"Calcula-se que no dia 11 de Setembro de 2001, perto de 200 pessoas tenham saltado das torres gémeas. Um dos caídos, pelo menos, não era suicida -ou, se quisermos, não era um suicida óbvio- mas um homem que tentara descer do 90º. andar da Torre Norte. De fato e gravata, começou por agitar o casaco, pedindo ajuda, como se a urgência de ser socorrido não fosse evidente à vista de todos. Depois, com o auxílio de algo que parecia ser uma corda, ousou a descida. Ao fim de poucos segundos, o pé falha o parapeito, o homem desequilibra-se, cai no vazio. Aquilo que o fez julgar que seria capaz de descer de uma altura de centenas de metros com o auxílio de uma simples corda revela um desespero tão profundo como o daqueles que voluntariamente se lançaram do alto das Torres Gémeas. Nas filmagens, vemos braços a agitarem-se freneticamente ; e pessoas debruçadas às janelas, com quase todo o corpo do lado de fora. Quatro delas tentariam escalar o edifício, acabando por cair. Talvez para se encorajarem mutuamente, alguns saltaram aos pares e até em grupo, de mãos dadas. Houve quem tentasse utilizar pára-quedas improvisados, feitos de cortinas, toalhas de mesa ou peças de roupa entrelaçadas que se desfizeram em breves instantes de voo. Alguns, muito poucos, terão tropeçado e caído por acidente, enquanto caminhavam no interior do edifício entre escombros cortantes e densas nuvens de fumo negro. Outros terão sido projectados através das janelas em consequência de uma onda de calor superior a seiscentos ou mesmo mil graus centígrados." (extraído da Revista Ler nº. 138).
"A MANHÃ DO MUNDO" o livro de estreia do jovem escritor português PEDRO GUILHERME-MOREIRA é precisamente uma história sobre os que, no 11 de Setembro, saltaram das Torres Gémeas. Gostei, um bom romance sobre o medo e a coragem, o desespero e a lucidez, a culpa e a expiação.
É talvez um livro triste mas que nos permite pensar sobre a vida e sobre certas situações que criticamos sem saber concretamente dos factos que as geraram, como seja o facto de vilipendiar quem por desespero e pânico saltou das Torres Gémeas; como é possível alguém criticar semelhante acto em tais circunstâncias?
Pedro Guilherme-Moreira - 1969 Porto |
Este ("A MANHÃ DO MUNDO") é o segundo livro que leio sobre o 11 de Setembro um tema sobre o qual gostaria de saber mais do que efectivamente creio nos tem sido dado a conhecer. O outro livro que li sobre o tema ("102 Minutos"), foi escrito por dois jornalistas do "New York Times" (Jim Dwyer e Kevin Flynn) e é também excelente pois serve-se de uma enorme variedade de fontes -desde testemunhos directos a registos de telefonemas, e'mails, etc.-).
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