sábado, 16 de abril de 2011

O CÃO

O único ser que nunca a abandonou e decidiu morrer ao seu lado, foi o seu cão; este foi um facto que aqui já citado, quando abordei a SOLIDÃO. E é a propósito dos cães, mais precisamente sobre os cães na literatura, que hoje me proponho salientar algumas passagens de livros que falam sobre o fiel amigo (que bela e correcta designação). Na "ODISSEIA" de Homero (séc. IX-VIII a.c. ; "Odisseia" conta as aventuras do herói Ulisses, no seu regresso à ilha de Ítaca, depois de ter corrido o mundo) Ulisses, depois do longo exílio, volta a Ítaca disfarçado de mendigo, e é reconhecido apenas por Argos, o seu cão, já bem velho, sem forças para fazer mais do que abanar o rabo ao reencontrar o dono. Ulisses então chora, e as lágrimas provocadas pela saudação de Argos dão a medida da cumplicidade que parece possível apenas entre cães e homens. Nem mesmo Posêidon, com a sua fúria e poder, havia conseguido fazê-lo chorar. O belga Maeterlink (1862-1949), dramaturgo, poeta e ensaísta de língua francesa, e principal expoente do teatro simbolista: “Ele é o único ser vivo que encontrou e reconhece um deus incontestável, tangível, irrecusável e definitivo. Ele sabe a quem dedicar o melhor de si, sabe a quem se dar acima de si mesmo. Ele não precisa buscar uma força perfeita, superior e infinita nas trevas, as mentiras sucessivas, as hipóteses e os sonhos”. Napoleão (1769-1821), no "Memorial de Santa Helena", conta que percorreu um campo de batalha em Itália do qual os mortos ainda não haviam sido retirados. Um cachorro está ao lado do cadáver de seu dono, geme, lambe-lhe o rosto. "Nunca nada, em nenhum dos meus campos de batalha, me impressionou tanto", declara Napoleão, que afirmou, aliás, que a morte de um milhão de homens não era nada para ele. "Eu havia, sem emoção, ordenado batalhas, que deveriam decidir o futuro do exército; havia visto, com o olho seco, serem executados movimentos que levariam à perda de muitos entre nós; e aqui eu ficava emocionado, ficava perturbado pelos gritos e pela dor de um cão!...". O cão é uma personagem frequente nos romances de José Saramago (1922-2010). É o caso do cão que lambia as lágrimas no "Ensaio sobre a Cegueira" ou das aparições do vira-lata na "História do Cerco de Lisboa" como no trecho a seguir: "O cão não se movera, apenas deixara descair a cabeça, o beiço rente ao chão. As costelas salientes, como de cristo crucificado, tremem-lhe nos encaixes da espinha, este animal é um rematado idiota, com a teima de viver nas Escadinhas de S. Crispim onde tem passado fomes de rabo, desprezando as abundâncias de Lisboa, Europa e Mundo (...)". Não esquecendo o Nero dos "BICHOS" de Miguel Torga que entrava pela cozinha e se ia deitar, junto ao lume, entre os braços balofos da sua Dona Sância.......

7 comentários:

  1. Conheço muito bem, o que é receber incondicionalmente.
    O cão é sem dúvida, o mais digno amigo do homem.
    Só os detractores desta espécie, aplicam a teoria de, "quem não caça com cão, caça com gato" vale tudo.
    Só a dignidade deste animal permite tal injúria.
    Até na economia têm aplicado esta teoria.
    O resultado que temos é este.
    Quem não reconhece a espécie humana, provávelmente nem sabe que o cão existe.
    Bom fim de semana
    jrom

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  2. O GRANDE Victor Hugo em poucas palavras disse tudo sobre este digno animal:

    O cão é a virtude que não podendo ser homem se tornou animal.

    Um abraço.
    Almeidinha

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  3. Muita pena tenho por não ter um cão. É um animal fabuloso. Só lhe falta falar. E em fidelidade não há igual.
    Tomara o homem ser dono de tal dom.

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  4. Cão, é o Melhor Amigo do Seu Dono, e mesmo este depois de sepultado, o Seu Melhor Amigo, o visita onde se encontra depositado, enquanto poder.
    Tenho um Cão, embora o verdadeiro dono, é a minha Filha, mas o “Pobre”, não fala, como todos os outros, mas nós Humanos, compreendemos perfeitamente o nosso Cão, o qual se explica perfeitamente, o que quer, qual a sua razão menos boa, e tudo o que Ele quer, basta, aos Humanos estarem atentos, pois as suas expressões, os seus “choros”, como uma criança, explicam perfeitamente o que querem, como também manifestam as suas alegrias, com uma dinâmica impressionante. São “animais”, que se apercebem com maior rapidez e restante, de qualquer problema, que se possa vir a passar na Terra, como também, são Eles, que sabem avisar os que os rodeiam, Pessoas, se alguém está a ficar doente, ou tem necessidade de qualquer socorro ou similar, Fantásticos, os Cães. Só quem tem Animais, deste tipo, sabem quanto vale ter um companheiro, como os Cães.
    W

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  5. Ó caro Amigo Almeidinha, realmente só Victor Hugo conseguiria meter o Rossio na Rua da Betesga.

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  6. Mais actual, Marley e eu, de John Grogan, é um livro que ilustra bem a relação entre um cão e uma família. Adaptado também ao cinema, aconselho a lerem o livro pois é de facto divinal.

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  7. Obrigado pela oportuna sugestão amigo Carlos.

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