domingo, 27 de março de 2011
RÁDIO/A ILHA DOS TESOUROS
Os campeões mundiais de Hóqueis em Patins em Montreux, o Alves Barbosa e o Pedro Polainas, da Volta a Portugal em Bicicleta, os leões Vasques e o Travassos dos Cinco Violinos, Marino Marini, Alberto Ribeiro, Joselito, Maurice Chevalier, Amália Rodrigues, o inesquecível João Villaret, os discos pedidos no programa do Artur Agostinho "O que deseja Ouvir" as paródias do Zequinha e Lelé, o problemático casal de namorados interpretado por Vasco Santana e Irene Velez no programa de Igrejas Caeiro, "Os Companheiros da Alegria", "A Parada da Paródia" dos Irmãos Ruy e José Andrade, que mais tarde se transformará nos Parodiantes de Lisboa, etc. etc., são sons que ainda conservo no sub-consciente.
Eu e a minha mãe ouvíamos diariamente (num melodioso e divino silêncio) os sons que ainda agora nos acompanham, como se lêssemos um livro, como se viajássemos num zepelin, como se se navegássemos num mar azul e calmo.....tempos puros, tempos com luz, tempos com sons e com cheiros....enfim, tempos diferentes, tempos com tempo!
A rádio sempre foi uma paixão, muito mais do que a televisão.
Vem isto a propósito dum programa que passa na Antena 1, todos os sábados, entre as 8h00 e as 9h00 da manhã. É A ILHA DOS TESOUROS, do Júlio Isidro. Uma verdadeira pérola, tanto pela música que passa como pelos textos que o Júlio Isidro vai lendo, uma autêntica maravilha.
Apesar da hora tão matinal (para um sábado) tento não perder um, porque é como se o ouvisse naquele rádio da minha infância.
Já aqui falei neste blogue sobre a admiração que tenho pelo profissional que é Júlio Isidro, um autêntico homem da rádio, uma pequena maravilha num país que julgo não o merecer. Como é possível programar-se este TESOURO para as oito horas da manhã dum sábado, em que àquela hora a maioria das pessoas ainda estará a descansar; o “rei verde” deu cabo disto tudo…. os tempos são mesmo diferentes.... (para o melhor e para o pior, claro).
Se puderem não percam e oiçam este belo programa que é A ILHA DOS TESOUROS, vale bem a pena.
terça-feira, 22 de março de 2011
POR ONDE ANDEI EM 2010 - VIII
O rei e a rainha de Flandres tentam há anos produzir um herdeiro, inutilmente. Fazem suas preces. Finalmente a rainha dá à luz um casal de gêmeos, mas não sobrevive ao parto. "Nós nascemos da morte", dirá o irmão à irmã, anos mais tarde, ao seduzi-la.Os gêmeos crescem e, com a morte do pai (que por sua vez já nutria sentimentos incestuosos em relação à filha), não resistem mais ao desejo que sentem um pelo outro.
A irmã fica grávida do irmão e dá à luz um menino.
O irmão, ao mesmo tempo pai e tio da criança , sai pelo mundo em busca de penitência e morre. A criança é jogada ao mar num barril, acaba sendo salva por pescadores e é criada por um abade numa ilha remota.
Aos dezessete anos, ao descobrir sua verdadeira origem, o rapaz, agora chamado Gregório, sai à procura dos pais, com a idéia fixa de poder perdoá-los para também encontrar a salvação. .........
Recuo mais uns anos, ao princípio do séc. XX. e vou "aterrar" numa pequena localidade dos EUA, WINESBURG, OHIO e com SHERWOOD ANDERSON (na foto) fico a conhecer Winesburg, Ohio, um vivo retrato de uma pequena povoação da América profunda, aonde Sherwood me apresenta o jovem George Willard, um repórter do jornal local a quem os habitantes da povoação confidenciam as suas esperanças, sonhos e medos e fico a conhecer a vida íntima de figuras estranhas e comoventes marcadas pelo desassossego e pela solidão.
Viver nesta localidade é como olhar os quadros de Edward Munch que são autênticos retratos da classe média norueguesa na viragem do século IXX/XX; fixem bem O GRITO (na foto) e o que ele esconde -a pressão ou torsão psicológica sob a aparência social. Este quadro é verdadeiramente assombroso. Ainda não não há muito tempo andou desaparecido, roubado em Agosto de 2004 do Museu Munch, em Oslo, mas já recuperado.
