quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

LEITURAS 2015 - LIII (53) - "NÃO SE ENCONTRA O QUE SE PROCURA" - MIGUEL SOUSA TAVARES


Sempre vi na pessoa de Miguel Sousa Tavares, um homem coerente, de carácter e verticalidade; contudo, ultimamente já o "apanhei" nalgumas contradições, nomeadamente naquelas em que os seus interesses poderão estar em jogo, que me levam a pensar que afinal as tais qualidades que eu retinha poderão assim deixar muito a desejar...

É de MIGUEL SOUSA TAVARES o livro que acabei de ler (penso que seja o último que escreveu) "NÃO SE ENCONTRA O QUE SE PROCURA". 

É um livro biográfico, uma mistura de textos muito diferentes, num registo diário em que há de tudo pois nele se fala de viagens, de escritores (Stevenson, Hemingway, E.T.Lawrence, Hugo Pratt (Corto Maltese)), de situações que, no a dia que, a todos nós se nos deparam. 

Aqui explana as suas paixões (o prazer de fumar, o F.C.Porto, a caça, os passeios todo o terreno, os locais onde gosta de se refugiar, seja no Brasil, seja  no Alentejo, em suma, a boa vida -quem não gosta?-).




Não deixa também de abordar os seus ódios de estimação (a nouvelle cuisine -essa moda realmente grotesca-, o Facebook e demais redes sociais, as revistas cor-de-rosa, os não fumadores, ou melhor o fundamentalismo dos não fumadores, só não fala do seu anti-sportinguismo fundamentalista que semanalmente passa ao papel (quase destilando ódio) no jornal A Bola, às terças-feiras).

O registo diarístico, acompanha as estações do ano e não deixam de ser interessantes as suas reflexões pessoais sobre o dia a dia.

De MST apenas não li "Rio das Flores" e "Madrugada Suja" e este livro (mediano) parece querer confirmar (me) que MST será afinal escritor de um livro só-EQUADOR-, já que os restantes são realmente medianos, exceptuando talvez o "SUL" que é um bom livro de viagens. 
Mas é um grande jornalista

domingo, 27 de dezembro de 2015

LEITURAS 2015 - LII (52) - "CONTA CORRENTE - nova versão III" - VERGÍLIO FERREIRA


Vergílio Ferreira apenas considerava como diários verdadeiramente publicáveis os primeiros cinco volumes do conta-corrente, estes (da nova série) eram os restos esquentados, como ele dizia.

E efectivamente os volumes desta nova série (já li os dois anteriores) não me têem agradado do mesmo modo, nem chegam aos calcanhares dos primeiros cinco, parecem realmente os restos esquentados de uma comida muito saborosa.   

E este III, referente ao ano de 1991, foi o que menos me agradou. Mas penso completar brevemente a leitura de todos os volumes deste registo diarístico. Falta-me apenas ler o volume IV desta nova versão, referente ao ano de 1992. 

Vergílio Ferreira morreu em 1996 com 80 anos.    

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

LEITURAS 2015 - LI (51) - "ELOGIO DO SILÊNCIO" - MARC DE SMEDT


O silêncio pode ser uma mais valia em muitas situações, mas existem outros momentos em que o silêncio se pode revelar verdadeiramente negativo.

"ELOGIO DO SILÊNCIO" fala-nos dos estudos do silêncio, da linguagem dos olhos, da linguagem dos pássaros, dos momentos em que os silêncios são de ouro.

Não sou um grande leitor deste tipo de livros que se poderão inserir nos livros o tipo de auto-ajuda, contudo são livros que nos trazem sempre alguns ensinamentos, como afinal nos trazem todos os livros.     
Neste, por exemplo, encontrei alguns provérbios que, sobre o silêncio, se referem nos vários países:

