BRUNO VIEIRA AMARAL é o autor dum livro que me ficou debaixo de olho mas que ainda não tive oportunidade de ler (Guia para 50 personagens da Ficção Portuguesa); entretanto, este veio parar-me às mãos e como fiquei com curiosidade de conhecer a sua escrita parti para a leitura do seu primeiro romance "AS PRIMEIRAS COISAS".
A acção deste livro decorre num bairro social, um bairro social situado na Margem Sul onde viveu e cresceu o autor.
Aquando do seu lançamento recordava o autor: Sendo apenas quem escreveu este livro, não posso ser culpado de alguns dos eventuais leitores da obra conhecerem os “pobres” só através do neo-realismo, dos noticiários ou de reportagens eivadas de boas intenções. Em todos estes casos mencionados, as pessoas são definidas pela condição sócio-económica, são “os pobres” e a quem as conhece desta maneira escapa o resto e o resto é o que me interessa. Garanto que, a mim, a nível literário, não me interessam particularmente os pobres, nem escrevi este livro para lhes dar voz – até porque os pobres não me passaram procuração – e espero que a minha voz seja verdadeira o suficiente para falar apenas por mim. O bairro que serve de cenário a este livro, a melancolia rude, por vezes, cruel dos nossos subúrbios, os estendais de gente mórbida, não são manifestos sociológicos ou políticos. Pelo contrário, não podia ser uma escolha mais egoísta e mais centrada nos meus interesses: é este o mundo que conheço melhor, o mundo que me exigia menos trabalho e menos imaginação para o recriar. É verdade que as pessoas que vivem em bairros como este são maioritariamente pobres ou vivem com grandes dificuldades mas quando vivemos com elas e partilhamos com elas essas condições, aos nossos olhos elas não se distinguem por isso. Num meio em que só haja brancos, ninguém se identifica como o “branco”.
Um bom livro que retrata um lugar perdido na Margem Sul do Tejo e que bem são retratados os brancos das barracas, os retornados, o inferno, os pretos, os ciganos, enfim personagens que tentamos ignorar mas que fazem parte do nosso universo.
Sem comentários:
Enviar um comentário