quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

POR ONDE ANDEI EM 2012 - I




Tal como em anos anteriores vou tentar descrever as viagens que fiz, as pessoas que conheci, os lugares  que visitei, em 2012, tudo isto através dos livros que li em 2012.





Iniciei o ano com "FREDERICO GARCIA OU EXISTÊNCIA INACABADA” de João Courinha um lisboeta a residir em Ferreira do Alentejo onde é agricultor, que me dá a conhecer a história de três amigos da província, da suas vidas, dos seus percursos distintos e fundamentalmente de três naturezas divergentes. Foi uma agradável surpresa já que este foi o primeiro livro do João Courinha; na minha escala de 1 a 7 dou-lhe 3 (bom).
Este livro foi-me gentilmente oferecido pela melhor Biblioteca de Portugal que conheço (Biblioteca José Saramago de Beja).
 
 
 

Nos fins de Janeiro, viajei depois para os finais do séc. XIX e “FOME” de KNUT HAMSUN (na foto, de monóculo) apresenta-me um jovem escritor, um homem solitário que deambula pelas ruas de Kristiania (actual Oslo) numa miséria extrema, enregelado pelo frio e tolhido pela fome. Essa miséria em que vive, provoca-lhe momentos de delírio e violentas variações de humor. Mas cedo nos apercebemos de que a “fome” desse sonhador não é apenas física. Há a procura de uma identidade e de um reconhecimento dentro das suas próprias alucinações. Gostei, por isso o classifico também com 4 na mesma escala, citada anteriormente.









Nos princípios de Fevereiro, o jovem escritor AFONSO CRUZ (na foto-de boina), através de “O PINTOR DEBAIXO DO LAVA LOIÇAS”, conta-me a a história, baseada num episódio real (passado com os avós do autor), de um pintor eslovaco que nasceu no final do século XIX, no império Austro- Húngaro, que emigrou para os EUA e voltou a Bratislava e que, por causa do nazismo, teve de fugir para debaixo de um lava-loiças.




 Efectivamente em 1940, os avós de Afonso Cruz acolheram em casa, na Figueira da Foz, um pintor eslovaco. Temendo as rusgas da polícia política a meio da noite, colocaram-no a dormir por baixo do lava-loiças, atrás da lenha. «Julgo que todos nós, olhando para a vida dos nossos antepassados, encontramos histórias que dariam histórias», lembra Afonso Cruz. Isto é, histórias verdadeiras que se podem transformar em literatura. Neste caso, o acto de coragem dos avós, ao esconderem um refugiado que lhes entrou um dia de rompante na loja de fotografia, levou-o a escrever “O PINTOR DEBAIXO DO LAVA LOIÇAS”, um romance muitíssimo inventivo e bem escrito – AFONSO CRUZ já me tinha surpreendido muito positivamente com o magnífico “os livros que devoraram o meu pai”, que vos aconselho vivamente. Para este “o pintor debaixo do lava loiças” dou-lhe 3,5 (interessante).



 


Estamos no início de Fevereiro e é com um dos meus escritores preferidos que viajo para a América do Norte mais profunda quando, no início da década de 1950 a poliomielite era uma doença praticamente fatal. Implacável, chegou inclusive a vitimar o presidente americano Franklin D. Roosevelt, mas atingia sobretudo crianças. Quando não levavam à morte, os efeitos eram devastadores, entre eles a paralisia nos membros e a dificuldade extrema para respirar, a ponto de obrigar os pacientes a utilizarem os temidos “pulmões de aço". Pois é com “NEMESIS” que PHILIP ROTH que fico a conhecer, Eugene “Bucky”, 23 anos, cantor, professor de educação física e inspector de pátio de uma escola judaica de Newark, vive uma vida pacata, porém é atormentado pelo facto de não poder lutar na guerra ao lado de seus contemporâneos, em razão de sua miopia fortíssima. Tudo muda num dia de verão de 1944, quando um grupo de adolescentes encrenqueiros de ascendência italiana aparece no colégio e cospe no chão, ameaçando a todos com uma doença terrível. Logo depois do incidente, vários alunos contraem poliomielite, para desespero do professor. É este o ponto de partida para mais um excelente livro deste grande escritor norte-americano.

 
Nêmesis integra uma tetralogia de novelas formada também por Homem comum, Indignação e A humilhaçãoNa escrita poderosa de Roth, há poucas chances de o herói sair vitorioso. Dou-lhe um 6 (excelente) na minha escala de pontuação que vai de 1 a 7.




Para a semana continuarei na América profunda, com “Ferrugem Americana” com Philip Meyer (38 anos) que me trouxe à memória a escrita realista americana de Steinbeck, um escritor que na minha adolescência me encantou e que aconselho vivamente, nomeadamente o extraordinário "As Vinhas da Ira", o memorável "A leste do paraíso" e todos os romances deste grande autor (Prémio Nobel).



 






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