sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

POR ONDE ANDEI EM 2010 - VI

Junho (2010) já vai a meio, o calor aperta e nada melhor que conhecer mundo, Juan José Millás foi um belo cicerone mas JOSÉ RODRIGUES DOS SANTOS nas CONVERSAS DE ESCRITORES não deixa os seus créditos por mãos alheias e apresenta-me alguns dos seus colegas de ofício (Ian MCEwan, Luis Sepúlveda, Sveva Casati Modignani, Paulo Coelho, Miguel Sousa Tavares, Isabel Allende, Gunter Grass, Jeffrey Archer, José Saramago e Dan Brown) que para além das suas reflexões sobre a vida, o mundo e a escrita fico a saber ainda as histórias de bastidores destes encontros de José Rodrigues dos Santos com estes dez dos maiores escritores (vivos) da literatura universal contemporânea, para uma série de entrevistas na RTP em 2009.

Viajo depois no espaço e no tempo e desloco-me para o Haiti e fixo-me no séc. XVIII.

ISABEL ALLENDE (na foto) – n A ILHA DEBAIXO DO MAR centra-me no tema da escravatura - tema muito actual, considerando que ainda hoje existe em muitos países do mundo- E assim sou levado a participar nos acontecimentos que decorrem durante as quatro décadas da vida de Zarité (a voz de uma lutadora que não olha a meios para alcançar a liberdade).
Sob a égide da escravatura e da liberdade navego por mares do inconfundível realismo mágico e fico a conhecer a obra a vida dos escravos haitianos no século XVIII.
Entre plantações de cana de açúcar e uma vida de negros sem vida, fico submerso num ritmo de sensações (as deles) e sou transportados ao sítio onde convivem demónios, deuses, vivos, mortos, negros, brancos, a crueldade e ...a esperança.


Viajo depois para o gueto judaico de Varsóvia, Outono de 1940, quando os nazis encerraram quatrocentos mil judeus numa pequena área da capital da Polónia, criando uma ilha urbana cortada do mundo exterior. É RICHARD ZIMMLER n OS ANAGRAMAS DE VARSÓVIA que me conduz até aos recantos mais proibidos de Varsóvia e aos mais heróicos recantos do coração humano.

Com a psicóloga JOANA AMARAL DIAS fico a conhecer, através dos MANÍACOS DE QUALIDADE, a paranóia de Fernando Pessoa, o louco e arruaceiro rei D. Afonso VI que à noite se juntava à maior escumalha da época e saía à rua para agredir e maltratar quem encontrasse na sua frente, o psicopata e cineasta João César Monteiro, o tal que fez uma filme-subsidiado, de duas horas e tal com um pano preto a tapar a câmara, são portanto duas horas totalmente às escuras.....o Estado-limite de personalidade Marquês de Pombal, a pseudo-loucura de D. Maria I que se julgava oca por dentro e (ainda bem viva) se julgava a si mesmo morta há muito tempo, o delírio de Cotard a bipolaridade de Antero de Quental, a perturbação histrónica de Margarida Vitória e a esquizofrenia de Ângelo de Lima.

Viajando no tempo fixo-me em meados de mil e oitocentos e ANTONIO ORLANDO RODRIGUES dá-me a conhecer a liliputiana cubana CHIQUITA (26 centímetros de altura) que apesar da sua pequenez (ou talvez por isso) brilhou no vaudevile novaiorquino, parisiense e londrino. É uma vida cheia, de muitos amores, desamores, felicidades e traições.


Com IRVIN D. YALOM oiço MENTIRAS NO DIVÃ dissecar a complexidade das emoções humanas, estudando as delicadas fronteiras entre terapeuta e inquisidor, confidente e amante. Com este psicoterapeuta e professor de Psiquiatria na Faculdade de Stamford (USA) tomo conhecimento das acusações feitos a alguns terapeutas nos EUA, como por exemplo, àquele que dormiu com uma paciente (e cobrou-lhe) durante cada sessão, duas vezes por semana, ao longo de oito anos e a um outro pedopsiquiatra que foi apanhado num motel com uma paciente de 15 anos e que estava totalmente coberta com calda de chocolate.

E assim, conhecendo novas terras e novas gentes, o ano vai avançando ..........e eu a caminhar para uma Alemanha rural ............ tencionando depois voar para os EUA para uma breve conversa com um dos bons escritores do nosso tempo (Paul Auster, na foto). Até breve

sábado, 19 de fevereiro de 2011

CASTRO/SEABRA

Pessoa amiga enviou-me um texto delicioso sobre este caso ainda tão actual que não resisto a compartilhar com os meus amigos e por isso permito-me transcrever uma parte do mesmo, escrito pelo Dr. João Caupers, da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa:

- Não se lhe conhecia qualquer actividade social, intelectual, científica, artística ou política meritória ou, sequer, relevante. Era uma personagem medíocre, de cujo perfil apenas pude recolher dois traços, que alguma comunicação social considerou merecedores de referência: era homossexual e era "cronista social".

