Violante tinha desde criança o sonho de representar, e será com a ajuda de Luís Henrique, um grande actor com quem acabou por casar, que se viria a tornar numa das actrizes portuguesas mais aplaudidas do início do século XX, depois de aos 15 anos ter abandonado a sua pequena aldeia onde deixou destroçado o seu pai (viúvo inconsolável e já com a tuberculose a minar-lhe o corpo).
É a história de Violante mas a história de Rodrigo, o seu filho morto nas trincheiras da I Guerra Mundial, não é menos apaixonante. Rodrigo nunca chegou a conhecer a mãe já que esta o deu a uma outra família para o criar. Será no funeral do seu filho que Violante virá a descobrir no jazigo de família as cartas que este teria escrito ao seu grande amor, enquanto permaneceu nas trincheiras. Um livro que tem um começo brilhante:
“Nas trincheiras os homens andam sempre enregelados e sujos. Não há sujidade mais impertinente do que a lama que transforma a pele e os uniformes numa massa castanha e enrugada. Os soldados nunca levantam a cabeça nestas geleiras sombrias, inclinam-na apenas, embrulhados em mantas encharcadas. O tamanho do mundo está assim reduzido aos túneis escavados nas entranhas da terra, nos quais mal se respira e cujas fronteiras são definidas por sacos de areia. A vida prossegue dentro destas tocas. Ninguém precisa que lhes digam quem são, nestas circunstâncias, os animais acossados.” (pág. 79).
A SEGUNDA MORTE DE ANNA KARÉNINA é um romance sobre o amor sem limites, a traição e os custos da vingança - e também uma obra arrojada sobre as vidas desperdiçadas de tantos portugueses na Primeira Guerra Mundial e sobre as diferenças - se é que existem - entre o teatro e a vida real.”
ANA CRISTINA SILVA, mais uma jovem escritora portuguesa a que irei estar atento.