórico político, filósofo, escritor e compositor autodidata "francês" nascido na Suiça. É considerado um dos principais filósofos do iluminismo e um precursor do romantismo.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

A BAIXA DE LISBOA

Era talvez das melhores horas do dia (lembras-te Kim? lembras-te Fernando?) quando, ao fim da tarde, após a saída do trabalho, subia a rua do Carmo até ao Chiado e dava depois a volta para baixo para voltar para casa, apanhando o comboio na estação do Rossio, era uma maravilha para os sentidos e para a vista.
Há umas semanas atrás repeti o trajecto que palmilhei durante muitos e muitos anos da minha juventude, pois trabalhei na Baixa de Lisboa durante alguns anos, e fiquei absolutamente desolado com a degradação a que assisti, loja - só dos "chineses" (elas mesmo, fnac's, zara's, calcedonias, etc. etc., tudo chineses), é realmente uma tristeza onde chegou uma das partes mais belas desta linda cidade.
A ruína, o abandono, as gatafunhos pelas paredes, a porcaria pelo chão, a fauna andrajosa são uma constante. O Chiado acabou, a Baixa acabou.
Ver para crer.
A Baixa de Lisboa, também designada como Baixa Pombalina, terá sido edificada por ordem do Marquês de Pombal após o terramoto de 1755 que destruiu parte da cidade, a Baixa situa-se entre o Terreiro do Paço junto ao Rio Tejo e o Rossio e longitudinalmente desde o Cais do Sodré até Alfama ao qual abrange uma área de 235,000 km2.
É formada por várias ruas rectas e perpendiculares. Muitas destas ruas são formadas por edifícios de arquitectura semelhante (os primeiros exemplos de construções resistentes a terramotos) e com uma grande importância comercial. Os modelos arquitectónicos foram testados para várias simulações de tremores de terra.
As várias particularidades importantes a anotar: gaiola pombalina: uma estrutura em madeira e em simetria no interior do edificio para distribuir a força do eventual terramoto e paredes mais altas que o telhado para prevenir a progressão das chamas em caso de incêndio.
Mas entretanto, a degradação continua.
E os abutres aguardam...

domingo, 8 de abril de 2012

POR ONDE ANDEI EM 2011 - VI

Tal como tinha salientado na minha anterior crónica sobre estas minhas andanças, é nos princípios de Abril que me irei encontrar com GEORGE ORWELL que, tal como eu, vindo de Paris, regressou a Inglaterra no Natal de 1929. Os três anos seguintes passamo-los a vagabundear, experimentando altos e baixos. "NA PENÚRIA EM PARIS E EM LONDRES", através da personagem Bozo, é Orwell que discorre acerca da pobreza e investe sobre a dignidade de todos os seres humanos, mesmo os pedintes sem eira nem beira.
George Orweel conta as suas histórias de precário e mal pago trabalhador num Hotel e de vagabundo nestas duas cidades, as diferenças entre estas e as suas gentes e hábitos. Orwell relata a vida de um sem-abrigo, as suas amarguras e também, os pequenos prazeres e hábitos que vai criando por forma a encontrar motivações no seu dia-a-dia. São deveras interesantes as caracterizações que Orwell faz sobre os centros de acolhimento em Londres ou o papel do túneis do Metro de Paris. Um bom livro.
Meados de Abril, retorno a Portugal e é com MIGUEL TORGA (pseudónimo do médico transmontamo Adolfo Correia da Rocha) que sinto através desta obra (OS BICHOS) escrita em 1940, a contradição entre a vida e a cultura de uma sociedade, através da apresentação de animais com sentir humano e vice-versa; uma irmandade entre homens e animais.

Cada capítulo desta obra possui um diferente protagonista.
- Nero: pequeno cão que, enquanto era pequeno, era adorado e querido por todos; mal cresceu, nunca mais ninguém quis saber da sua existência e acabou por morrer de solidão.
- Mago: gato ao qual lhe foi tirada a liberdade, por uma senhora; consequência: desdém por parte dos amigos de Mago.
- Madalena: humana grávida que, farta da vida que tinha, tentou fugir da sua aldeia, acabando por abortar pelo caminho.
- Morgado: burro de carga que, quando ficou velho, perdeu grande parte da sua força e rapidez e, por tal razão, foi abandonado.
Há ainda o sapo charmoso que se achava muito entendedor da vida; o Tenório,
galo que, enquanto jovem, cantava bem e era galado por todos; na velhice
serviu de jantar!
MOGUEL TORGA - "OS BICHOS" ajuda-nos, entre outras coisas, a ver as atrocidades que os homens cometem para com os animais. Uma lição de vida.
Abril (ano de dois mil e onze) vai para além do meio tentando eu, naqueles dias, perceber os sentimentos de uma ocidental para deles vos dar conta na minha próxima recordação destas minhas andanças em 2011...

quarta-feira, 4 de abril de 2012

VIAGENS DE FINALISTAS


Todos os anos por esta altura das férias da Páscoa, milhares de alunos finalistas (finalistas???), se deslocam em manada para o sul de Espanha.
São crianças que não terão mais de 17 anos, autênticos imberbes e, na quase totalidade, absolutamente irresponsáveis, e que para ali se deslocam para durante 2, 3 dias andarem ao molho como carneiros, ingerindo alcool até caírem para o lado em estado comatoso, para além da droga e de outras orgias.
Depois acontecem mortes choradas/lamentadas por aqueles que teriam a responsabilidade de lhes ensinar o caminho e os educar mas que só se lamentam depois das coisas acontecerem, não tendo o discernimento necessário para actuarem antes e saberem dizer não quando é fundamental dizer não para que não aconteçam situações como têm acontecido sempre nestas viagens de finalistas (este ano caíu mais um da varanda, para o ano haverá mais...); é uma situação absolutamente preocupante, confrangedora e desonrosa para quem tem a obrigação de educar/formar, mas que disso parece não fazer a mínima idéia do que seja.

Quer dizer o país está em crise, é só lamúria e depois deslocam-se para outro país cerca de 6 mil crianças portuguesas, completamente à balda e ao molho e fé em Deus, na maior e mais completa balbúrdia e desorganização.
E os responsáveis? Ninguém actua? Ninguém é responsabilizado? Só se sabem lamuriar depois do acontecido? Ou então (os paizinhos) rirem-se das proezas depois contadas pelas crianças?

Já dizia o Dr. Lobo Antunes: a escola fácil torna a vida difícil, a escola difícil torna a vida fácil