O primeiro traço deveria ser completamente irrelevante, já que emerge da liberdade de orientação sexual, que apenas a cada um diz respeito. Todavia, considerada alguma prosa que a ocasião suscitou, terá tornado a vítima mais digna de dó - vá-se lá saber porquê!

O segundo, considero-o pouco menos que desprezível: significa que a criatura "ganhava" a "vida" a escrevinhar coscuvilhices e a debitar maledicências, chafurdando nos dejectos dos socialites.


A viagem que o levou a Nova Iorque tinha um óbvio móbil "romântico", que a comunicação social preferiu apenas insinuar, não por pudor, mas porque a insinuação vende melhor do que a afirmação: tratava-se, simplesmente, de seduzir um jovem de 21 anos.

Quanto a este, também os seus motivos parecem evidentes: "pendurou-se" no idoso para, explorando as suas "inclinações", beneficiar dos seus supostos contactos internacionais, iniciando uma carreira no mundo da moda.

Estavam, pois, bem um para o outro.

Nada me interessam os pormenores abjectos que rodearam o assassinato. Deixo-os aos media, lambendo os beiços com a sordidez da história, muito melhor do que o criador de qualquer reality show poderia inventar.-

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

POR ONDE ANDEI EM 2010 - V

Depois de Isabela Figueiredo me ter revelado o seu Caderno de Memórias Coloniais, publicado quarenta depois do fim do Império, continuo hoje, em jeito de balanço, a desfiar o que, em 2010, calcorreei, quem conheci, enfim por onde andei, através dos livros que li.

Vamos a meio do ano e o escritor espanhol ENRIQUE VILA-MATAS no seu registo incomparável DIÁRIO VOLÚVEL conduz-me pela sua vida como se de uma magnífica ficção se tratasse. O humor e o insólito são, mais do que factos.

A norte-americana TONI MORRISON (Prémio Nobel da Literatura 1993-na foto de baixo-), leva-me com A DÁVIDA para a América do Norte nos finais do séc. XVII. Fala-me do racismo e das profundas divisões que, na altura, afectavam aquela parte do Mundo. Toni Morrison foi a primeira mulher negra a vencer o prémio Nobel da Literatura.


Viajo depois no espaço e no tempo, para o ano de 1883, para a paisagem fria e irreal do Inverno Islandês, e com SJÓN (islandesa nascida em Reiquiavique em 1962), seguimos o padre, Baldor Skuggason, na sua perseguição à enigmática A RAPOSA AZUL. E no momento em que o padre prime o gatilho somos transportados para o mundo do naturalista Fridik B Fririkson e da sua protegida Abba, que sofre de síndrome de Down. Quando ela foi encontrada acorrentada às vigas de um navio naufragado em 1868, Fridrik fora casualmente em seu socorro.


O espanhol JUAN JOSÉ MILLÁS diz-me que OS OBJECTOS CHAMAM-NOS – e passa por isso a apresentar-me mulheres grandes que sonham com homens pequenos. Manequins que transpiram. Frangos que chegam a casa do mercado, mas que nunca aparecem na mesa. Mentiras que se transformam em realidades inexplicáveis. Fósforos velhos que iluminam quartos antigos. Pequenos mal-entendidos que dão lugar a perguntas fundamentais... é este o mundo, entre o real e o onírico, que Juan José Millás me revela.

Estamos em Junho (2010), está calor, vou dar um mergulho....e preparar-me para aceder ao convite para uma bebida frequinha e uma breve conversa com dez dos melhores escritores actuais do universo....da qual vos darei conta em breve...até lá.....

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

COSTINHAS...

Alertado por um amigo vi/ouvi no início desta semana uma entrevista com o Director Desportivo do futebol do meu clube, o Sporting Clube de Portugal.

A dado passo desta entrevista, dizia muito realisticamente o antigo extremo direito do Benfica, o campeão europeu, Simões (depois de, muito tristemente..... ter vertido algumas lágrimas de crocodilo pela actual situação do meu clube) que em Portugal os jogadores de futebol não têm hipóteses como Directores Desportivos nos clubes de futebol.

Totalmente de acordo!


Claro que não têm, digo eu, nem terão se não arrepiarem caminho; é que os jogadores de futebol na sua quase totalidade, são de um baixissimo nível cultural, mesmo muito abaixo do nível do povo português (que já será baixíssimo), o que jamais lhes permitirá liderar projectos/homens, para além de treinador de campo. Alguém já viu um jogador de futebol (atenção de qualquer nacionalidade e não só português) a ler um livro, a folhear uma revista, um jornal (que não fosse desportivo), basta assistir à chegada aos estágios, de "phones" nas orelhas, de óculos escuros, seja de noite seja de dia (como as tias nos funerais), seja na rua seja no aeroporto, seja dentro do hotel e, quer se queira quer não, "analfabetos" só um, num milhão, terá o poder e o saber de chegar à liderança, porque todos os outros se limitarão a ouvir música (em altos berros) nos "phones" (letras que não percebem porque certamente não serão portuguesas ) e no Hotel, para além da Eurosport, vêm a TVI-a trave mestra da cultura portuguesa-!