-França - "o silêncio é de ouro"
-Alemanha - "cala-te ou diz qualquer coisa melhor que o silêncio"
-Israel - saber calar-se é mais difícil que falar bem"
-Itália - "aquele que nada sabe, sabe o suficiente se souber manter-se em silêncio"
-Roménia - "o silêncio também é uma resposta"
-Espanha- "perceber ver e calar-se, senão a vida torna-se amarga"
-Dinamarca - "aquele que quer economizar deve começar pela sua boca"
-Turquia - "a boca do sábio está no seu coração, o coração do tolo está na sua boca"
-China - "existe aquele que falou toda a sua vida e nada disse, e aquele que não chegou a abrir a boca e apesar disso nunca ficou sem nada dizer"
-Japão - "as palavras que jamais foram pronunciadas são as flos do silêncio" 


MARC DE SMEDT- editor, escritor e jornalista francês, n. em 1946

sábado, 19 de dezembro de 2015

MENSAGENS DE NATAL E DE ANO NOVO

sms substitui o velho e educado cartão enviado pelo correio
Miguel Sousa Tavares é uma personagem que ouço e leio sempre com interesse e curiosidade; nem sempre concordo com todas as suas opiniões mas algumas parecem-me muito bem expostas e analisadas. Por exemplo, no livro que dele estou actualmente a ler ("Não se encontra o que se procura") achei oportunos alguns conselhos práticos aos viciados em mensagens de Natal e Ano Novo que, nesta altura, enviam por telemóvel para tudo e para todos esquecendo que no resto do ano nem um segundo pensaram na grande maioria desses destinatários:

1-evite mandar uma mensagem igual para todos os contactos do seu telemóvel. A mensagem ou é personalizada ou não vale nada  

2-Assine sempre a mensagem. Metade das mensagens que eu recebo não sei de onde vêem pelo que não respondo porque não sei quem é; claro que o remetente fez figura de urso pois nem chega a saber se a mensagem foi recebida.

3-Quando assinar, assine só com o seu nome; não assine nunca com o nome da família toda. Mais do que foleiro é cómico receber mensagens "da família Costa", "da família Antunes". Questiono-me eu- será do António Costa? será do Lobo Antunes?

4-Resista a armar-se em escritor: "só há Natal quando verdadeiramente o sentimos na alma" , "desejo-te um ano de felicidades e de euros". Fique-se pelo clássico "Feliz Natal e Ano Novo". Pode não ser muito imaginativo, mas, pelo menos, tem a certeza de que não será gozado.

5-Não mande mensagens de paz e amor àqueles cujo destino lhe é absolutamente indiferente ou àqueles a quem deveria estar atento ao longo do ano e não esteve. O Natal não pode servir de pretexto para um exercíco de hipocrisia e bons sentimentos à revelia do resto do ano. Acredite que as pessoas não se deixam enganar e que percebem que o único sentimento que o motiva é ficar bem na fotografia.      

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

LEITURAS 2015 - L (50) - "DA CIDADE NERVOSA" - ENRIQUE VILA-MATOS


Gosto destes livros, com crónicas relatando situações das vidas de escritores mais ou menos famosos abordando algumas situações muito interessantes. "DA CIDADE NERVOSA" relata algumas situações curiosas e pouco conhecidas, nomeadamente aquela relacionada com o suicídio de Hemingway.

Fiquei também a saber que o melhor relato que Enrique Vila-Matas leu na vida foi "Luvina" de Juan Rulfo, uma viagem ao centro da tristeza, uma excursão ao local onde os dias são tão frios como as noites e o orvalho gela no céu antes de chegar a cair sobre a terra. Luvina é o lugar onde mora a tristeza, não há uma árvore nem nada verde para repousar a vista, tudo está envolto numa névoa cinzenta. Acrescenta outros contos seus preferidos:

-"Uma alma de Deus" - Flaubert
-"Um gato sob a chuva" - Hemingwhay
-"Um dia perfeito para o peixe banana" - Salinger
-"Os mortos" - James Joyce
-"O Aleph" - Jorge Luís Borges
-"Ionich" - Tchecóv
-"A condenação" - F. Kafka
  

É um livro interessante pelo tema abordado, apesar de não ser dos melhores que li deste autor espanhol.
Enrique Via-Matas - nascido em Barcelona em 1948



domingo, 13 de dezembro de 2015

PROJECTOS/DESAFIOS


Há palavras que aplicadas em determinadas situações me fazem pensar (por vezes sorrir). DESAFIO e PROJECTO são duas dessas palavras quando aplicadas em determinados contextos.

