Que me lembre ainda só tinha lido dois livros de Miguel Torga ("O Senhor Ventura" e "Os Bichos").
Este "Diário Vols. I e II" foi o último livro que li em 2015.
Miguel Torga era o pseudónimo literário do médico Adolfo Correia da Rocha, natural da aldeia de São Martinho da Anta, concelho de Sabrosa, em Trás-os-Montes. O nome resulta da homenagem a dois grandes vultos da cultura ibérica (Miguel de Cervantes e Miguel de Unamuno); torga é uma urze que sobrevive entre as fragas das montanhas.
Com os seus diários (volumes I e II) retomei agora a leitura deste grande escritor português.
O Diário I diz respeito ao período de 1932-1941, e o Diário II referente a 1941-1943. Gosto destes diários em que os autores não abordam unicamente o que se passa no seu dia a dia mas que nos vão também falando das várias situações da vida com que se vão deparando, situações inesperadas que lhes surgem diariamente.
Miguel Torga, tal como o faz Vergílio Ferreira, relata-nos muito bem essas várias situações, as tristes, as absurdas, enfim, as suas opiniões, sábias e curiosissimas e sempre reveladoras de grande sapiência que constituem um grande ensinamento.
Curiosas as suas abordagens a alguns livros e a alguns escritores, por exemplo: - "Uma vida" de Guy de Maupassant -um assombro, a cena do velório. Mas este Maupassant era mau aluno. Ouviu as lições de Flaubert, ouviu, e ficou-se na sua -génio- E com ele escreveu os seus eternos contos, a rir-se dos romances de Zola, de Balzac, e até do próprio mestre, excluindo Madame Bovary, claro está.
Miguel Torga, depois de frequentar o Seminário no Porto, abala para o Brasil em 1920, aos treze anos. Sua puberdade decorre em Minas Gerais, numa fazenda -a Fazenda de Santa Cruz- onde um irmão do pai lhe ministra alguns conhecimentos e a esposa deste o humilha, movida pela desconfiança de vir Miguel Torga a ser o herdeiro do tio, em prejuízo dos filhos do primeiro matrimónio dela. Atrás das vacas, guardando os porcos da fazenda, acarretando água, fazendo recados, pode-se dizer que tem uma sorte madrasta. Um dia o tio descobre que sua mulher maltrata Miguel Torga e para o afastar dela manda-o estudar. Estamos em 1924. No ano seguinte, Miguel Torga volta para Portugal; o tio, como pagamento de cinco anos de serviço, pagar-lhe-à o curso superior em Coimbra.
Poeta e prosador, foi várias vezes candidato ao Prémio Nobel da Literatura, apresentando a sua obra um forte carácter humanista
Miguel Torga 1907-1995
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