E ouçam, escutem as declarações deles quando, depois dos jogos, questionados na "zona mista" respondem ao jornalista: - é preciso levantar a cabeça, amanhã é outro dia e já estamos a pensar no próximo jogo, é preciso levantar a cabeça, é preciso levantar a cabeça.........e o discurso não passa disto, nunca ouvi, mas nunca, ouvi dum jogador de futebol uma declaração com princípio meio e fim, com algo de imaginação, algo de diferente, é uma pobreza (para não dizer tristeza) total e completa!

Quanto ao director desportivo do meu clube, devo dizer que, apesar de pessoalmente não desgostar dele (sobretudo porque é Sportinguista (diz ele), apesar de quando jogador nunca ter manifestado esse seu sportinguismo.....), tenho algumas dúvidas quanto ao seu perfil para o cargo já que alguém que se rege e se afirma pelos Lamborghinis amarelos em que faz questão de se deslocar não será (julgo eu) sinónimo de capacidade moral/intelectual para liderar homens ou projectos (diz-me com quem andas dir-te-ei quem és) mas, retomando o fio à meada, quanto muito sinónimo de um novo riquismo que em determinadas situações não serão propriamente as mais aconselháveis....... e já agora, com tanta coragem na manga para arrasar na praça pública o seu clube de coração, poderia ter tido uma palavra acerca daquele que finalmente concretizou (durante o seu reinado) o que planeava há muito tempo, o "roubo" do capitão de equipa.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

POR ONDE ANDEI EM 2010 - IV

Retomando os caminhos percorridos em 2010, através dos livros que li, e depois de ter aprendido com Robin Sharma que é impossível progredir na vida se nos agarrarmos ao que já ficou para trás, não quis deixar de conhecer O PAÍS DO MEDO com o espanhol ISAAC ROSA (de óculos, na 2ª. foto) -um país que é um lugar imaginário onde se tornaria realidade tudo o que tememos; os medos actuais e conheci a delinquência, a droga, a falta de princípios nas cidades, etc. etc....

O italiano DINO BUZZATI (na 1ª. foto) mostrou-me O GRANDE RETRATO – e contou-me que o mandaram (a ele engenheiro) para um centro secreto sem lhe dizerem concretamente para fazer o quê, apenas que era uma missão secreta....

Voltei à fala com JOSÉ JORGE LETRIA para ouvir A ÚLTIMA VALSA DE CHOPIN - e deste modo fiquei a conhecer melhor Fréderic Chopin – um Polaco que fez toda a sua carreira fora do seu país, nomeadamente em França (Paris) aonde morreu vítima de tuberculose.

ISABELA FIGUEIREDO recordou-me no CADERNO DE MEMÓRIAS COLONIAIS uma história do colonialismo muito bem retratada, por alguém que nasceu em Moçambique e sentiu o que era ser "retornado" nos tempos revolucionários do PREC-pós 25 de Abril; relembrando que "Manuel deixou o seu coração em África. Também conheço quem lá tenha deixado dois automóveis ligeiros, um veículo todo-o-terreno, uma carrinha de carga, mais uma camioneta, duas vivendas, três maschambas, bem como a conta no Banco Nacional Ultramarino, já convertida em meticais. Quem é que não foi deixando os seus múltiplos corações algures? Eu há muitos anos que o substituí pela aorta." Moçambique e as feridas abertas pelo passado, pela recordação, pela confissão, pelo medo de enfrentar tudo isso de novo. "Ele sentia prazer em viver e gostava de comer, beber e foder, Lourenço Marques, na década de 60 e 70 do século passado, era um largo campo de concentração com odor a caril. Em Lourenço Marques, sentávamo-nos numa bela esplanada, de um requintado ou descontraído restaurante, a qualquer hora do dia, a saborear o melhor uísque com soda e gelo, e a debicar camarões, tal como aqui nos sentamos, à saída do emprego, num snack do Cais do Sodré, forrado a azulejos de segunda, engolindo uma imperial e enjoando tremoços. Os criados eram pretos e nós deixávamos-lhes gorjeta se tivessem mostrado os dentes, sido rápidos no serviço e chamado patrão. Digo nós, porque eu estava lá. Nenhum branco gostava de ser servido por outro branco, até porque ambos antecipavam maior gorjeta. O meu pai, a quem coube a missão de electrificar a Lourenço Marques dos anos 60, nunca quis empregados brancos, porque teria de lhes pagar os olhos da cara."

Vamos a meio do ano e eu a calcorrear o mundo, a conhecer novas terras, novas gentes, feitios, amores, desamores ..... que, para a semana, aqui continuarei a dar-vos a conhecer....