Do Miguel Real já tinha
lido “O ÚLTIMO NEGREIRO” um livro que me tinha “vacinado” contra este autor,
pois “O ÚLTIMO NEGREIRO” foi (para mim) uma chatice de todo o tamanho principalmente depois
de ter lido “O VICE REI DE AJUDÁ” do Bruce Chatwin sobre a mesma personagem que
foi o último português mercador de escravos que quando
morreu, em 1857, deixou sessenta e três filhos mulatos e um número desconhecido
de filhas cuja progenitura, cada vez mais escura, hoje incontável como
gafanhotos, se estende de Luanda ao Chiado.
Mas este “O FEITIÇO DA ÍNDIA” é um belo romance, que conta a história de
três portugueses, pertencentes à mesma árvore genealógica, e a sua presença
indiana, em diferentes momentos da nossa história. Começamos em Lisboa com José
Martins, salvo da forca no último instante e que parte como “degradado” na
armada de Vasco da Gama, onde se torna num médico imprescindível, apesar de não
ser diplomado. É ele o primeiro português a pisar solo indiano, numa viagem de
prospecção onde uma vez mais consegue fintar uma morte que para muitos seria
certa.
Há também a história de Augusto Martins, o único português não
luso-indiano que decidiu permanecer em Goa após a invasão das tropas indianas
quando corria o ano de 1961.
E, por último, seguimos os passos do narrador
desta história, descendente de José Martins e filho de Augusto Martins, que
após o reatamento das relações entre Portugal e a União Indiana parte para a
Índia à procura do seu pai, remetido a um silêncio eterno desde que havia
deixado a pátria lusitana.
Das 381 páginas apenas me faltam cem mas desde já realço que esta é uma obra bela e cruel, ousada e sensual e que
vos aconselho vivamente.
Miguel Real |
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