1898 - 1974 |
Ferreira de Castro é talvez dos escritores portugueses mais esquecidos, um homem que acrescentava ao seu grande valor literário o seu grande valor humano. Uma obra que comparo à de um grande escritor norte americano, prémio Nobel da literatura em 1962, John Steinbeck.
Um grande romancista português que viveu uma existência dramática, num tempo dramático e num contexto em que a condição humana se viu particularmente humilhada.
"OS FRAGMENTOS", o livro que acabo de ler é disso um bom exemplo.
"OS FRAGMENTOS" de FERREIRA DE CASTRO reúne três contos e um romance "O INTERVALO", escrito em 1936 mas que, por motivos relacionados com a censura, só foi publicado em 1974 após a sua morte.
"O INTERVALO" relata a luta empreendida pelos operários espanhóis, na busca de uma melhoria geral de vida durante o pequeno período que durou a república espanhola e nele se revela toda a crueza e o sofrimento de um povo acontecidos durante a Guerra Civil Espanhola, uma guerra de uma crueldade absoluta.
"HISTÓRIA DA VELHA MINA" um dos outros três contos incluídos neste livro, é um excelente e real retrato do que foi a Mina de São Domingos (no Baixo Alentejo) nos primórdios da exploração da mina.
Sem dúvida que Ferreira de Castro descreve muitíssimo bem o que foi o sofrimento dos mineiros naquelas deploráveis condições de trabalho de quase absoluta escravidão.
Também os patrões e empregados ingleses da mina são muito bem retratados na sua absoluta sobranceria, altivez e desprezo (característica inglesa) vivendo como que num mundo à parte no mais opulento e luxuoso dos mundos (nem a piscina faltava nas suas moradias) perante a miséria das gentes e famílias a quem exploravam e que, na mesma terra, passavam as maiores necessidades e sacrifícios, cujas casas, apesar de serem cedidas pela mina (e publicitadas aos quatro ventos com uma grande benesse) tão pequenas eram que nem janelas tinham.
Também o Natal em Ossela, terra onde nasceu Ferreira de Castro, está muito bem descrito na crónica "A ALDEIA NATIVA".
Um bom livro de um grande escritor português, hoje, repito, infeliz e injustamente esquecido, mas que vale a pena conhecer.
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