De outro modo, já me aconteceu muitas vezes partir para a leitura de um livro, escolhido quase que ao acaso, sem qualquer expectativa e é aí que me têem surgido grandes revelações e é desses livros que me surpreenderam positivamente que hoje parto para uma abordagem, que tenciono continuar em próximos "capítulos".
E começo pelo excelente "A VIDA E O TEMPO DE MICHAEL K" de J. M. Coetzee.
Li este livro, publicado em 1983, alguns anos antes do autor ter sido laureado com o Prémio Nobel da Literatura, tendo, na altura, sido uma das tais surpreendentes descobertas. A edição que li é da excelente colecção "PRÉMIO NOBEL" que o Diário de Notícias lançou há alguns anos.
O autor, John Maxwell Coetzee, um descendente de colonos holandeses que se estabeleceram na África do Sul no século XVII, nasceu na cidade do Cabo em 1940. Licenciou-se em Inglês e em Matemática. Entre 1962 e 1965 viveu em Inglaterra, trabalhando aí como programador informático. Depois de passagens por instituições académicas inglesas e americanas, Coetzee fixou-se em 1972 como conferencista na Universidade da Cidade do Cabo, então exclusivamente para brancos. Com "A VIDA E O TEMPO DE MICHAEL K" (1983) e "DESGRAÇA" (1999) ganhou duas vezes o Prémio Bookeer. Em 2003 foi laureado com o Prémio Nobel da Literatura.
A mulher com quem casou em 1963 faleceu em 1991, apenas dois anos depois do seu filho Nicolas, morto aos 23.
O escritor descreveu-se a si próprio como uma criança enfermiça e devoradora de livros.
"A VIDA E O TEMPO DE MICHAEL K" - Numa África do Sul dilacerada pela contestação ao regime de "apartheid" Michael K - jovem jardineiro, simples de espírito, tenta fugir ao caos instalado na Cidade do Cabo, sonhando retirar-se para uma quinta no distrito de Prince Albert. O projecto de fuga tem como mentora a sua própria mãe, uma mulher doente que o filho carrega num carrinho improvisado durante a parte inicial do percurso. Até que ela morre. É assim, sozinho, criança grande largada à vida, que Michael K prossegue a jornada em direcção a esse destino mítico, lugar que, ele ainda não sabe, foi há muito subtraído à realidade. Pelo caminho sobrevive à fome e à repressão que se abate sobre ele, agarrando-se como um náufrago ao puro instinto da liberdade, certo de que sem ela definharia: "Porém, não conseguia imaginar-se a passar a vida a plantar estacas, levantar barreiras, dividir as terras".
Foi efectivamente um livro surpreendente dum autor que era na altura um absoluto desconhecido, pelo menos em Portugal.
E nos livros posteriores que li deste autor nunca me desiludiu. É um grande escritor!
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