Por exemplo, quando alguém que, depois de mil currículos, arranjou um novo emprego (ordenado mínimo) e vai portanto iniciar uma nova vida, num novo trabalho, me diz:- aceitei este desafio porque me parece um projecto aliciante. 

E fico a pensar (sorrindo): será  que se não fosse um projecto e um desafio aliciante preferiria continuar desempregado?
Como diria um meu ex-colega de trabalho - conversa de ervanária...

E lá me questiono eu mais uma vez: terá isto a ver alguma coisa com o facto de o mundo (neste caso a língua portuguesa) estar sempre em mudança, ou será apenas um modo e uma nóvel maneira de (tentativa de) auto-valorização ou será antes o fruto da iliteracia que se tem instalado na mente dos portugueses?



quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

LEITURAS 2015 - XLIX - "A ILHA DE CARIBOU" - DAVID VANN


Um casamento de mais de mais de duas décadas, completamente à deriva, um casal virado do avesso. 

Quando ainda criança. Irene vê o cadáver da sua mãe pendurado numa trave da sua casa. O suicídio da mãe irá marcar a sua vida e dos que a irão rodear ao longo da mesma.

Quando Gary, marido de Irene pretende, após ambos estarem reformados, cumprir um velho sonho (construir uma cabana nas margens de um largo gelado e inóspito do Alasca), começa a tormenta que irá destruir a vida deste casal.    

É um livro duro, um livro pesado sobre a complexidade das relações humanas, sobre a solidão e a complexidade de um casamento longo, e muito longe de ter sido um casamento feliz. 

Gostei, embora por vezes as descrições sejam demasiado lentas o que conduz a um certo arrastamento na leitura. Não deixa contudo de ser um bom livro. Não vou aconselhar nem desaconselhar porque isto de se aconselharem livros é muito subjectivo dado que ninguém pensa do mesmo modo e nem todas as pessoas vêem as coisas pelo mesmo prisma; eu gostei, embora não seja do melhor que li ultimamente, em bom português: -assim assim-.

Não posso deixar de realçar a excelência dos livros desta editora (Ahab Edições), são magníficos, livros que apetece ler, que apetece tocar, que apetece transportar. Quem gosta de livros sabe do que estou a falar.  

David Vann, n. Alasca 1966

sábado, 5 de dezembro de 2015

PARA UM MUNDO MELHOR?



Li esta semana nos jornais que Mark Zuckerberg o fundador do Facebook (e detentor de uma das maiores fortunas do mundo) se comprometeu a pôr o equivalente a  99% das acções do Facebook (cerca de 42 mil milhões de euros ao valor actual) nos cofres de uma empresa de responsabilidade limitada (uma organização qual instituição de caridade) com o objectivo de promover o potencial humano e a igualdade.

Há quem diga (li na mesma imprensa) que será mais um inteligente processo de fugir a impostos e investir capitais através de outras organizações.

De qualquer modo, questiono-me eu, na minha ignorância: -será mesmo esta uma forma de se tornar o mundo melhor e mais igual? 






quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

O CHOCALHO - PATRIMÓNIO MUNDIAL


Bater recordes para o Guinness parece estar a passar de moda, não havia papalvo que se prezasse, que não tentasse ter a maior salsicha, engolir de uma só vez o maior número de hamburgueres, ter a maior chouriça, expelir o maior quilo, comer o maior número de francesinhas, possuir o maior penico e por aí fora, uma autêntica alienação nacional, reveladora da actual menoridade mental portuguesa.

Agora é a febre de ser reconhecido como Património da Humanidade; depois do fado e do cante agora foi a vez do chocalho ir lá fora suplicar a benção. 

Vangloriam-se os papagaios dos jornais, das rádios e das televisões (agora dizem os media) que é bom para o turismo...ainda gostava de saber o que é que (depois de concedida a benção) o chocalho irá contribuir para o aumento do turismo. 

É a alienação deste Portugal cada vez menor, sem identidade (agachado e de cócoras), assustadoramente carente de ser reconhecido fora de casa.

Segue-se o badalo...