Quando ontem me desloquei ao cemitério da Amadora, tive a felicidade de observar uma cena que paradoxalmente me paralisou e me marejou os olhos: deitado junto à campa do dono estava um cão que ali se mantinha e ladrava a quem se aproximava do dono; foi uma cena que me comoveu e que cimenta ainda mais o meu amor pelos animais; os seus latidos mais pareciam lamentos e choros de não ver fisicamente o seu dono.
Não sei se se chamaria Argus mas fez com que me lembrasse de Ulisses que, depois do longo exílio, volta a casa (à sua ilha de Ítaca) disfarçado de mendigo sendo reconhecido apenas por Argus, o seu cão, já bem velho, sem forças para fazer mais do que abanar o rabo ao reencontrar o dono. Ulisses então chora, e as lágrimas provocadas pela saudação de Argus dão a medida da cumplicidade que infelizmente apenas parece possível entre cães e homens.
Uma cena inesquecível ao olhar a tristeza daquele animal que não voltará a sentir a alegria de ser acarinhado pelo dono, não mais pode correr em volta dele para o levar a passear.
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