quarta-feira, 6 de abril de 2011

POR ONDE ANDEI EM 2010 - IX

Estamos em Outubro (2010). conheço o Dr. Adolfo Coelho da Rocha, que se consagrou na literatura portuguesa com o pseudónimo de MIGUEL TORGA (na foto, de guarda chuva), e é com ele que vivi, por volta de 1940, as aventuras de um Indiana Jones português na China. Efectivamente é com o SENHOR VENTURA, um português de Penedono, uma aldeia do abrasador Alentejo, que na aventura da sua existência deixa para trás os seus pais, a sua casa, que percorro meio mundo. Retomo à I Guerra Mundial e assisto, com REBECCA WEST, a O REGRESSO DO SOLDADO, vindo da linha da frente, com um trauma que lhe varreu a memória dos últimos quinze anos, e encontra as mulheres do seu passado.Uma delas é Kitty, a sua mulher, fria, elegante e bela. Outra, a sua dedicada prima, Jenny, que nunca chega a admitir que está apaixonada por ele. A terceira é Margaret, o seu primeiro amor e que é agora uma mulher maltratada pela vida, de modos quase rudes e corpo pesado. Lembra-se da prima como amiga de infância, não tem qualquer memória da esposa e está ligado à sua juvenil paixão por Margaret WALTER HUGO MÃE (em duplicado, na 2ª. foto), o escritor português (de Caxinas) que escreve só em minúsculas e me mostra A MÁQUINA DE FAZER ESPANHÓIS, e a primeira máquina com que me deparo é um lar de idosos, com o habitual nome eufemístico – Lar da Feliz Idade – e uma espécie de funcionamento para a morte. O número de residentes é fixo (93), as camas só vagam quando alguém morre, e por isso impera uma rotatividade que começa com a entrada para um dos melhores quartos (em frente ao jardim onde passam crianças) e termina na ala esquerda (com vista para o cemitério, em mórbida antecipação do fim).É a este mundo opressivo que chega, ainda atropelado de dor pela morte da mulher (Laura), o protagonista principal: António Silva, 84 anos, antigo barbeiro com problemas de consciência que nem o tempo foi capaz de sarar. Ele de início recusa a vida colectiva da casa, mas depois integra-se num grupo de homens palradores, quase todos partilhando o seu apelido, portugueses de gema que passam os dias a discutir justamente o que é isto de ser português, sobretudo quando todos levaram com quase meio século de fascismo em cima. Sigo depois para a República Dominicana para me encontrar com um dos seus mais jovens escritores, EDUARDO HALFON que, com O ANJO LITERÁRIO, faço uma pesquisa apaixonante sobre a literatura e o processo criativo dos autores. e o próprio processo da sua escrita. Através d O ESPELHO QUE FOGE pertença de GIOVANNI PAPINI fico a saber que:

-o segredo da vida está na morte -o segredo da luz está nas trevas -o segredo do bem está no mal -o segredo do sim está no não Deixo Itália e percorro novos caminhos que me levarão a procurar uma agulha num palheiro nas longínquas paragens dos EUA mais precisamente para Cornish, uma localidade com cerca de 1 700 habitantes, situada nas margens do rio Connecticut, tem duas mercearias, um posto de correio, uma igreja e vários quilómetros de pinheiros, carvalhos, terra arável e colinas suaves.

Há muito que é um reduto de férias para artistas e escritores, um refúgio solitário no meio da floresta mas isso fica para a próxima, de modo a continuarmos a procurar uma agulha num palheiro com esse solitário J.D. Salinger, recentemente falecido.

7 comentários:

  1. A minha homenagem à sua grandeza de poeta e humanista,que sempre mostrou as dificuldades rurais, das vidas deste nosso povo, nunca descurando a preocupação dos valores da substência através da produção tirada da terra.

    Frustração

    Foi bonito
    O meu sonho de amor.
    Floriram em redor
    Todos os campos em pousio.
    Um sol de Abril brilhou em pleno estio,
    Lavado e promissor.
    Só que não houve frutos
    Dessa primavera.
    A vida disse que era
    Tarde demais.
    E que as paixões tardias
    São ironias
    Dos deuses desleais.

    Miguel Torga, in 'Diário XV'

    Um abraço do jrom

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  2. Os tempos são daqueles que pagam para que não se cultivem os campos. Uma forma atroz e calculada (pelos tais calculistas) do capitalismo selvagem apertar ainda mais o garrote a quem da terra vive.

    Obrigado jrom por esta FRUSTAÇÃO.

    Um abraço

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  3. Seve essa "FRUSTAÇÃO" é do "português do futuro".
    BOM FIM DE SEMANA.
    JROM

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Há dois anos fui, de propósito, a S. Martinho da Anta para "sentir" Miguel Torga. Fui a casa dele onde tirei várias fotos, mas o seu interior estava interdito aos olhos do mundo. A família não deixa ninguém nela entrar. Até o Presidente da Repúlbica teve alguma dificuldade em vistá-la.
    Depois fui ao cemitério que fica na parte traseira da Igreja e não consegui encontrar a sua campa. Já vi uma foto da sua campa onde também se encontra sepultada a sua mulher Renee, falecida alguns anos mais tarde e também já vi fotos duma campa rasa apenas com uma cruz e um arbusto (torga) ao lado.
    O cemitério é minúsculo mas nem assim encontrei a campa.
    Torga era uma pessoa muito díficil mas muito humana.
    Do escritor já não falo, pois é o seu lado mais conhecido.

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  6. jrom, na FRUSTRAÇÃO foi mesmo um lapso de escrita; por acaso creio não ser o português do futuro.....

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  7. Citar Miguel Torga, na nossa Cultura…, passa muito ao lado…, dos Temas preferidos, que deveriam passar, nas nossas comunicações oficias-sociais, é um negativo grandioso…, mas com o "famoso" Carlos…, este continua a ser debatido com frequência, atendendo à sua “grande” amplitude…
    Só falta, é dar a uma Rua, em Portugal, o nome de Carlos….
    Que fazer….
    W

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