terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

LEITURAS 2016 - VII - "PRIMEIRA PESSOA" - PEDRO MEXIA


Não o conheço pessoalmente mas gosto de Pedro Mexia, especialmente do que escreve, sejam livros, sejam crónicas em jornais ou revistas, e este "PRIMEIRA PESSOA", que reúne as crónicas publicadas na (creio que extinta) revista Grande Reportagem entre Novembro de 2003 e Dezembro de 2005, foi outro dos seus livros de que gostei. Pedro Mexia parece-me um dos jornalistas mais honestos intelectualmente que conheço e estas crónicas, que assumem, muitas delas, confissões íntimas, parecem comprovar isso mesmo.

Gosto especialmente das suas observações sobre livros e sobre escritores:  

-"Os livros são possessivos e ciumentos. Detestam vida social, namoradas, vizinhos, detestam cães, gatos. Os livros querem o seu reino absoluto sobre os metros quadrados todos disponíveis e mais alguns que se inventem. Os livros vão ficando em monte, em pilha, em coluna, vão sendo propriedade vertical, dominam tudo e tudo é seu domínio...

-"Céline (um dos modelos de Lobo Antunes) era um fulano intragável. Thomas Bernhard, o austríaco que escreveu "O Sobrinho de Wittgenstein era um energúmeno. Céline e Bernhard eram pessoas detestáveis; rancorosos, mesquinhos, intoleráveis..."

-"Victoria Becham confirmou que nunca leu nenhum livro. Nem um. Houve quem se escandalizasse com essa confisssão obscena. Não percebo porquê....."

-"Há um certo totalitarismo dos leitores face aos que não lêem que tem aspectos detestáveis. Os leitores tratam os outros como gentalha. E dizem sempre que quem não lê "não sabe o que perde".....Não há nenhuma razão para que os letrados se achem acima dos outros, e consideram o seu gosto como gosto universal...."  


Pedro Mexia, nasceu em Lisboa em 1972

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