terça-feira, 31 de dezembro de 2013

O QUE ANDO A LER - A SEGUNDA MORTE DE ANNA KARÉNINA


Violante tinha desde criança o sonho de representar, e será com a ajuda de Luís Henrique, um grande actor com quem acabou por casar, que se viria a tornar numa das actrizes portuguesas mais aplaudidas do início do século XX, depois de aos 15 anos ter abandonado a sua pequena aldeia onde deixou destroçado o seu pai (viúvo inconsolável e já com a tuberculose a minar-lhe o corpo).

É a história de Violante mas a história de Rodrigo, o seu filho morto nas trincheiras da I Guerra Mundial, não é menos apaixonante. Rodrigo nunca chegou a conhecer a mãe já que esta o deu a uma outra família para o criar. Será no funeral do seu filho que Violante virá a descobrir no jazigo de família as cartas que este teria escrito ao seu grande amor, enquanto permaneceu nas trincheiras. Um livro que tem um começo brilhante:

“Nas trincheiras os homens andam sempre enregelados e sujos. Não há sujidade mais impertinente do que a lama que transforma a pele e os uniformes numa massa castanha e enrugada. Os soldados nunca levantam a cabeça nestas geleiras sombrias, inclinam-na apenas, embrulhados em mantas encharcadas. O tamanho do mundo está assim reduzido aos túneis escavados nas entranhas da terra, nos quais mal se respira e cujas fronteiras são definidas por sacos de areia. A vida prossegue dentro destas tocas. Ninguém precisa que lhes digam quem são, nestas circunstâncias, os animais acossados.” (pág. 79).


A SEGUNDA MORTE DE ANNA KARÉNINA é um romance sobre o amor sem limites, a traição e os custos da vingança - e também uma obra arrojada sobre as vidas desperdiçadas de tantos portugueses na Primeira Guerra Mundial e sobre as diferenças - se é que existem - entre o teatro e a vida real.”
ANA CRISTINA SILVA, mais uma jovem escritora portuguesa a que irei estar atento. 

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

SOBRE OS PORTUGUESES









Miguel Torga:
 
"Morro com duas convicções arreigadas, a de que não há terra mais bela do que a lusitana e outra tão infeliz"





quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

O QUE ANDO A LER - "O CÉU É DOS VIOLENTOS"


O Céu é dos Violentos

Já lá vão uns três/quatro anos que li o primeiro livro de FLANNERY O'CONNOR, “Um bom homem é difícil de encontrar”, (um livro de contos) e nessa altura fiquei de imediato arrebatado por escrita tão violenta e descrita com uma absoluta crueza e um intenso dramatismo. E desde logo foi uma escritora que passou a ser da minha inteira devoção. É uma escrita que nos envolve num ambiente de fanatismo religioso, com personagens a roçar a loucura, que quase nos deixa sem fôlego.

Flannery O’Connor é um dos nomes incontornáveis na literatura norte-americana do século XX. Descreve de uma forma absolutamente ímpar o mundo obscuro e absurdo do fanatismo religioso vivido nos estados do sul dos EUA dos anos 50 e 60.





"O CÉU É DOS VIOLENTOS"  é o segundo e último romance desta excelente escritora, que morreu jovem, em 1964, aos 39 anos, vítima de lupus, e conta a história do adolescente Francis Tarwater que ao ter sido raptado pelo seu tio-avô que se considerava profeta, poderia, deste modo, levar uma vida devotada a Nosso Senhor. Mas a loucura e o fanatismo destas duas criaturas era levada de tal forma em extremo que a educação deste jovem levou-o a cometer, sempre em nome de Deus, os actos mais ignominiosos e grotescos. Dá-nos ao mesmo tempo o retrato de uma comunidade, fechada, conservadora, profundamente religiosa, cega e louca.

Estou a gostar deste livro como, aliás, já tinha gostado imenso de todos os que já li de Flannery O'Connor, especialmente do excelente "Sangue Sábio" que recomendo.


quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

O QUE ANDO A LER - JOSÉ E PILAR



"JOSÉ E PILAR" - de Miguel Gonçalves Mendes - Depoimentos sinceros e comoventes sobre trabalho, arte, morte e, é claro, o amor de um pelo outro (Pilar del Rio/José Saramago).

José Saramago, Nobel da literatura, génio das palavras, mestre do texto, não foi um académico, nunca foi querido nem consensual, pode até dizer-se que dividiu a população portuguesa. Controverso, comunista, ateu. Não ganhou o Prémio Camões, o mais importante prémio literário da língua portuguesa porque mentes mesquinhas, mentes manipuladoras, mentes invejosas, mentes menores, marionetas políticos e religiosos não o deixaram (e eles andam por aí...).

Pilar del Rio é uma mulher forte, de opiniões e convicções fortíssimas, de grande sensibilidade e de uma enorme inteligência.

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Saramago escolheu Lanzarote, para se isolar daqueles que o rejeitaram e o empurraram para fora do seu país.
Pois foi ali, na ilha perdida das Canárias da Espanha inóspita, que MIGUEL GONGALVES MENDES recolheu os textos incorporados neste livro, durante quatro anos de convivência originando não só este livro mas também um filme com o mesmo nome, que, de algum modo, mostram a grandeza e a beleza deste homem.

Saramago, como alguem escreveu: "possui o cérebro na ponta dos dedos. Pinta palavras em ecrãs de computador com aquilo que sintetiza do mundo e diz possuir um rádio no lugar da cabeça".

Neste livro que ando a ler, só não me agradou que os depoimentos de Pilar del Rio estejam em castelhano (não gostei porque não domino totalmente a língua e poderá falhar-me muita coisa); é que isto não são propriamente conversas da treta e, nestas circunstâncias, todos os pormenores são importantes.


jose saramago
José Saramago  1922-2010


quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

MEMÓRIAS DUMA NOTA DE BANCO





 



Estaríamos para aí em 1970 e lembro-me perfeitamente de ver este escritor à espera do comboio na gare da estação do Metro de São Sebastião da Pedreira em Lisboa, ao fim da tarde, depois da minha saída do trabalho.
Vinha eu com um colega mais velho, que me perguntou: sabes quem é aquele senhor que tem um livro na mão? é o escritor JOAQUIM PAÇO D'ARCOS, e, disse-me o meu colega, li dele um livro que te aconselho "MEMÓRIAS DUMA NOTA DE BANCO" é muito "engraçado"; foi precisamente a palavra dele que retive até hoje, e nunca mais esqueci o livro, muito menos o título que, desde logo me pareceu muito sugestivo e muito apelativo.

Joaquim Paço d'Arcos - 1908-1979

Na semana passada, passava por um alfarrabista que tinha lá um monte de livros a € 1, e, como faço habitualmente, procurei se havia algum que me pudesse interessar e lá estava, velhinho, edição muita antiga, este que quase me fez recuar no tempo cinquenta anos.

É mais um que, na prateleira, está em fila de espera, mas há situações na vida que retemos para sempre e este conselho do meu colega foi finalmente concretizado.

Joaquim Paço d'Arcos, é um escritor muito interessante, que viveu muito tempo nos Estados Unidos, em África e no Extremo Oriente, e fala muito nos seus livros dessa vivência como também descreve muito bem a sociedade lisboeta da época.

Joaquim Belford Correia da Silva, conhecido como Joaquim Paço d'Arcos




É um escritor demasiadamente esquecido, num país que frequentemente cultiva o desleixo dos seus valores.