Viajo depois até à Finlândia e, de novo, com ARTO PASSILINNA fico a conhecer AS DEZ MULHERES DO INDUSTRIAL RAUNO RAMEKORPI, das quais não retenho mais do que as suas solitárias vidas neste misterioso e nebuloso país.
Ainda com o calor de Agosto, às portas de Setembro, é com RICHARD ADAMS que passo tardes inteiras a ouvir a sua história ERA UMA VEZ EM WATERSHIP DOWN - história de um bando de coelhos que escapam à destruição da sua comunidade, e das tribulações e triunfos que viveram face a extraordinárias adversidades ao aventurarem-se em busca de um novo lar.
Entra Setembro e FERNANDA PRATAS relata-me A VIDA DAS PALAVRAS e curiosamente, muitas das personagens que me são apresentadas morreram do coração. Atravessaram guerras, abraçaram ideais, revoltaram-se, participaram, desiludiram-se. De uma forma ou de outra, os seus percursos atormentados aproximaram-nas do essencial. Pude segui-los linha a linha nos livros e documentos que deixaram. Por exemplo, Patricia Highsmith associava a escrita ao prazer, que incluía também cigarros, café, bolinhos. Charles Dickens estabeleceu para si uma disciplina rígida, separando as intensas horas a escrever dos momentos de lazer com que tentava apaziguar demónios interiores. Alberto Moravia começou por escrever na cama, com o tinteiro aninhado sobre os lençóis. Sommerset Maugham trabalhava de preferência diante de uma parede branca. Marina Tsvetaeva escrevia a qualquer mesa, em qualquer lugar. Tal como John Steinbeck, que chegava a trabalhar dez horas por dia numa escrivaninha qualquer. Isaac Asimov matraqueava as teclas da sua máquina de escrever a uma velocidade imbatível, desde madrugada até à noitinha. Fiódor Dostoiévski até numa prisão na Sibéria tomou notas que depois converteu em romance. E Oscar Wilde escreveu também na prisão, entre trabalhos forçados.
Setembro está quase no fim, as chuvas estão a chegar, é tempo de demandar outras paragens e percorrer meio mundo e viver as aventuras de um Indiana Jones português, conduzidos pelo médico Adolfo Correia Rocha (não é este o nome com que assina os seus livros e pelo qual se tornou um autor de grande dimensão na literatura portuguesa já que o nome que adoptou é presudónimo, facto que, se calhar, muitos dos seus leitores desconhecerão) .
Até breve
quinta-feira, 17 de março de 2011
TELE/JORNAIS
Efectivamente, ver, dia após dia, o telejornal é meio caminho andado para o desespero e para a depressão ….....isto sem exagero, é mesmo um autêntico massacre. Só falta o telejornal ter um comentador de economia a abrir a emissão diariamente: Medina Carreira.
Claro que não se poderá meter a cabeça na areia, nem passar a assobiar prós lados e fingir que nada se passa, mas o exagero terá certamente limites; é que há vida para além da crise.
Há que reagir, não se pode ficar amorfo (veja-se o que referiu o XL num seu comentário aqui neste blogue (SOLIDÃO), muito a propósito, por sinal) e esperar que o mundo nos caia em cima….ou será que aquela frase que costumava ouvir até há uns tempos atrás, com alguma regularidade, nomeadamente a certos intelectuais -SOMOS UM PAÍS DE BRANDOS COSTUMES-, e que, sinceramente, nunca consegui perceber bem o sentido nem a sua verdadeira aplicação, será, dizia eu, que esta frase (SOMOS UM PAÍS DE BRANDOS COSTUMES) terá mesmo algo de concreto e verdadeiro……
sábado, 12 de março de 2011
SOLIDÃO
É preciso levantar a cabeça, como dizem, depois duma derrota, os jogadores de futebol, e pensar, reflectir sobre esta gente que nos "governa" e quer "governar"....gente que nos explora em todas os sentidos, não só económica mas sobretudo na vertente moral e até espiritual. Gente que nos quer "despir" de todos os sentimentos nobres que o nosso povo ainda, não há muitos anos, possuía, e de que ainda conservamos alguns resquícios.
