Estes diários (vols. V e VI) foram escritos entre Abril de 1949 e e Maio de 1953, já lá vão portanto cerca de 60 anos e, no entanto, continua a ser uma leitura actual porque a mestria, o saber e o génio dum grande escritor estão aqui presentes, todos os dias.
Nestes diários tomo sempre muitas notas, por exemplo, esta, muito curiosa:
- um escritor como Eça de Queiroz, o mais púdico dos nossos artistas — tão púdico que até as inofensivas intimidades da sua vida cobria dum véu literário—, não teria dito tudo? Ficaria dele algum segredo escondido? Alguém precisa ainda de saber mais?
- o homem que não se revolta não cria. Puxa o carro da rotina.
- (falando - em 1951- de um leitor, seu doente-); -um homem capaz ainda de se debruçar sobre um poema, atento e enlevado horas a fio. A vida levou nos seus braços velozes a calma dos dias passados, que dava para fazer passeios, pelos campos e pelos livros. Agora reduziu tudo ao essencial, ao caldo e às batatas, e só verdadeiros heróis, sujeitos deformados e anacrónicos, têm necessidade de ler e meditar. Por isso é preciso acarinhar estes fenómenos. E não tanto pela arte, que, afinal, se não é precisa não tem nada que fazer no mundo, mas por eles, que são doentes diferentes, condenados paladinos duma causa perdida.
- ninguém faz inteiramente o que quer, diz tudo o que pensa, ou pensa exactamente como procede.
- a nossa velhice é que envelhece as coisas.
Miguel Torga, pseudónimo de Adolfo Correia da Rocha - 1907-1995 - era médico; ainda conheci o seu consultório na baixa de Coimbra, creio que num segundo andar, mesmo em frente ao antigo BNU e muito perto da estação dos caminhos de ferro.
Miguel Torga - 1907-1995 |
nota 4 - bom
0-li, mas foi zero
1-desisti
2-li, mas não me cativou
3-razoável
3,5-interessante
4-bom
5-muito bom
6-excelente
7-obra-prima
7-obra-prima
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