quinta-feira, 30 de abril de 2020

"COMO UM ROMANCE" - DANIEL PENNAC - LEITURAS 2020 - XII

Como Um Romance - Livro De Bolso

"Como um Romance" - delicia-nos a contrariar todas as ideias feitas sobre o prazer de ler e sobre os valores da escrita.

É sublinhado neste livro delicioso, de capítulos curtos e de apenas 180 páginas, que a leitura deve ser um prazer e os leitores de hoje têm de usufruir de alguns direitos inalienáveis.

A profunda originalidade de "Como um Romance" está na forma ao mesmo tempo muito divertida e muita séria com que o autor aborda a questão central de que dependem tanto o destino do livro como o destino da cultura e da educação. 

Claro que muito haveria para dizer sobre o viciado em livros, que não só gosta de livros como os admira na estante, folheia-os com regularidade, obviamente que, como dizia Eduardo Prado, certamente mais de 70% dos livros que possui ainda os não leu. 

O viciado em livros, normalmente possui vários exemplares de vários títulos, adora falar dos livros que acaba de ler. 

Mas nem só de livros vive o bibliófilo, ele também junta marcadores de livros, não os colecciona, junta-os. 
O bibliófilo adora fazer listas, dos livros lidos, dos livros não lidos, dos que pretende adquirir, mas fica muito chateado quando começa a ler um livro no qual depositava muitas expectativas e o não consegue acabar largando-o com a intenção de mais tarde o recomeçar (o que raramente acontece).

Eis, segundo Pennac, em matéria de leitura os direitos do leitor:
  1. O direito de não ler
  2. O direito de saltar páginas
  3. O direito de não acabar um livro
  4. O direito de reler
  5. O direito de ler não importa o quê 
  6. O direito de amar os "heróis" dos romances
  7. O direito de ler não importa onde
  8. O direito de saltar de livro em livro
  9. O direito de ler em voz alta
  10. O direito de não falar do que se leu
É um livro para todos os que gostam de ler e também para os que não gostam!


Daniel Pennaccioni, Pennac, romancista | Trocando em Miúdos
Daniel Pennac - Casablanca-Marrocos  1948


sublinhei:

-(pág.56)   -   geralmente conseguimos mais depressa e com mais garantias, o que não nos apressámos em obter.



3,5 - interessante

0 - li, mas foi zero
1 - desisti
2 - li, mas não me cativou
3 - razoável
3,5 - interessante
4 - bom
5 - muito bom
6 - excelente
7 - obra prima

terça-feira, 21 de abril de 2020

MARYA UMA VIDA - JOYCE CAROL OATES - LEITURAS 2020 - XI


Xis.pt

Poucos se podem igualar a esta escritora americana em intensidade, profundidade e paixão. Esta é uma qualidade, um dom que sempre me maravilhou nos seus livros.

Um fatídico incidente, nunca completamente esclarecido, deixa Marya orfã de pai e desamparado face ao comportamento irresponsável de uma mãe alcoólica que depois a abandona. Este acontecimento converte-se num ponto de referência fundamental na vida de Marya: nada será jamais tão intenso como a força dessa recordação.

Adoptada pelos tios, irá crescendo com ela uma aguda consciência de hostilidade do mundo, a violenta e marcante iniciação sexual (forçada) com o seu primo Lee.

O reencontro com a mãe muitos anos mais tarde, surge a Marya como um ponto aberto à esperança, um desafio inevitável, o risco que tem de correr para conseguir libertar-se dos seus conflitos interiores  —este reencontro, para grande pena minha, é assunto que, penso eu, deveria ser abordado com mais intensidade e não ao de leve como realmente aqui acontece —  

Romance de carácter marcadamente autobiográfico, Marya Uma Vida (1986) é uma comovente recapitulação da história de uma verdadeira heroína dos tempos modernos, de uma infância humilde e obscura até à sua consagração como intelectual brilhante.

Aquilo de que mais gosto nesta escritora está neste livro, já que Joyce Carol Oates envolve-nos no seu universo particular de uma América povoada de monstros, alucinada pelo sangue, pelo crime e pela rejeição. Este clima das gentes da profunda América é fascinante.

Joyce Carol Oates - grande escritora!

