domingo, 8 de junho de 2014

Ó PRIGA



Foi o próprio autor que me ofereceu este agradável e bonito livrinho (que bonita capa), depois de o meu amigo António Luiz Pacheco mo ter recomendado e de a ele se ter referido muito positivamente num extraordinário blogue.

Foi uma excelente surpresa, muito agradável pois é um livro que fala das pessoas e como falam as pessoas do nosso Portugal, nomeadamente duma região em especial (Ribatejo), e fala das pessoas como ainda não tinha lido, apesar de muito jovens autores portugueses o terem feito ultimamente, mas como não o conheceram, falam daquelas pessoas como alguém que se mudou da cidade para um monte alentejano e ali se puseram a escrever um livro.

Entre "Cós e Alpedriz" é um romance através do qual ouvimos o sino da aldeia que é uma marca das nossas vilas e aldeias da primeira metade do século XX, e ouvimos também o galo cantar quando nos despertava, a nora a rodar e a chiar, para além de outros sons que todos aqueles que viveram estes tempos reviverão com agrado e certamente alguma nostalgia.

E é principalmente através de Joaquina Guiomar Afonso, a protagonista (excelente, mulher de armas como sempre foram as mulheres portuguesas, uma personagem muito forte, uma grande criação do autor) pois é através dessa forte protagonista que esse tempo histórico, que vai da Primeira República aos anos após a revolução de Abril, nos é retratado e nos são mostradas e recordadas as grandezas e misérias duma vida rural e humilde que percorre quase todo o século.

É uma escrita transparente, em que me soube muito bem recordar a linguagem das nossas gentes (quantas vezes eu não ouvi a minha tia -da minha mulher- num monte do Ribatejo chamar "ó priga" quando queria chamar alguma rapariga por perto).

É um romance contagiante e que li num ápice.

Por exemplo sempre ouvi falar de Stª. Bárbara quando chovia ou trovejava mas não conhecia o que passo a reproduzir:

Sta.Bárbara bendita
que nos céus está escrita
a papel e água benta
levai para longe esta tormenta  
para onde não haja garfo nem colher
nem vaca nem vitelo
nem homem nem mulher

Obrigado José Catarino


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