Ouvíamos e líamos nos jornais que as pessoas lá fora morriam nas ruas e ninguém sequer se dignava olhar para elas (como no gueto de Varsóvia), mas isso acontecia lá longe do nosso país, mas agora este "american way of life" já tomou conta da nossa terra e vai ser difícil arredar das nossas gentes estes novo hábitos, trazidos com a globalização, e que a todo o custo nos querem impôr.
Que maior prova de solidão e que maior prova do que são os tempos (gélidos) que vivemos do que aquela senhora ali para os lados de Mem Martins que só a fim de nove anos depois de morta foi descoberta e tendo a seu lado o seu único amigo, que nunca a abandonou - o seu cão-!
Os três últimos casos da morte de idosos em casa, e só descobertos muitos anos depois é sintomático desta maldita globalização (em todos os piores sentidos) que tomou conta das nossas gentes.
Solidão não é viver num monte longe da "civilização", solidão é viver numa cidade de milhões, rodeado de pessoas por todos os lados mas em que ninguém repara, solidão é viver num prédio de cinco/seis/sete andares onde ninguém se conhece, onde quase que nem os bons dias as pessoas dão quando entram num elevador. Quantas vezes eu entro num qualquer elevador da cidade de Lisboa, ou arredores, digo bom dia e tudo fica mudo e como siderado a olhar para mim (certamente a questionar-se - será um Marciano???)
Esta desumanidade que parece ser irreversível é obviamente preocupante e todos já pensámos certamente que um dia nos poderá tocar; a qualquer um......
segunda-feira, 7 de março de 2011
POR ONDE ANDEI EM 2010 - VII
Tal como no nosso Alentejo, também na Finlândia o suicído é como que um desporto. É isso que compartilha comigo o finlandês ARTO PASSILINNA n UM APRAZÍVEL SUICÍDIO EM GRUPO e me apresenta Onni Rellonen, um pequeno empresário em crise que decide acabar com a vida. Mas eis que, quando, de pistola no bolso, se aproxima de um celeiro isolado, local ideal para uma morte tranquila, depara com uma estranha cena, e, no último momento, consegue salvar um outro candidato ao suicídio já com um nó corrediço apertando em volta do pescoço. É o coronel Kemppainen, um inconsolável viúvo que escolhera igualmente aquele luminoso solstício para pôr fim à vida. Acabam por encontrar o local ideal em Portugal, uma falésia junto à Fortaleza de Sagres.
Com o prémio Nobel de 1929, THOMAS MANN n O ELEITO, fico a par da refundição da lenda de São Gregório, o Édipo cristão, outrora fixada por Hartmann von Aue numa epopeia medieval. Nascido do incesto, recai no pecado como no vício, e após longa penitência chega a Papa.
E já vai o ano de 2010 para além do terceiro terço quando regresso aos princípios do séc. XX e me apresso a viajar para Ohio (EUA) mas disso vos darei conta na próxima etapa deste longo balanço. Isto se ainda não se aborreceram e tiverem pachorra para comigo viajarem no tempo e pelo mundo, conhecendo novas mentes, novas caras, novos caminhos, novas gentes.
quarta-feira, 2 de março de 2011
BAIRRO DO BOSQUE
Perdi o rasto à maioria destes meus amigos de infância/pré-adolescência: o treinador (à civil) não faço a mínima idéia por onde pára, destes apenas sei que o Pica (o 1º. da esquerda, em baixo) ainda mora na Rua Pedro Franco, o Mário (será Mário o seu nome?) que se lhe segue (em baixo) também não sei aonde pára; o Mário, se bem me lembro, foi um dos primeiros empregados do Café Zorba (Bairro do Bosque), pois creio ter entrado quando ele foi inaugurado, o terceiro sou eu (com 14/15 anos). Os três amigos de cima também lhes perdi o rasto, ao António, logo a seguir ao treinador, sei que andou pelos Parques Mayer´s e que foi um homem da noite mas nunca mais o vi, depois o Agostinho irmão do guarda redes (o Zé Caro sei que foi para a Força Aérea) mas também não sei onde param.
Seria bom revê-los, saber notícias deles, quem sabe se passados mais de 40 anos eles me irão aqui rever e deixar notícias....