E é já nos fins de Março que me cruzo com o grande autor checoslovaco Milan Kundera (em cima) e nele sinto a sua apaixonada defesa pela arte numa era que, segundo o autor, não valoriza a arte e a beleza. Com a cativante mistura de emoções e pensamento presente nos seus romances, Kundera revisita artistas cujas obras permaneceram importantes ao longo da sua vida: reflecte sobre a pintura de Francis Bacon, a música de Leos Janacek, os filmes de Federico Fellini e os romances de Philip Roth, Fiódor Dostoievski e Gabriel García Márquez. Aproveita também para fazer justiça a Anatole France e Curzio Malaparte, que considera serem grandes escritores caídos na obscuridade.
É neste "Um Encontro" que, com Milan Kundera, se cruzam as suas reflexões pessoais e histórias de vida com os temas da memória e do esquecimento, a vivência do exílio e a defesa da arte modernista.
E em Abril, pela mão ROMAIN GARY com "UMA VIDA À SUA FRENTE, sinto o pulsar do bairro pobre de Bellevile, nos arredores de Paris, e através da narração de Mohammed, um rapaz árabe de 14 anos, órfão, que ali vive com Madame Rosa, prostituta reformada e sobrevivente de Auschwitz, sou transportado para os pequenos pormenores que, na lufa-lufa do nosso dia a dia, apesar de sabermos que as coisas acontecem, que o mundo é muito cruel, acabamos por “fingir” que não é bem assim, que tudo se vai resolvendo.
A velhice, a eutanásia, a prostituição, todas as vítimas dela, nomeadamente as crianças, são temas fortes, tratados com muito realismo, também poesia e ternura. As repetições de situações limite que nos são apresentadas, reforçam sempre os temas, tão pesados, que uma criança é capaz de vivenciar, com coragem e tanto amor. A forma como os velhos são tratados no mundo civilizado (?!), a solidariedade daquela gente que colaborava com o pequeno Momo para que surgissem algumas soluções, a teimosia da madame Rosa em não querer ir para um hospital para os cuidados continuados, e o esforço do jovem para cumprir esse seu desejo.E assim vou passando pela vida aprendendo com quem sabe e conhecendo vidas tão dolorosas, estradas tão pedregosas que, de qualquer modo, continuo a calcorrear neste mês de Abril, a caminho de Inglaterra para mais uns tempos de vagabundagem e já tenho encontro marcado com um bem célebre vagabundo. Até lá...
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