Joyce Carol Oates - Joyce Carol Oates promove "Palavras do autor para viver perto" de CAROLEE
Joyce Carol Oates - Lockport - Nova Iorque  1938

retive:

 (pg. 214) - "Sabiam, por exemplo, que a mulher de Freud, Martha, era uma dona de casa e do marido tão compulsiva, tão atenta ao seu génio a ponto de lhe pôr todos os dias a pasta de dentes na escova"



3,5 - interessante

0 - li, mas foi zero
1 - desisti
2 - li, mas não me cativou
3 - razoável
3,5 - interessante
4 - bom
5 - muito bom
6 - excelente
7 - obra prima

sábado, 11 de abril de 2020

"TEMPO DE CATANAS" - JEAN HATZFELD - LEITURAS 2020 - X

Tempo de Catanas - Livro - WOOK


Entre Abril e Julho de 1994, foram massacrados no Ruanda 800.000 tutsis —homens, mulheres e crianças — retalhados até à morte, uma a uma, pelos hutus.
Foi um genocídio que seguiu uma estratégia delineada ao pormenor.

Representando cerca de 15% dos ruandeses, os tutsis foram favorecidos pelos colonizadores belgas e dominaram até à independência em 1962. Depois, os hutus procuraram sempre controlar o poder, tendo de enfrentar no início da década de 1990 uma guerrilha tutsi que os desafiava e foi essa guerrilha que depois (da matança) conseguiu derrotar os genocidas.

Neste livro, o jornalista e repórter de guerra Jean Hatzfeld, dá a palavra a um conjunto de assassinos hutus que tentaram exterminar os seus compatriotas tutsis. E são os mecanismos deste genocídio que o autor nos revela. São os relatos sobre o que se passou na cabeça dos homicidas durante as poucas semanas em que decorreu o genocídio.

Em depoimentos alucinantes, nas suas próprias palavras, homens vulgares contam a banalidade de um impensável horror, confrontando o leitor com a inexplicável violência de que o ser humano é capaz.

Estes depoimentos foram recolhidos na prisão, procurando o autor as raízes desse genocídio nas palavras dos executantes do crime. Já condenados e nada tendo a perder estes falam livremente das razões que os levaram a matar de forma sistemática, um a um, os vizinhos, os antigos colegas de escola, aqueles com quem partilhavam o trabalho e inclusivamente a mesma religião católica.

Uma lição de história sobre a barbárie que decorreu no nosso tempo.

Um livro alucinante. 


   Jean Hatzfeld, de retour au Rwanda aux côtés d' Engelbert - A l ...



Anotei:

(pg. 164)  -  há actos por causa dos quais somos condecorados, e formos os vencedores, e enviados para o cadafalso, se formos os vencidos.


3,5 - interessante

0 - li, mas foi zero
1 - desisti
2 - li, mas não me cativou
3 - razoável
3,5 - interessante
4 - bom
5 - muito bom
6 - excelente
7 - obra prima



sexta-feira, 3 de abril de 2020

"ALGUMAS DISTRACÇÕES" - FRANCISCO JOSÉ VIEGAS - LEITURAS 2020 - IX


Algumas Distracções - Livro - WOOK


Francisco José Viegas é o actual director da revista LER.
É jornalista, colunista de diversos jornais e revistas.
É um homem culto, escreve bem e eu gosto de o ler.

"ALGUMAS DISTRACCÕES" é uma colectânea de textos provenientes dos blogs AVIZ, entretanto encerrado, e A ORIGEM DAS ESPÉCIES.

São pequenos (e atraentes) textos de coisas gerais, por ordem alfabética de acordo com o tema abordado, seja matéria literária, política, futebol ou outras distracções quotidianas. 

Interessante, fácil de ler e, sobretudo, fala de muita coisa, isto apesar de alguns temas, nomeadamente do futebol, poderem estar ultrapassados e certamente só do gosto de quem se interessa pelas coisas da bola.

Dentre muitos outros fala-se de Álvaro Cunhal, Apito Dourado, Arrastão de Carcavelos, Barry White, Cavaco, Cesariny, Dinis Machado, Einstein, Figo, Gerações, Harold Bloom, Idiotas, James Joyce, Laranja Mecânica, Naide Gomes, Optimismo e muitos mais assuntos interessantes. 

Crónicas de Francisco José Viegas: Maio 2007
 
Li e anotei:

(pg. 92)  -  Há uma diferença entre conhecimento e informação. 


(p.191)  -  compreender não é concordar, tal como discordar não significa não compreender.



3,5 - interessante

0 - li, mas foi zero
1 - desisti
2 - li, mas não me cativou
3 - razoável
3,5 - interessante
4 - bom
5 - muito bom
6 - excelente
7 - obra prima