segunda-feira, 16 de abril de 2012

O QUE ANDO A LER

W.G.SEBALD é um escritor alemão nascido em 1944 (caricaturado a seguir), de que já tinha lido um livro ("AUSTERLITZ") que nem me tinha despertado muito interesse, pois é deste escritor, entretanto tragicamente falecido em 2001, que ando a ler "O CAMINHANTE SOLITÁRIO".
É uma colectânea de histórias, nem todas me têm despertado interesse dado que falam de personagens que não conheço minimamente, mas duas são realmente muito interessante porque falam de duas personagens fascinantes, uma de um dos homens que, no século XVIII, mais mexeram com o mundo, Jean-Jacques Rousseau, outra, o escritor suiço Robert Walser (na foto a seguir), praticamente desconhecido entre nós, mas que é uma personagem interessante, ao jeito de Kafka. Ora fiquem lá com uns pequenos excertos deste pequeno livro de crónicas de W.G.Sebald, em que, entre outras, são retratadas estas duas personagens:
"Os vestígios que Robert Walser, escritor suiço de língua alemã, deixou da sua vida são tão ténues que quase se apagaram. Nunca se apegou a um sítio, nunca adquiriu nada para si. Nunca teve casa nem qualquer morada duradoura, nenhum móvel, e por único guarda-roupa somente um fato melhor e outro mais modesto. Não possuia sequer o que um escritor necessita para exercer o seu ofício. De livros, ao que creio, não tinha nem os que ele próprio escreveu. O que lia era quase sempre emprestado. Até o papel para escrever lhe chegava em segunda mão.Distante toda a sua vida dos bens materiais, esteve-o também dos seres humanos".
"Quando no Outono de 1765, Jean-Jacques Rousseau, veio refugiar-se na ilha de Saint-Pierre, encontrava-se já à beira do esgotamento físico e moral. Numa retrospectiva dessa época em que o seu destino se inclinava para o lado mau, Rousseau escreve, no princípio do último livro das suas CONFISSÕES: Aqui começa a obra das trevas em que há oito anos me enterrei, sem que, faça o que fizer, consiga furar a pavorosa escuridão. No abismo de miséria em que me afundei, sinto os golpes desferidos contra mim, vejo o instrumento agressor imediato, mas não consigo ver a mão que o governa nem os meios que ela emprega. O opróbrio e a infelicidade abatem-se sobre mim sem se fazerem anunciar."
Refira-se ainda que, curiosa mas tão somente creio que coincindência, Jean Jacques Rousseau escreveu, duzentos anos antes de W.G.Sebald, um livro com um título muito semelhante ao que agora ando a ler, "OS DEVANEIOS DO CAMINHANTE SOLITÁRIO" em que narrava as longas caminhadas que, entre 1776 e 1778, fazia por Paris e arredores, observando os passantes, a flora, as edificações e reflectindo, amargurado, sobre a sociedade. Este é um dos livros mais tocantes deste teórico político, filósofo, escritor e compositor autodidata "francês" nascido na Suiça. É considerado um dos principais filósofos do iluminismo e um precursor do romantismo.

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